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30/10/2002 - 09h48

Analista do banco suíço UBS diz que Lula deve "apertar o cinto"

BÁRBARA TORRES
da Agência Lusa, em Genebra

O presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva (PT) vai ter que "apertar mais o cinto" se quiser reconquistar a confiança dos mercados.

Esta opinião é defendida por Oussama Himani, analista de estratégia do UBS (Union des Banques Suisses), o maior banco da Suíça.

O simples anúncio da equipe econômica, como sugerem vários investidores, segundo ele, "não será suficiente para acalmar o mercado".

"O risco Brasil atingiu um nível tal que, para baixá-lo para um patamar compatível com a sustentabilidade da dívida, o Lula terá que adotar políticas que são mais rigorosas do que o presidente Fernando Henrique Cardoso precisaria adotar", salientou.

Himani está preocupado com os "sinais vindos do Partido dos Trabalhadores (PT)", que indicam que o combate à inflação passaria para um segundo plano, e que a prioridade agora seria o crescimento econômico. Isso, segundo ele, "não é um bom sinal, especialmente vindo do PT". A inflação, nos seus cálculos, pode bater os 11% ao ano e "está no limite do aceitável".

"Isso é muito alto. Não dá para afrouxar as políticas fiscal e monetária. É uma pena que tenha que apertar mais, mas isso é importante para restabelecer a credibilidade que permitirá uma redução nas taxas de juros e o crescimento da economia. A primeira prioridade (de Lula) tem que ser responder às expectativas (do mercado)", sublinhou.

Para Himani, a atual política monetária do Banco Central do Brasil precisa ser preservada.

"O que foi conquistado nos últimos três anos é bastante notável e o fato de que temos ouvido sinais do PT de que inflação será a segunda prioridade, depois do crescimento, não é um bom sinal, especialmente vindo do PT. Eles precisam entender que inflação mais alta afeta ainda mais severamente os mais pobres", esclareceu o analista.

Para o analista do UBS, se quiser reconquistar a confiança dos mercados, Lula terá, ao contrário, que apertar mais no plano fiscal para atingir os 5% de superávit primário, previstos no programa do Fundo Monetário Internacional (FMI).

A redução dos juros e a retomada do crescimento só podem acontecer num clima de muita confiança dos mercados, insistiu.

E para isso é preciso rigor fiscal e monetário.

"Dado o nervosismo do mercado, ele terá que se empenhar mais do que Cardoso ou o Serra (José Serra do PSDB - Partido da Social Democracia) precisariam fazer. Os próximos meses serão críticos", avisa.

Outra preocupação de Himani é o volume da dívida. Num contraste com outros analistas, que acham que a dívida brasileira é administrável, ele lança dúvidas: "Eu não acho que é dívida seja tão administrável assim. O nível de juros que o Brasil está pagando é realmente bastante alto. Isso não é sustentável no momento. Tem que baixar para a dívida ser sustentável".

O programa de US$ 30 bilhões do Fundo Monetário Internacional (FMI), negociado para garantir a sustentabilidade da dívida, não garante a salvação. Segundo Himani, o programa "atende o mínimo necessário, e foi o denominador comum mais baixo".

O estrategista do UBS também está incomodado com o discurso de alguns políticos sugerindo uma volta a uma política industrial por setores, isto é, protecionismo para desenvolver certas industrias. O Brasil, segundo ele, precisa fazer o contrário: se integrar mais à economia mundial, mantendo o seu mercado aberto.

"Uma atitude mais positiva em relação à Alca (Área de Livre Comércio das Américas) ajudaria. Eu entendo as preocupações com as posições de Washington, com o fato de os EUA terem imposto barreiras contra o aço. Certamente não é uma decisão inocente.

Mas o Brasil precisa de mercado livre mais do que a América e essa é uma oportunidade que o país não deve perder", sustenta.

Perguntado se, diante de tanto aperto, sobrará algum espaço para Lula gastar mais no plano social, Himani disse que a saída para o próximo governo está na reforma de alguns setores, como Previdência Social e tributária, para eliminar excessos na taxação e melhorar coleta de impostos.

Outra solução, que ele reconhece não ser popular, é Lula reduzir emprego público.
 

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