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24/05/2002
-
09h12
do "Financial Times''
A determinação do presidente George W. Bush na campanha contra o terrorismo suscita uma questão preocupante. Será que os EUA estão prestando atenção suficiente ao seu próprio quintal, onde problemas sociais crônicos e uma aparentemente infinda sucessão de crises representam potencial desafio aos interesses norte-americanos?
Até agora, 2002 está se provando um ano desastroso para a América Latina. A economia da Argentina desabou, a crise política na Venezuela se agrava e o conflito civil na Colômbia se tornou mais sangrento. Depois de uma década de reformas de livre mercado, o apoio ao consenso de Washington está se desintegrando, e populistas ganham terreno.
Wall Street está preocupada com a possibilidade de que o contágio político em breve atinja o Brasil, onde se teme que um governo esquerdista fraco e minoritário seja eleito.
A capacidade do governo norte-americano para influenciar esses acontecimentos é visivelmente limitada. Os ataques de 11 de setembro e a guerra no Afeganistão reduziram a importância relativa da América Latina. Há pouco entusiasmo no Congresso por um envolvimento mais profundo, e não seria correto resgatar a Argentina antes que os políticos do país resolvam os problemas de seu sistema financeiro e da já antiga crise fiscal. A menos que a Argentina se prove capaz de criar um programa confiável, algo em que fracassou repetidas vezes, não faz sentido fornecer mais verbas.
Mesmo assim, as políticas adotadas por Washington agravaram as coisas. A extensão de subsídios adicionais aos fazendeiros norte-americanos claramente prejudica as perspectivas de exportação de produtores agrícolas competitivos como o Brasil e a Argentina. Acima de tudo, as tarifas dos EUA sobre o aço importado e a nova lei da agricultura enviam a mensagem errada à América Latina, solapando a posição dos políticos reformistas que vêm lutando por liberalizar a economia. Com grande frequência, os EUA demoraram a reconhecer de que maneira suas ações podem fornecer munição aos políticos populistas ao Sul de suas fronteiras.
A situação se complica ainda mais devido a esforços diplomáticos canhestros. Por exemplo, os EUA se apressaram demais em elogiar a remoção temporária do presidente venezuelano Hugo Chávez, no mês passado, em um golpe que terminou malsucedido. Os norte-americanos são vistos como pouco dispostos a consultar seus potenciais aliados na região quanto a decisões políticas.
Uma mudança é necessária. O governo Bush precisa redobrar seus esforços para conquistar autorização para negociar acordos de comércio internacional pelo chamado "fast track'', e sem precondições, a fim de realimentar a esperança de que a Área de Livre Comércio das Américas entre em operação antes do prazo limite de 2005.
O governo norte-americano precisa também reconhecer que o colapso da Argentina pode representar futuros problemas de segurança. Precisa trabalhar mais ativamente com países como o Brasil a fim de ajudar a Argentina a colocar em vigor programas econômicos viáveis e coerentes.
Para resumir, precisa exercer liderança. Sem isso aumentará ainda mais os riscos de desordem e caos na região.
Descaso de Bush agrava crise na América Latina
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A determinação do presidente George W. Bush na campanha contra o terrorismo suscita uma questão preocupante. Será que os EUA estão prestando atenção suficiente ao seu próprio quintal, onde problemas sociais crônicos e uma aparentemente infinda sucessão de crises representam potencial desafio aos interesses norte-americanos?
Até agora, 2002 está se provando um ano desastroso para a América Latina. A economia da Argentina desabou, a crise política na Venezuela se agrava e o conflito civil na Colômbia se tornou mais sangrento. Depois de uma década de reformas de livre mercado, o apoio ao consenso de Washington está se desintegrando, e populistas ganham terreno.
Wall Street está preocupada com a possibilidade de que o contágio político em breve atinja o Brasil, onde se teme que um governo esquerdista fraco e minoritário seja eleito.
A capacidade do governo norte-americano para influenciar esses acontecimentos é visivelmente limitada. Os ataques de 11 de setembro e a guerra no Afeganistão reduziram a importância relativa da América Latina. Há pouco entusiasmo no Congresso por um envolvimento mais profundo, e não seria correto resgatar a Argentina antes que os políticos do país resolvam os problemas de seu sistema financeiro e da já antiga crise fiscal. A menos que a Argentina se prove capaz de criar um programa confiável, algo em que fracassou repetidas vezes, não faz sentido fornecer mais verbas.
Mesmo assim, as políticas adotadas por Washington agravaram as coisas. A extensão de subsídios adicionais aos fazendeiros norte-americanos claramente prejudica as perspectivas de exportação de produtores agrícolas competitivos como o Brasil e a Argentina. Acima de tudo, as tarifas dos EUA sobre o aço importado e a nova lei da agricultura enviam a mensagem errada à América Latina, solapando a posição dos políticos reformistas que vêm lutando por liberalizar a economia. Com grande frequência, os EUA demoraram a reconhecer de que maneira suas ações podem fornecer munição aos políticos populistas ao Sul de suas fronteiras.
A situação se complica ainda mais devido a esforços diplomáticos canhestros. Por exemplo, os EUA se apressaram demais em elogiar a remoção temporária do presidente venezuelano Hugo Chávez, no mês passado, em um golpe que terminou malsucedido. Os norte-americanos são vistos como pouco dispostos a consultar seus potenciais aliados na região quanto a decisões políticas.
Uma mudança é necessária. O governo Bush precisa redobrar seus esforços para conquistar autorização para negociar acordos de comércio internacional pelo chamado "fast track'', e sem precondições, a fim de realimentar a esperança de que a Área de Livre Comércio das Américas entre em operação antes do prazo limite de 2005.
O governo norte-americano precisa também reconhecer que o colapso da Argentina pode representar futuros problemas de segurança. Precisa trabalhar mais ativamente com países como o Brasil a fim de ajudar a Argentina a colocar em vigor programas econômicos viáveis e coerentes.
Para resumir, precisa exercer liderança. Sem isso aumentará ainda mais os riscos de desordem e caos na região.
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