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20/08/2002 - 11h05

Produção sul-americana de soja supera a dos EUA pela primeira vez

MAURO ZAFALON
da Folha de S.Paulo

A América do Sul assumirá pela primeira vez a liderança na produção mundial de soja nesta safra 2002/3, desbancando os Estados Unidos. Há 20 anos, os norte-americanos produziam 206% mais do que os sul-americanos. Nesta safra, a América do Sul produzirá 16% mais do que os norte-americanos.

A safra dos Estados Unidos, onde a colheita começa a partir de setembro, deverá recuar para 71,5 milhões de toneladas. A da América do Sul, cujo plantio será iniciado em outubro, subirá para 83 milhões de toneladas.

O Brasil fará a diferença. A produção nacional saiu de 13 milhões de toneladas no início da década de 80 para 48 milhões de toneladas na próxima safra -um aumento de 270%.

Os Estados Unidos ainda são os maiores produtores mundiais, mas em cinco anos deverão perder o posto para o Brasil se for mantido o ritmo de crescimento dos últimos anos.

Causas
A perda de liderança dos norte-americanos não se deve apenas à seca, que há quatro anos frustra as expectativas de uma produção de 80 milhões de toneladas por lá. Os Estados Unidos perderiam a liderança para os países da América do Sul na próxima safra mesmo sem os problemas climáticos.

Abundância de terra, preços atrelados ao dólar, demanda mundial crescente do produto -o que o torna mais atraente do que as demais culturas- e liquidez são as razões fundamentais para o avanço da produção nos países da América do Sul.

A liquidez da soja é tão grande que os produtores conseguem vender o produto com até um ano de antecedência, e os exportadores têm crédito fácil para as exportações, ao contrário do que ocorre com outros produtos agrícolas.

Principal produto
O avanço do cultivo da soja não foi a salvação apenas para os agricultores, que hoje recebem o correspondente a R$ 35 por saca (o custo de produção foi de R$ 14,50), mas também para as economias locais, mergulhadas em sérios problemas na balança comercial. A soja é a principal fonte externa de recursos nas exportações tanto do Brasil como da Argentina.

Anderson Galvão Gomes, analista da MPrado Consultoria Empresarial, de Uberlândia (MG), diz que a liderança da América do Sul veio para ficar. A expansão da produção de soja nos Estados Unidos vai perder força nos próximos anos. Um dos motivos é a nova lei de subsídios do governo federal.

Até o ano passado a lei de incentivos à agricultura privilegiava os produtores de soja, diz o analista. O plantio de soja rendia mais do que o de milho, o que provocou o crescimento artificial da produção, desequilibrando inclusive a oferta mundial.

Os norte-americanos são muito dependentes do milho, e a expansão da soja criou uma bomba-relógio para eles mesmos, diz Galvão. Segundo ele, a produção de milho deverá ganhar força e ocupar parte das áreas de soja. Dois fatores são fundamentais para essa mudança: a nova lei de subsídios agrícolas e as pressões ambientais.

Milho privilegiado
A nova 'farm bill' do governo George W. Bush privilegia a produção de milho. Em média, o produtor que optar pelo milho terá rendimento 7% superior ao da soja, diz Fernando Muraro, da Agência Rural, de Curitiba.

Outro fator importante para o crescimento do milho são as novas leis ambientais que prevêem a substituição do metanol pelo álcool.

A necessidade do álcool combustível nos Estados Unidos é crescente. Ou o país importa do Brasil, o maior produtor mundial, ou amplia a produção interna de álcool de milho.

'Quanto maior a produção de milho, menor a de soja', diz Galvão. Isso porque a fase de expansão agrícola acabou e os norte-americanos têm pouca terra disponível para o plantio. Além disso, essa terra é de baixa qualidade, afirma ele.

Um novo fantasma que ronda os produtores de soja nos Estados Unidos são os subsídios. Além de os produtores perderem espaço para o milho, é cada vez mais discutível a sustentação dos produtores agrícolas pela sociedade.

Até há poucos anos, a sociedade norte-americana não punha em discussão a concessão de subsídios porque se imaginava que esses recursos garantiam um produto de boa qualidade e a manutenção dos trabalhadores rurais no campo.

As coisas não ocorreram exatamente assim, diz Galvão. Em muitos casos a qualidade do produto rural não é boa, principalmente com o surgimento de várias doenças na produção de carnes, e o trabalhador rural buscou um segundo emprego na cidade.

Se houver redução nos subsídios aos produtores de soja, o analista da MPrado diz que, de 'cara limpa', eles não vão conseguir competir com os demais produtores mundiais, principalmente brasileiros e argentinos.

Produção na AL
As estimativas de produção de soja para a América Latina são de 83 milhões de toneladas na safra 2002/3, segundo a MPrado. Se confirmados esses dados, os sul americanos vão participar com 44% da produção mundial. Já a produção norte-americana recuará para 38% do total mundial.

A liderança na América do Sul é do Brasil, que deverá atingir 48 milhões de toneladas. Em segundo lugar vem a Argentina, com 30 milhões de toneladas, diz a MPrado. Algumas previsões de instituições argentinas indicam safra de até 34 milhões de toneladas.

A participação da Bolívia e do Paraguai ainda é pequena, mas crescente nos últimos anos. Os paraguaios vão produzir 3,7 milhões de toneladas e os bolivianos, 1,3 milhão de toneladas.
 

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