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09/12/2002 - 03h23

Centrais pedirão nova política salarial ao PT

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI

da Folha de S.Paulo

A expectativa de que a inflação se manterá elevada fará com que as principais categorias profissionais, com data-base no primeiro semestre do ano que vem, pressionem o governo petista a criar uma política salarial para evitar a corrosão da renda do trabalhador. Isto é, poderão voltar as discussões sobre a reposição automática dos salários _o gatilho_ e a antecipação de campanhas salariais.

Esse é o cenário traçado para o início de 2003 pelos negociadores tanto do lado dos empregados quanto do dos empregadores.

"O início do ano que vem será complicado para as negociações. Será parecido com 1999, quando o país teve de administrar uma inflação por causa da desvalorização do real", diz Wilson Amorim, coordenador técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos).

O começo do ano pode ser ainda mais difícil para as negociações salariais, diz, porque o ambiente é de elevada taxa de inflação e de desemprego.

"Não deve mais existir padrão de negociação. Categorias mais organizadas podem zerar a inflação e as menos organizadas, não. Repor as perdas já será uma conquista", diz Amorim.

A dificuldade em repor a inflação nos salários já foi constatada neste ano. De 27 categorias representativas, 14 não conseguiram sequer repor a inflação de um ano, segundo informa o Dieese.

Os vigilantes de São Paulo, por exemplo, com data-base em maio, conseguiram reajuste de 6,42%, enquanto o INPC _Índice Nacional de Preços ao Consumidor_ (12 meses) foi de 9,55%. Os trabalhadores na construção civil de São Paulo, outra categoria com data-base em maio, obtiveram 8,8%.

Outras sete categorias, com data-base em novembro, como a dos padeiros, a dos químicos, a dos metalúrgicos, a dos gráficos e a dos trabalhadores no setor têxtil _todos de São Paulo_, conseguiram zerar a inflação: o reajuste nos salários foi de 10,26%.

Do grupo de 27 categorias, apenas seis conseguiram aumento real de salário: os trabalhadores na indústria de calçados de Franca, na indústria da construção e do mobiliário de Bento Gonçalves, na construção civil do Rio de Janeiro, na indústria metalúrgica de Blumenau, além das costureiras de São Paulo e Osasco e dos canavieiros de Pernambuco.

"Quando os empresários prevêem uma inflação ascendente, eles resistem menos a repassá-la para os salários. Se prevêem queda, as negociações ficam bem mais difíceis", diz Sérgio Mendonça, diretor-técnico do Dieese.
Também pesa nas discussões entre empregados e patrões o desempenho econômico-financeiro das empresas. As exportadoras, por exemplo, como a indústria de calçados, são mais flexíveis. Quem depende mais do mercado interno tende a defender reajustes menores de salários.

Vendas menores
"As negociações salariais não serão nada fáceis. De um lado, o trabalhador vê seu salário ser corroído pela inflação. De outro, as empresas estão mais fragilizadas por causa da queda nas vendas", afirma Fábio Silveira, economista da MB Associados.

"O início do ano que vem vai ser triste. Os sindicalistas vão querer reajustes, só que as indústrias não vão poder dar o que eles querem", afirma Pedro Evangelinos, diretor-titular do Departamento de Integração Social da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

O setor industrial, segundo Evangelinos, deve registrar neste ano queda de 3% a 5% na comparação com o ano passado.

"A orientação que vamos dar é que todas as categorias devem buscar aumento real de salário e não só a reposição da inflação", afirma João Felício, presidente da CUT.

"Vamos torcer para que a inflação não volte. Mas, se os preços dispararem, vamos ter de antecipar as campanhas salariais. Não vai dar para esperar até novembro de 2003", diz Felício.

Aumento real
Para João Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força Sindical, os funcionários públicos têm grande expectativa de aumento real de salário com o novo governo petista.

"Outras categorias irão atrás. Não vão querer perder com a inflação", diz Gonçalves.

"Vamos fazer de tudo para recompor os salários dos trabalhadores", diz Antonio Carlos dos Reis, presidente da CGT (Central Geral dos Trabalhadores). "As reivindicações históricas não vão mudar porque o novo presidente do país é um ex-sindicalista."

As dificuldades para negociar reajustes neste ano existem em decorrência das perspectivas de manutenção de elevadas taxas de juros e de inflação e de baixo crescimento econômico. Apenas as categorias que têm data-base no segundo semestre poderão ter mais sucesso nas negociações.


 

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