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09/12/2002 - 04h46

Estudo mostra "quatro ameaças" da Alca

JOSÉ ALAN DIAS
da Folha de S.Paulo

O Ministério do Desenvolvimento acaba de concluir estudo com uma análise da situação competitiva de 20 cadeias industriais brasileiras e os impactos a que estarão sujeitas em duas das três rodadas de negociação de liberalização comercial em que o país está envolvido: os acordos com a União Européia e a Alca.

Segundo o documento, o eventual fechamento de acordos para a formação da Alca ou liberalização comercial, via acordo com a UE, implica o que os pesquisadores denominaram quatro "agrupamentos de ameaças".

Coordenados pelo economista Luciano Coutinho, cotado para a presidência do BNDES, os especialistas foram divididos em subgrupos, responsáveis pela preparação de relatório individual para cada uma de 20 cadeiras produtivas. Os estudos foram acompanhados por representantes do governo, além de membros do BNDES e do Ipea.

As "quatro ameaças"
No grupo A estaria a ameaça de aumento de importações de produtos originários do Nafta (o acordo de livre comércio dos EUA, México e Canadá) e da UE. As mais sujeitas a esse abalo são as de bens de capital, petroquímica e plásticos, mas também a indústria automobilística e eletrônica (a depender de decisões das matrizes), de cosméticos e parte da cadeia de celulose e papel.

Depois, no B, a redução das exportações para a América Latina (excetuado o México). A despeito de serem consideradas poucos competitivas, cadeias industrias brasileiras como a de química, bens de capital e plásticos têm considerável penetração nos países da América do Sul. Um embate direto com os parceiros do Norte (americanos ou canadenses) ou os europeus poderia resultar na perda do mercado nos países vizinhos _Argentina, a Bolívia, Paraguai, Uruguai etc.

Os analistas também vêem o risco (grupo C) de os mercados mais importantes da Alca (leia-se EUA) e da UE estenderem as preferências comerciais hoje concedidas ao Brasil a outros mercados, como a Ásia.

Ameaças que recaem justamente sobre os setores com maiores oportunidades de ampliarem suas exportações nas novas rodadas. Os setores têxtil, de confecções e de calçados correriam risco caso os EUA concedessem preferências comerciais à China. O de café poderia ser ameaçado numa eventual disputa com o Vietnã (se este obtivesse preferências comerciais), e o siderúrgico, caso Coréia do Sul e Japão tivessem preferências para vender à UE e Nafta.

Por fim, no grupo C, despontam as ameaças relacionadas com o desvio de investimentos estrangeiros diretos. O México é o maior candidato, mas não o único, a absorver eventuais recursos. Isso ocorreria, diz o documento, se, ao final da integração comercial nas Américas, as multinacionais decidirem promover alteração de suas estratégias no que diz respeito das filiais produtivas que mantêm no Brasil. O eventual deslocamento de investimentos explicitaria a perda de relevância das filiais aqui instaladas de setores citados acima (como automobilístico, farmacêutico e equipamentos de telecomunicação).

Cadeias produtivas
No trabalho, são propostas ações políticas que o governo deveria conduzir para estimular a abertura de novas frentes em cadeias consideradas competitivas e minimizar os riscos sobre aquelas ameaçadas de dizimação ante a maior competitividade externa.

Das 20 cadeias produtivas analisadas, 18 foram escolhidas a partir de sua importância para a balança comercial e o peso na estrutura produtiva brasileira. As duas exceções foram os segmentos de saúde e tecnologia, presentes no levantamento por serem considerados estratégicos para o desenvolvimento tecnológico do país.

De acordo com o documento, os setores analisados representavam em 2000, o equivalente a 53% do faturamento da indústria brasileira, respondiam por 63% das exportações e 67% das importações. Entre 1996 e 2000, o faturamento de 17 deles (exceto saúde, biotecnologia e construção naval) cresceu em média 3,8% ao ano _média superior ao do PIB no mesmo período. Expansão esta acompanhada de um acentuado processo de desnacionalização: no mesmo período, a participação de estrangeiro no faturamento passou de 35,86%, em 1996, para 51,76%, em 2000.

De 18 cadeias produtivas (saúde e biotecnologia mais uma vez são excluídas), 10 tiveram balança comercial deficitária entre 1996 e 2001, na soma geral dos negócios com a UE (União Européia), Aladi (acordo comercial dos países latinos), não incluído o México, e Nafta. O saldo acumulado deficitário da balança desses dez setores foi de US$ 117,5 bilhões em cinco anos. Rombo em parte compensado pelo superávit de US$ 84,6 bilhões acumuladas pelos oito demais setores obtiveram nas transações com os três blocos. No final, entre 1996 e 2001, a balança comercial brasileira (somados todos os setores) acumulou um déficit de US$ 19,7 bilhões com os três blocos _o déficit das 18 cadeias foi de US$ 32,9 bilhões.

No calhamaço de mais de 1.000 páginas, as cadeias estão separadas em quatro grupos. Na primeira estão aquelas que sofreriam menores ameaças com a liberalização (comercial): café, papel e celulose, cítricos, couro e calçados, siderurgia e têxtil e confecções. Os pesquisadores fazem ressalvas: num mesmo segmento dos "competitivos", como o têxtil, segmentos com alto índice de mecanização (grandes empresas integradas) convivem com outros deficientes (pequenas confecções), marcados pela informalidade e atraso tecnológico.

De qualquer forma, para esse grupo dos "competitivos", a prioridade na negociações, diz o estudo, é garantir maior acesso a mercados externos. Por outro lado, a política governamental deveria privilegiar ações para reforçar a condição competitiva já existente.

Em uma segundo grupo figuram as cadeias produtivas com sérias deficiências competitivas e que são "cronicamente deficitárias". A saber: bens de capital, química e petroquímica, transformação plástica e naval. Os analistas recomendam "ter máxima cautela na negociação dos cronogramas de redução tarifária".

No terceiro grupo estão as cadeias em que as oportunidades de negócios e as ameaças seriam localizadas ou se anulariam. Seriam enquadrados nessa cadeia os setores madeireiro e de móveis, dependentes de certificação ambiental, de cosméticos, em que o produto nacional para se tornar competitivo precisa de diferenciação de merca e distribuição, e aqueles considerados pouco transacionáveis, como cerâmica. Recomenda-se para essas indústrias políticas de favoráveis à internacionalização, diferenciação dos produtos e ambientais.

Por fim, no quarto grupo estão as empresas com forte participação na chamada corrente de comércio, em sua maioria deficitárias, mas na qual predomina o comércio intrafirma, como a indústria automobilística.
 

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