Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
23/08/2002 - 21h43

Bush é mais perigoso que Lula para a economia, diz Nobel

JOÃO SANDRINI
da Folha de S.Paulo, em Buenos Aires

"O presidente dos EUA, George W. Bush, é mais perigoso para a economia mundial do que qualquer candidato brasileiro. Entre Bush e Lula, fico com Lula."

A afirmação foi feita por Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia em 2001, que considera Lula uma pessoa "honesta" e acredita que não há motivos para que o governo brasileiro suspenda o pagamento da dívida pública, independentemente do candidato que vença a próxima eleição.

"Os investidores vão perceber que não há razão para uma falta de confiança no Brasil, seja lá quem for o próximo presidente. Nenhum dos candidatos representa perigo [de calote]", disse.

Em entrevista a jornalistas brasileiros, em Buenos Aires, Stiglitz, que já foi assessor econômico da Casa Branca e economista-chefe do Banco Mundial, disse que o país vai superar a crise.

O economista norte-americano declarou, no entanto, que o Brasil precisa reduzir as "exorbitantes" taxas de juros pagas pela dívida. Mas, para ele, o próprio mercado vai entender essa necessidade naturalmente.

"Os mercados vão preferir reduzir a taxa de juros ao 'default'. As taxas de juros são exorbitantes, nenhum país pode pagá-las. E eles [os investidores] não têm outra chance."

Stiglitz também considera a situação brasileira "muito diferente" da argentina antes do calote. Ele lembrou que o governo brasileiro arrecada 30% do PIB em impostos, o que garante um superávit primário de 3,75% do PIB. Já o governo argentino só arrecada 20% do PIB.

Ele citou outras duas diferenças entre os vizinhos. A primeira, econômica, é que o Brasil possui uma moeda subvalorizada, enquanto a Argentina tinha uma moeda sobrevalorizada.

A outra diferença, política, é que o Brasil possui mecanismos para obrigar os Estados a manter uma política de austeridade fiscal.
Questionado se poderia haver uma eventual mudança nessas políticas de austeridade com a vitória de um candidato de oposição, Stiglitz afirmou que costuma haver diferenças entre os discursos antes da eleição e as ações após a chegada ao poder.

"Há uma tendência natural, quando se chega ao poder, de perceber, mais do que antes, quais são as obrigações. Por isso, existe uma tendência natural de ficar mais conservador."

Balanço de FHC
Ele também fez um balanço positivo do governo Fernando Henrique Cardoso, cujo erro "talvez" tenha sido ter se dedicado mais à questão da inflação do que à do emprego.

"Mas qualquer um que olhe sua administração dirá que foi positiva. A inflação caiu, a educação aumentou muito. Claro que há pessoas que gostariam de ver mais. Mas, no mundo das coisas razoáveis, foram oito anos impressionantes", afirmou.

Stiglitz esteve na Argentina para promover o livro "Globalization and its Discontents", em que responsabiliza o FMI (Fundo Monetário Internacional) e suas exigências por terem prejudicado a economia de países em desenvolvimento com uma mistura de incompetência e intolerância.

Em palestra na Universidade de Buenos Aires, anteontem, o economista defendeu que a Argentina deve adotar uma atitude mais "dura" para negociar um acordo com o FMI. Para o economista, a Argentina deveria até abrir mão de um acordo que leve à contração da economia ou impeça a distribuição de renda.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página