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14/10/2002 - 03h00

"Paradão" ameaça próxima safra agrícola

CÍNTIA CARDOSO
JOSÉ SERGIO OSSE

da Folha de S. Paulo

O transporte pode se tornar, em breve, o principal gargalo da agricultura nacional. O escoamento da produção está no limite, devido ao número atual de portos em operação e à condição precária das malhas de transporte brasileiras.

Segundo especialistas em logística, pode haver, já na próxima safra, um "paradão" no escoamento da agricultura brasileira. A falta de investimentos em novas linhas de escoamento e na atualização de portos de exportação, assim como a elevada idade média da frota brasileira, pode levar a um colapso no sistema de transporte de cargas agrícolas no país.

Os ganhos de produtividade, portanto, são uma boa notícia até o momento em que é preciso transportar a carga das zonas de produção para as de distribuição e exportação.

Atualmente, 60% da safra de grãos é transportada por rodovias, 78% das quais em condições deficientes ou péssimas de acordo com levantamento da CNT (Confederação Nacional dos Transportes).

Já os caminhões que fazem o transporte muitas vezes operam em situação crítica. A idade média da frota brasileira é de 18 anos e boa parte do 1,7 milhão de caminhões no Brasil está em péssimo estado de conservação.

Além disso, a utilização dos meios de transporte ferroviário ou hidroviário, que seriam as opções mais recomendáveis para o transporte de grãos em um país com as dimensões do Brasil, ainda engatinha. No caso da soja, o principal produto agrícola plantado e exportado pelo país, apenas 7% são transportados por hidrovias e 33% por ferrovias.

"Estamos à beira do precipício caso não sejam feitos investimentos imediatos em hidrovias e na extensão da malha ferroviária", diz Paulo Fleury, professor do Centro de Estudos em Logística da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Outro problema apontado por Newton Gibson, presidente da ABTC (Associação Brasileira dos Transportadores de Carga), é que o setor não é regulamentado e, assim, qualquer um pode comprar um caminhão e começar a operar. Isso contribui para a falta de controle na qualidade do serviço e para o atraso na renovação da frota.

Infra-estrutura precária
O ponto de estrangulamento principal dos transportes, porém, está tanto na origem como no destino das cargas.

Segundo alguns especialistas, a malha, do jeito que está, é suficiente. Entretanto a falta de infra-estrutura nas áreas produtoras e nos portos distribuidores afetam todo o sistema produtivo.

"Em algumas épocas, como a da safra de soja, muitos caminhões e trens chegam aos portos para descarregar. A falta de investimento nesses portos fez com que o processo de descarregamento e transporte dos grãos para o navio ficasse muito lento", diz Eduardo Peleissone, gerente nacional de granéis da ALL/Delara.

"Além disso, não é sempre que o produtor tem área de estocagem na região de origem. Por isso, mesmo sem ter vendido toda a sua produção, manda tudo para o porto, atravancando ainda mais a chegada dos grãos que já estão vendidos."

Investimento
Segundo ele, a solução seria adotar um plano de investimento em infra-estrutura nos portos e melhorar os padrões de operação. Assim, diz, seria possível receber navios maiores e aumentar a velocidade das operações portuárias no país.

A ALL/Delara, em conjunto com seus parceiros comerciais, realizou investimentos de R$ 50 milhões no ano passado na melhoria de seus terminais nos portos de Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC) e Rio Grande (RS) e na padronização de suas operações. Com isso, conseguiu atingir níveis bastante favoráveis de velocidade de descarregamento e embarque de produtos agrícolas.

Desperdício
Ao problema do escoamento da produção de grãos vem se somar o desperdício da carga durante o transporte. O volume total do desperdício, porém, não é consensual.

Para ABCT, por exemplo, a quantidade de grãos perdida, principalmente nas estradas, chega a 10% do total transportado. Estradas mal asfaltadas, roubo de cargas e lentidão de embarque nos portos são algumas das razões alegadas.

Já para a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos e Vegetais) esse dado é absurdo. Segundo Carlo Lovatelli, presidente da associação, a perda no transporte não chega a 1%. Segundo ele, nos contratos de transporte de grãos, há uma cláusula que estipula em 0,2% o prejuízo máximo permitido durante o transporte.

Além desse nível, o transportador é responsável por pagar a diferença.
Mesmo assim, a perda de cerca de 1% está acima da meta contratual.
 

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