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16/06/2002
-
09h45
FABRICIO VIEIRA
MARCELO BILLI
da Folha de S.Paulo
As turbulências dos últimos dias levaram alguns analistas a temer pela "argentinização" do Brasil. Os indicadores econômicos dos dois países mostram que o risco existe, mas a economia brasileira tem mais trunfos do que a Argentina teve para enfrentar a crise que assola o país.
O Brasil tem uma dívida relativamente tão grande quanto a do país vizinho. Ambas equivalem a cerca de metade do PIB (soma de todos os produtos e serviços produzidos no país em um ano) nacional. Ou seja, os credores do governo brasileiro têm motivos para desconfiar da solvência do país.
A fragilidade brasileira, no entanto, é menor. Ao contrário do que ocorreu na Argentina, o Brasil não registra mais déficits fiscais. O governo economiza recursos para pagar juros e tentar amortizar parte da dívida.
Outra diferença: quase toda a dívida argentina era em dólar. A dívida interna brasileira é denominada em reais: numa crise generalizada, o Banco Central pode emitir papel-moeda para quitá-la.
O Brasil tem instrumentos e vantagens que facilitam também o gerenciamento da crise. O câmbio flexível permite que o BC tenha controle da política monetária e da emissão da moeda: ele não precisa, como o Brasil tinha que fazer no passado, elevar a taxa de juros para proteger o real.
O sistema financeiro brasileiro também é mais sólido. Além dos argentinos usarem pouco o sistema bancário _a população, até o final do ano passado, pouco usava cartão de débito e cheques_, a existência de contas em dólares inviabilizou o socorro aos bancos quando eles sofreram com as corridas bancárias: o governo não tinha como emitir dólares e entregá-los aos bancos para que as instituições pudessem restaurar a confiança da população.
A fragilidade externa brasileira, no entanto, é maior do que a do país vizinho. O Brasil não consegue gerar dólares suficientes para pagar todos os seus compromissos externos, como remessa de lucros, pagamento de juros e amortização de dívidas. A Argentina também não. Mas o déficit externo argentino é de 1,6% do PIB, enquanto o do Brasil chega a 4,6%.
Análise: Brasil tem mais trunfos que a Argentina para enfrentar crise
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MARCELO BILLI
da Folha de S.Paulo
As turbulências dos últimos dias levaram alguns analistas a temer pela "argentinização" do Brasil. Os indicadores econômicos dos dois países mostram que o risco existe, mas a economia brasileira tem mais trunfos do que a Argentina teve para enfrentar a crise que assola o país.
O Brasil tem uma dívida relativamente tão grande quanto a do país vizinho. Ambas equivalem a cerca de metade do PIB (soma de todos os produtos e serviços produzidos no país em um ano) nacional. Ou seja, os credores do governo brasileiro têm motivos para desconfiar da solvência do país.
A fragilidade brasileira, no entanto, é menor. Ao contrário do que ocorreu na Argentina, o Brasil não registra mais déficits fiscais. O governo economiza recursos para pagar juros e tentar amortizar parte da dívida.
Outra diferença: quase toda a dívida argentina era em dólar. A dívida interna brasileira é denominada em reais: numa crise generalizada, o Banco Central pode emitir papel-moeda para quitá-la.
O Brasil tem instrumentos e vantagens que facilitam também o gerenciamento da crise. O câmbio flexível permite que o BC tenha controle da política monetária e da emissão da moeda: ele não precisa, como o Brasil tinha que fazer no passado, elevar a taxa de juros para proteger o real.
O sistema financeiro brasileiro também é mais sólido. Além dos argentinos usarem pouco o sistema bancário _a população, até o final do ano passado, pouco usava cartão de débito e cheques_, a existência de contas em dólares inviabilizou o socorro aos bancos quando eles sofreram com as corridas bancárias: o governo não tinha como emitir dólares e entregá-los aos bancos para que as instituições pudessem restaurar a confiança da população.
A fragilidade externa brasileira, no entanto, é maior do que a do país vizinho. O Brasil não consegue gerar dólares suficientes para pagar todos os seus compromissos externos, como remessa de lucros, pagamento de juros e amortização de dívidas. A Argentina também não. Mas o déficit externo argentino é de 1,6% do PIB, enquanto o do Brasil chega a 4,6%.
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