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04/11/2002
-
09h25
da Folha de S. Paulo
Não é apenas devido à disparada do dólar que o consumidor vai pagar mais caro pelos alimentos e bebidas neste mês. Comércio e fabricantes bateram de frente na semana passada - tornando pública a desavença - por uma disputa por margem de lucro. O dólar, na prática, acentuou a crise.
Nos bastidores, a briga extrapola a questão da moeda. Fabricantes não querem mais, por exemplo, dar descontos elevados na fatura sempre que o varejo paga em dia as entregas. A prática, que se tornou comum, já é foco de mal-estar entre as partes.
Tem mais: as lojas começam a fazer resistência ao modelo de vendas chamado ''desconto fidelidade incondicional'', como batizam os analistas. Nele, a indústria só dá a oferta melhor de preços à loja num produto ''x'' se a loja comprar esse item com frequência. O varejo não quer mais essa obrigação. Muito menos numa fase de demanda retraída.
Até mesmo o chamado primeiro ''enxoval'' não ficou fora da pendenga. Cláusula do contrato com o varejo obriga os fabricantes a darem de graça, para a rede, o primeiro lote de venda das lojas que forem recém-inauguradas. Nada é cobrado pela indústria.
O varejo, em contrapartida, pode dar descontos no valor cobrado à indústria por determinado espaço na loja.
No acordo com o comércio, fabricantes dão bonificação às redes caso o produto seja colocado em determinado local da prateleira -de preferência na altura dos olhos do consumidor.
Não é à toa que, às vezes, o consumidor entra na loja e percebe que o sabão em pó de sua preferência foi parar no topo da gôndola. É que até mesmo esses espaços viraram ''moeda de troca''.
''É briga de cachorro grande. A indústria acredita que está ocorrendo uma transferência de margem dela para o varejo, nesses acordos entre as partes. E o comércio, por sua vez, está irritado com a enxurrada de aumentos de preços recentes da indústria'', diz Eugênio Foganholo, diretor da Mixxer Consultoria.
Desde meados do ano, essas questões, definidas em contrato, são alvo de negociação dos supermercados com alguns fabricantes de produtos de higiene e limpeza, segundo a Folha apurou.
Isoladamente, essas questões levantadas pelas partes têm poder de fogo muito limitado. O custo de um ''enxoval'' ou o peso de um desconto numa fatura podem ser desprezíveis. Juntos, porém, os fatores contribuem para deixar mais delicada a relação entre as partes. Pior ainda se, somado a isso, existe a disparada do dólar.
''Imposições unilaterais do comércio têm irritado os fabricantes. Essas divergências, que estão abaixo da 'superfície', afloram quando qualquer novo motivo aparece, como as negociações sobre reajustes'', explica Nelson Barrizelli, analista de varejo. Pão de Açúcar e Carrefour não comentam o caso.
Enquanto as divergências continuam, as negociações de preços se arrastam. Na sexta, a diretoria da rede Bretas, uma das maiores de Minas Gerais, esteve em São Paulo para fechar acordos com a Nestlé. A Sadia e a Perdigão ainda tentam finalizar a venda do peru para redes no Nordeste e para o Carrefour. O produto deve sofrer reajuste entre 10% e 15%.
Guerra entre comércio e indústria vai além de preço
ADRIANA MATTOSda Folha de S. Paulo
Não é apenas devido à disparada do dólar que o consumidor vai pagar mais caro pelos alimentos e bebidas neste mês. Comércio e fabricantes bateram de frente na semana passada - tornando pública a desavença - por uma disputa por margem de lucro. O dólar, na prática, acentuou a crise.
Nos bastidores, a briga extrapola a questão da moeda. Fabricantes não querem mais, por exemplo, dar descontos elevados na fatura sempre que o varejo paga em dia as entregas. A prática, que se tornou comum, já é foco de mal-estar entre as partes.
Tem mais: as lojas começam a fazer resistência ao modelo de vendas chamado ''desconto fidelidade incondicional'', como batizam os analistas. Nele, a indústria só dá a oferta melhor de preços à loja num produto ''x'' se a loja comprar esse item com frequência. O varejo não quer mais essa obrigação. Muito menos numa fase de demanda retraída.
Até mesmo o chamado primeiro ''enxoval'' não ficou fora da pendenga. Cláusula do contrato com o varejo obriga os fabricantes a darem de graça, para a rede, o primeiro lote de venda das lojas que forem recém-inauguradas. Nada é cobrado pela indústria.
O varejo, em contrapartida, pode dar descontos no valor cobrado à indústria por determinado espaço na loja.
No acordo com o comércio, fabricantes dão bonificação às redes caso o produto seja colocado em determinado local da prateleira -de preferência na altura dos olhos do consumidor.
Não é à toa que, às vezes, o consumidor entra na loja e percebe que o sabão em pó de sua preferência foi parar no topo da gôndola. É que até mesmo esses espaços viraram ''moeda de troca''.
''É briga de cachorro grande. A indústria acredita que está ocorrendo uma transferência de margem dela para o varejo, nesses acordos entre as partes. E o comércio, por sua vez, está irritado com a enxurrada de aumentos de preços recentes da indústria'', diz Eugênio Foganholo, diretor da Mixxer Consultoria.
Desde meados do ano, essas questões, definidas em contrato, são alvo de negociação dos supermercados com alguns fabricantes de produtos de higiene e limpeza, segundo a Folha apurou.
Isoladamente, essas questões levantadas pelas partes têm poder de fogo muito limitado. O custo de um ''enxoval'' ou o peso de um desconto numa fatura podem ser desprezíveis. Juntos, porém, os fatores contribuem para deixar mais delicada a relação entre as partes. Pior ainda se, somado a isso, existe a disparada do dólar.
''Imposições unilaterais do comércio têm irritado os fabricantes. Essas divergências, que estão abaixo da 'superfície', afloram quando qualquer novo motivo aparece, como as negociações sobre reajustes'', explica Nelson Barrizelli, analista de varejo. Pão de Açúcar e Carrefour não comentam o caso.
Enquanto as divergências continuam, as negociações de preços se arrastam. Na sexta, a diretoria da rede Bretas, uma das maiores de Minas Gerais, esteve em São Paulo para fechar acordos com a Nestlé. A Sadia e a Perdigão ainda tentam finalizar a venda do peru para redes no Nordeste e para o Carrefour. O produto deve sofrer reajuste entre 10% e 15%.
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