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26/07/2002 - 09h15

Análise: Estados Unidos abandonam a América Latina

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do "Financial Times"

Pode haver boas razões para que Paul O'Neill adiasse por uma semana sua visita à América Latina. Mesmo assim, a decisão do secretário do Tesouro dos Estados Unidos certamente fará com que cresça a suspeita de que o governo Bush não se incomoda com a crise que afeta número crescente de países no hemisfério Sul.

A inquietação política e social parece crescer a cada dia. Nos últimos dez dias, houve greves violentas no Equador, distúrbios no Paraguai e uma queda aguda nos mercados brasileiros. Como pano de fundo, os problemas econômicos da Argentina parecem estar se agravando.

Longe de oferecer uma plataforma para a recuperação, a moratória e a desvalorização cambial que se seguiu lançaram o país em uma recessão ainda mais profunda. Vizinhos de menor porte -Paraguai e Uruguai-, cujas economias dependem de suas ligações com a Argentina, estão com problemas sérios. A Argentina parece ter deflagrado um contágio progressivo que, embora menos dramático do que sua variante financeira dos anos 90, pode ser mais insidioso em seus efeitos.

Os prejuízos sofridos pelos bancos, empresas de infra-estrutura e outras companhias estrangeiras na Argentina fizeram com que muitas empresas internacionais decidissem reavaliar o risco de operar na região. Os fluxos de investimento reduzidos e os ágios maiores devido ao risco político agravam as pressões externas, contribuindo para crescimento mais lento e desemprego mais alto em muitos países.

Por enquanto, a América Latina parece longe de um retorno à intervenção estatal, ao protecionismo e aos déficits públicos do passado. Mas as crescentes pressões sociais reduzem a capacidade dos governos da região de manter a disciplina fiscal e monetária. Em muitos países, políticos que advogam maior populismo ganham terreno. O Brasil pode ter uma considerável virada à esquerda nas eleições gerais de outubro.

Tudo isso representa um enorme desafio para os Estados Unidos. Mas, desde 11 de setembro, a América Latina perdeu importância entre as prioridades do presidente George W. Bush. A imposição de tarifas sobre o aço e a concessão de subsídios agrícolas solaparam a posição dos políticos latino-americanos que defendem o livre-comércio, o que torna mais difícil para eles levar adiante as reformas de liberalização de mercado em seus países.

Falhas diplomáticas solaparam a posição norte-americana. No mês passado, O'Neill assustou os mercados financeiros ao aparentemente negar a possibilidade de um empréstimo de assistência ao Brasil caso os problemas econômicos do país piorassem, a despeito do fato de que já existe um acordo em vigor entre o país e o FMI. O governo norte-americano foi criticado por seu suposto papel (repetidamente negado) na derrubada temporária de Hugo Chavez, o presidente da Venezuela.

Uma mudança é necessária. Na Argentina, os Estados Unidos não têm muita margem de manobra. Mas precisam dar apoio mais ativo aos esforços internacionais para encontrar uma maneira de superar a crise. Precisam encontrar uma maneira de revitalizar sua política de livre-comércio. Acima de tudo, o governo norte-americano precisa demonstrar que a região importa. Os Estados Unidos têm poder e influência. Precisam usar essas vantagens para ajudar a preservar os ganhos da década passada.

 

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