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21/07/2002 - 07h25

"Exuberância irracional está longe do fim", diz economista

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha e S. Paulo, em Nova York

Ele não foi o inventor do termo, mas cuidou de dar base acadêmica e passar boa parte de seu tempo explicando a frase dita em 1996 pelo presidente do Federal Reserve (banco central norte-americano), Alan Greenspan, o mesmo que na terça-feira acusou a economia do país de passar atualmente por uma "ganância infecciosa".

Trata-se do economista e teórico norte-americano Robert Shiller, autor do livro "Exuberância Irracional" (Makron, 2000). O título foi roubado da tal frase do "maestro" do Fed, que tentava resumir o boom do mercado de ações no finas dos anos 90.

Pois para Shiller, conforme afirmou em entrevista exclusiva à Folha de seu escritório na Universidade Yale, tal exuberância ainda está longe de acabar. "Não acho que já chegamos ao fim, o mercado norte-americano ainda está supervalorizado", disse ele.

Leia a seguir os principais trechos de sua entrevista:

Folha - Os últimos dias marcam o fim da exuberância irracional?
Robert Shiller - Não acho que já chegamos ao fim, o mercado norte-americano ainda está supervalorizado. Penso que não é difícil imaginar que o índice Standard & Poor's [com as 500 maiores empresas do país" estará perto da metade do atual valor daqui a cinco ou dez anos.

Folha - Depois deste dilúvio por que passa o mercado atualmente, o que acontecerá?
<>Shiller - Talvez tenhamos uma nova recessão, mas não vai ser nada terrível, nada assustador. A recessão de 2001 foi muito moderada, porque o consumo interno salvou a economia. É claro que, se o consumo continuar decaindo e se o mercado interno quebrar, então poderemos ver um recessão normal, maior do que a de 2001. Mas não estou prevendo nenhum desastre.

Folha - A imprensa noticiou que o mercado de ações norte-americano perdeu US$ 2,5 trilhões este ano até agora. Isso não o preocupa?
Shiller - Nos últimos meses, o governo convenceu o público de que as ações voltariam a subir e que ninguém precisaria cortar gastos e todos acreditaram nisso. Mas as pessoas estão começando a desconfiar, e se elas juntarem a ação à dúvida então vão de fato cortar os gastos e aí poderemos ver uma recessão. Parece-me que as pessoas estão parando de acreditar no mercado de ações, não só aqui nos EUA, mas na Europa.

Folha - Como isso vai afetar a maneira como o norte-americano médio investe seu dinheiro?
Shiller - O pequeno investidor está apostando em imóveis. O pequeníssimo, que desconfia mais dos bancos e das Bolsas principalmente por conta dos escândalos que se sucedem, está guardando o dinheiro em casa, literalmente debaixo do colchão. Não estou brincando.

Folha - A relação de funcionários graduados da Casa Branca com empresas acusadas de maquiar os balanços fiscais pode ser a Monica Lewinski do governo George W. Bush?
Shiller - Bem, toda vez que há uma recessão a imagem pública do governo é afetada. Bush pai perdeu a eleição para Bill Clinton principalmente porque a economia não estava bem. Isso pode acontecer de novo com Bush filho se estivermos em recessão séria na época das eleições, em 2004. É certo que isso já vai atrapalhar o Partido Republicano nas eleições ao Congresso no final deste ano.

Folha - A crise nas Bolsas pode desanimar o investidor a aplicar seu dinheiro em economias emergentes, como a brasileira?
Shiller - Confesso que não olhei com muito cuidado para a situação do Brasil, mas o mercado norte-americano afeta psicologicamente os mercados do mundo inteiro. E, desde março, os mercados europeus e asiáticos estão caindo, por conta do efeito contagiante dos escândalos norte-americanos. As pessoas simplesmente estão deixando de acreditar em ações.

Folha - Na semana passada, o euro ultrapassou o dólar em valor. Qual o efeito na economia?
Shiller - Um efeito psicológico muito grande. Os americanos se sentiam grandiosos pelo fato de os europeus terem criado essa nova moeda e ela imediatamente ter sido desvalorizada e ter feito o dólar ficar ainda mais forte. Há uma tendência humana muito estranha de se sentir muito orgulhoso de ter uma moeda forte, e os americanos, principalmente, gostam de saber que o dólar está assim. E, de repente, o dólar vale o mesmo que o euro. É simbólico.

Folha - Como isso afeta efetivamente o mercado dos EUA?
Shiller - Os investidores estrangeiros apoiaram o mercado norte-americano por muitos anos. Não digo que eles tenham mudado dramaticamente nos últimos dias, mas é fato que foram duplamente atingidos pelo declínio das bolsas e o declínio do dólar. Se a situação continuar, podem começar a tirar seu dinheiro daqui e ir para outro lugar...

Folha - E o sr. acha que isso pode acontecer?
Shiller - É um sério risco que corremos, o risco de termos um mercado em movimento em espiral para baixo. As pessoas ficam irritadas e tiram o dinheiro, o mercado cai ainda mais, e isso gera mais recessão, já que ninguém vai querer gastar dinheiro. E pode ser uma recessão mundial.
 

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