Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
10/10/2002 - 09h33

Inflação, freada e desemprego travam ganho salarial

CLAUDIA ROLLI
da Folha de S. Paulo

A pressão da inflação sobre os salários, a retração da economia e as altas taxas de desemprego afetaram as negociações salariais dos trabalhadores com data-base no primeiro semestre de 2002.

Pesquisa nacional do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) mostra que 59% das 248 categorias profissionais que fizeram acordos de janeiro a junho deste ano obtiveram reajustes iguais ou acima do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do IBGE. Ou seja, 146 categorias ganharam ou zeraram a variação do índice nos 12 meses anteriores a cada data-base.

Esse é o pior resultado desde 99, quando pouco mais de metade (55%) das categorias pesquisadas conseguiu nesse mesmo período repor a inflação nos salários. Em 2000 e 2001, o percentual de acordos que obtiveram esse mesmo resultado foi de 68%.

''A inflação, em patamares acima de 9% [pelo INPC] no primeiro semestre, combinada ao desemprego, emperrou as negociações salariais. Se os dois crescem, bons acordos são mais difíceis. O resultado positivo vem com o crescimento da economia", disse Wilson Amorim, coordenador de atendimento técnico do Dieese.

O levantamento mostra também que 56,4% (140) das categorias tiveram reajustes no intervalo de 2% acima ou 2% abaixo do INPC no primeiro semestre de 2002 contra 84,5% no mesmo período de 2001. Entre os acordos feitos acima da inflação, 28% tiveram reajustes de até 2%. Em apenas duas negociações coletivas houve aumento salarial acima dos 5%. Os melhores resultados, segundo o Dieese, foram os de setores beneficiados pelo câmbio como calçados e alimentação - aumentaram as exportações e supriram o mercado interno.

Por setor, as categorias ligadas à indústria e ao comércio conseguiram mais sucesso neste ano do que as de serviços. Enquanto 66,4% dos acordos na indústria e 65,7% no comércio obtiveram reajustes igual ou acima da inflação, só 40% de serviços conseguiram o mesmo desempenho.

A explicação é a queda no rendimento do trabalhador. "Com menos dinheiro no bolso, o consumo diminui e isso afeta diretamente o setor de serviços", disse Amorim.

No primeiro semestre de 2001, os acordos foram melhores para todos os setores: 93% das categorias ligadas ao comércio, 73% das relacionadas à indústria e 66% das da área de serviços conseguiram repor a inflação.

''A indústria fez ajustes com reestruturação e corte de pessoal, o que permitiu a concessão de índices de reajustes um pouco melhores. Já o comércio tem pisos menores e parte dos salários é comissionada, o que pode explicar o desempenho melhor do que a área de serviços", disse.

Dos 248 acordos coletivos, em apenas 13 (ou 5,2% do total) houve a concessão de abonos salariais - e 11 deles tiveram reposição abaixo da inflação. No ano passado, 59 acordos incluíram abonos. ''Esse tipo de negociação favorece a empresa, porque o abono substitui o reajuste. A recuperação do salário é sempre empurrada para o próximo ano e com uma base menor porque não houve aumento real do salário", explica.

As previsões para este semestre são mais pessimistas. ''A instabilidade vai tornar as negociações mais difíceis", disse Amorim.

Para o presidente da CUT, João Felício, os sindicatos não devem negociar a manutenção de empregos em troca de reajuste. 'Sem recuperar o poder de compra, a economia não volta a crescer e o desemprego sobe ainda mais."

Para o presidente em exercício da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o movimento sindical deve ficar na defensiva neste semestre. "Nossa estratégia foi unificar a campanha salarial com outras centrais. A tendência também ser negociar ganhos sociais, como a participação nos lucros."
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página