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01/10/2002 - 08h03

Lula pode ajudar ou afundar o Brasil, dizem analistas

da France Presse em Washington

As principais autoridades econômicas brasileiras asseguraram que o país manterá o bom rumo seja quem for o vencedor da eleição presidencial do próximo domingo, mas vários observadores advertiram que a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode ser boa, ou um desastre, de acordo com o que fizer.

A aparentemente inevitável vitória de Lula, favorito inquestionável em todas as pesquisas, poderia ser muito boa para o país se ele conseguir ganhar posteriormente a confiança dos mercados com uma conduta pragmática no manejo das finanças públicas, na opinião do economista inglês John Williamson, famoso relator em 1989 do chamado ''Consenso de Washington''.

Paulo Leme, diretor gerente da Goldman Sachs, concorda com essa análise e acrescenta que a escolha de uma equipe econômica que mereça confiança pode iniciar um movimento de efeito dominó, com cada ficha acelerando a recuperação, a volta dos capitais, o aumento da confiança e os investimentos, assim como a diminuição do desemprego e a pobreza.

O assunto foi discutido em uma conferência organizada pela Câmara de Comércio Brasil-EUA, aproveitando a presença em Washington de altos funcionários e banqueiros brasileiros -inclusive o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga- que assistiram à assembléia anual do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Bird (Banco Mundial), que terminou domingo.

Vários analistas expressaram o temor de que Lula tome iniciativas que forcem maior hostilidade dos mercados, como a de se distanciar dos Estados Unidos, com o risco de uma freada na atividade econômica e de uma moratória da enorme dívida pública brasileira de US$ 265 bilhões.

A incerteza e a especulação vinculadas ao processo eleitoral deixaram o Brasil afogado numa crise que já provocou a queda da bolsa, uma desvalorização de 40% do real desde o começo do ano, taxas de risco-país de 2.500 pontos e a queda dos preços dos títulos da dívida brasileira, que na semana passada eram negociados a R$ 0,48 por dólar.

A situação obrigou o FMI a aprovar em agosto o maior crédito de sua história, de US$ 30,4 bilhões, para aliviar temporariamente o Brasil com a esperança de que o nervosismo desapareça depois das eleições.

Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano, advertiu que Lula ''não mudará em uma semana as posições que tem sustentado por 20 anos'', mas que ''até agora, os sinais são positivos'' de que o ex-sindicalista ''saberá conduzir bem o país''.

Hakim disse que Lula, que tem de 43% a 45% das intenções de votos, ''é muito inteligente e não fará besteiras como apoiar incondicionalmente o presidente cubano Fidel Castro, ou o presidente venezuelano, Hugo Chávez''.

Há indicações de que, uma vez eleito, Lula será prontamente convidado a Washington, onde poderá ''reunir-se com todo o mundo'' e ''dissipar as dúvidas'', acrescentou.

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, afirmou que os problemas presentes no âmbito econômico são devidos em boa parte a circunstâncias internacionais adversas, incluindo o colapso da Argentina, e rechaçou o temor de uma moratória da dívida.

Afirmou que a dívida líquida externa do setor público é de somente US$ 55 bilhões, equivalente a menos de 10% do PIB (Produto Interno Bruto), ''o que não é um problema para o Brasil''.

Malan e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, destacaram que na campanha eleitoral brasileira todo o referente ao manejo das finanças públicas ''se mantém dentro de um alto nível de racionalidade'', e ''a ninguém ocorreu'' falar de não respeitar os contratos internacionais ou internos nem de abandonar o compromisso de controlar a inflação ou anular a lei de responsabilidade fiscal.

Ambos insistiram que existe de fato um ''acordo básico'' não escrito e um alto grau de pragmatismo nesses assuntos.

''Eu acho que esse pragmatismo vai continuar existindo; já é uma característica do Brasil'', disse Malan.
 

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