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14/05/2002 - 09h14

Soja transgênica se espalha pelo Brasil

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CÍNTIA CARDOSO
da Folha de S.Paulo

O cultivo de soja transgênica, apesar de ilegal, já é uma realidade nas lavouras brasileiras.

Segundo estimativas do engenheiro agrônomo Luiz Antonio Barreto de Castro, chefe da unidade de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) dentro de cinco anos a soja transgênica será uma cultura dominante.

"Dois terços da produção gaúcha e quase 10% das lavouras do Brasil -cerca de três milhões de hectares- já são constituídas por soja transgênica. E essa participação vai crescer muito nos próximos anos", declara o pesquisador.

A soja transgênica já estaria espalhada em várias propriedades do país, misturada à soja tradicional, sem que seja possível diferenciar um pé do outro apenas pela aparência das plantas.

Segundo a assessoria do Ministério da Agricultura, os dados apresentados pelo pesquisador refletem o posicionamento da entidade para o assunto.

Cálculos do presidente da Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), Ywao Miyamoto chegam ao mesmos três milhões de hectares de soja transgênica mencionados por Barreto.

Segundo Miyamoto, a maior incidência do cultivo do produto seria no Rio Grande do Sul, onde 70% das lavouras, ou seja, 2,25 milhões de hectares de soja estariam destinadas ao plantio do material geneticamente modificado.

No Paraná, segundo maior produtor do país, a porcentagem seria de 15%, (450 mil hectares).

Estatísticas oficiais do Estado indicam que 0,02% dos hectares de soja do Paraná seria transgênico. Entretanto o número pode ser maior, já que a somente as plantações denunciadas pelo Ministério Público podem ser vistoriadas.

Embora não confirme os números expressivos divulgados por Miyamoto, as recentes apreensões de 700 hectares de lavouras transgênicas no Paraná preocupam as autoridades locais.

Os dados da Aprosoja foram contestados pelo engenheiro agrônomo da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) Marco Antonio Carvalho. Para ele, esses valores estariam superestimados e seriam fruto de aspirações pessoais de grupos interessados na eventual liberalização do cultivo de transgênicos no país.

As estimativas também foram rechaçadas pela Federação de Agricultura do Mato Grosso do Sul e pelo secretário adjunto de Agricultura do Mato Grosso, Heitor David Medeiros. Segundo o secretário, nunca houve apreensões de transgênicos no Estado.
Se não há consenso a respeito do número total de hectares de soja transgênica no Brasil, em relação ao Rio Grande do Sul fontes diferentes apontam para o mesmo valor: 1 milhão de hectares, ou seja, um terço da área de soja no Estado seria de transgênicos.

Para chegar a esse valor, o chefe geral da Embrapa Trigo Passo Fundo (RS), Benami Bacltchuk baseia seus cálculos nos dados de compra de sementes no Estado.

Segundo Bacltchuk, tradicionalmente cerca de 40% dos produtores de soja do Rio Grande do Sul, o que corresponde a aproximadamente 1 milhão de hectares, não compram sementes certificadas e fiscalizadas. Logo, esse seria o número máximo de hectares cultivados de soja modificada.

O secretário de Agricultura do Rio Grande do Sul, Angelo Menegat, afirma que a Companhia de Silos e Armazéns do Estado (Cesa) só estoca grãos comprovadamente não-transgênicos.

Mercado negro
A possível origem dos grãos transgênicos que chegam às lavouras brasileiras seria a Argentina, onde o cultivo de transgênicos é permitido. Para Barreto, "é claro que as sementes só podem entrar no país contrabandeadas".

A hipótese é corroborada pelo levantamento realizado pelo professor da Universidade Federal de Santa Catarina Rubens Nodari e pelo professor Deonisio Destro da Universidade de Londrina.

Os agricultores da região de Palmeira das Missões (RS) ouvidos pela pesquisa afirmam que compraram os grãos em caminhões clandestinos que circulariam por estradas no sul do país.

Graças a essa origem, uma das variedades de soja transgênica encontrada nas lavouras foi batizada pelos sojicultores de Mercedes 70.

Segundo o delegado chefe da Polícia Federal de Santa Maria (RS), Ildo Gasparetto, que comandou a queima de 25 toneladas de soja transgênico em outubro de 2001, até o momento não foi apreendido nenhum caminhão transportando o produto contrabandeado.

Para o delegado, o contrabando não seria mais a principal fonte de fornecimento de grãos transgênicos no Brasil. Eles já estariam sendo produzidos aqui e comercializados entre os sojicultores.

Essa opinião é partilhada pelo presidente da Aprosoja, que afirma que no "mercado negro" o preço das sementes contrabandeadas chega a custar o dobro do produto convencional, cujo saco de 50 Kg fica em torno de R$ 12.

Nodari alerta que a soja transgênica, não adaptada ao clima e território brasileiros pode se disseminar, apesar de sua baixa produtividade.

 

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