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27/06/2002 - 08h39

Trigo vira reserva de dólar da Argentina

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ADRIANA MATTOS
da Folha de S.Paulo

A crise argentina transformou o trigo em reserva de valor no país vizinho e quem pagará essa conta será o consumidor brasileiro. Os produtores argentinos querem fechar contratos volumosos de venda do trigo (cotado em dólar) nos períodos em que a desvalorização do peso dispara. Com isso, conseguem trocar os dólares recebidos por uma maior quantidade de pesos. Os moinhos brasileiros, que compram o produto, estão revoltados e travam hoje uma queda-de-braço com os argentinos.

A situação chegou a tal ponto que grupos do setor alimentício decidiram comprar trigo da Polônia, mais barato, segundo a Folha apurou. O produto entra neste mês no país se conseguir autorização fitossanitária. A Polônia não é um tradicional produtor de trigo. Com isso, tenta-se reduzir a dependência da Argentina.

A operação de venda e compra tem sido feita da seguinte forma: os moinhos no Brasil recebem o produto e pagam em dólares no momento da entrega. Há casos em que o pagamento ocorre dentro de até 90 dias. No primeiro caso, os argentinos são pagos no ato e podem trocar as notas por pesos. Se a operação for fechada numa semana em que o peso sofreu forte desvalorização, eles saem ganhando: o produtor pode trocar seus dólares por mais pesos.

E eles precisam de pesos, urgentemente. Em abril, o governo da Argentina determinou que o valor da dívida das empresas em dólar seria transformado em pesos sem qualquer correção. Haverá uma atualização dessas dívidas em agosto. Os produtores têm dívidas de US$ 3,05 bilhões.

"O trigo se tornou reserva de valor para eles, Não imaginei que chegasse a esse ponto", diz Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, que responde por 20% do abastecimento de trigo consumido em São Paulo. "A saída é comprar dos EUA", diz.

"Não adianta conversar. O argentino só vende o produto quando sentir segurança de que a troca será interessante para ele. O produto virou um ativo em dólares para o país vizinho", afirma Edson Cisipai, do Moinho Santista, da empresa de alimentos Santista.

Quem vai pagar a conta dessa especulação, dizem eles, será o brasileiro. Há falta de trigo no mercado internacional e o preço disparou. No começo do ano, a tonelada estava em US$ 110. Hoje, ultrapassa os US$ 160. O produto argentino que chega hoje ao porto de Santos custa aos moinhos US$ 177 (incluído o frete).

Como ocorreu forte desvalorização do real nas últimas semanas, os moinhos precisam de mais reais para pagar a compra. E esse custo será repassado. "O preço subiu muito e isso não será absorvido. Acreditamos que haverá um aumento de 15% no preço do pão", diz Antonio Carlos Henriques, presidente do sindicato das padarias no ABC paulista. Os moinhos acreditam que esse reajuste chegará ao consumidor dentro de 30 dias.

Leia mais no especial sobre Argentina
 

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