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18/05/2002 - 07h10

Presidente propõe "agenda da esperança"

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do enviado especial a Madri

O presidente Fernando Henrique Cardoso usou ontem a tribuna da cúpula União Européia/América Latina e Caribe para propor trocar o medo ao terrorismo pelo que chamou de "agenda da esperança".

Depois de afirmar que compreende "as reações, mais que justificadas, às ameaças do terrorismo e do uso de armas de destruição em massa", o presidente cobrou: "Mas não queremos que, movidas pelo medo, as potências substituam a agenda da esperança -o comércio aberto, uma nova arquitetura financeira, a luta contra a pobreza e a exclusão social e cultural- pela obsessão única com o tema da segurança".

Todo o discurso é uma crítica aos Estados Unidos, embora o nome do país não tenha sido citado uma única vez.

Mas o presidente brasileiro cobrou da União Européia uma aproximação com a América Latina-Caribe, para "a configuração da ordem internacional no século 21, que desejamos seja uma ordem plural, policêntrica, sem monopólios do poder ou da riqueza".

Trata-se da mesma crítica feita por FHC ao unilateralismo norte-americano em seu discurso de outubro na Assembléia Nacional da França, aplaudido ecumenicamente pela esquerda e pela direita locais, mas que provocou irritação no governo Bush.

Tanto o discurso teve como alvo os Estados Unidos que FHC voltou a citar, tal como o fizera em Paris, iniciativas unilaterais norte-americanas que ferem a cooperação internacional.

Mencionou o Protocolo de Kioto, destinado a conter as emissões de gases que produzem o efeito-estufa do qual a administração Bush se recusa a participar.

Citou igualmente o Tribunal Penal Internacional, uma iniciativa destinada a fortalecer "a cooperação pelos direitos humanos", que os EUA também decidiram não aceitar. É verdade que, na hora de ler o texto, FHC suprimiu tais menções, mas, como o discurso já estava distribuído, a praxe diplomático diz que é dado como pronunciado na íntegra.

Corolário inevitável: um apelo à "participação ativa da Europa" para construir um sistema internacional "mais solidário, mais representativo e, por isso mesmo, mais legítimo e eficaz".

Mas o discurso foi igualmente, tal como prometido na véspera, um ataque ao protecionismo, capítulo em que a Europa e os Estados Unidos se igualam, assim como outros países ricos.

"Há preocupação quanto à sinceridade do compromisso da comunidade internacional com o livre-comércio e com a construção de uma ordem favorável ao progresso de todos", disse.

Emendou: "Há uma percepção de que o protecionismo foi condenado como instrumento de desenvolvimento dos mais pobres apenas para converter-se em instrumento de defesa dos privilégios dos mais ricos".

Citou as inúmeras barreiras às exportações dos países em desenvolvimento, que considerou um "mecanismo de congelamento das desigualdades".

FHC insistiu em um de seus temas favoritos, a assimetria no processo de globalização, que favorece os mais ricos.

O presidente criticou a perspectiva de "um sistema internacional no qual a melhor forma de ser competitivo seria, pura e simplesmente, ser rico".

FHC reconheceu que, nos três anos transcorridos desde a cúpula anterior, realizada no Rio de Janeiro, houve "o aprofundamento de um sentimento de mal-estar com o processo de globalização."

O presidente dedicou dois parágrafos de seu discurso à questão da democracia. "Na América Latina, episódios recentes mostraram o quanto permanece viva a ameaça golpista. Mas mostraram também a força das instituições democráticas", em óbvia alusão à tentativa de golpe contra o presidente venezuelano Hugo Chávez, abortada em 48 horas.

Acrescentou FHC: "No próprio continente europeu, berço da idéia antiga e moderna de democracia, surpreendemo-nos com manifestações de extremismo e intolerância".
 

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