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29/12/2002
-
16h31
Nem tudo é harmonia no mundo da música. E um debate secular dessa arte está chegando ao campo da administração empresarial: o que é melhor, a liberdade improvisatória das bandas de jazz ou a disciplina organizacional das orquestras sinfônicas?
Para conhecer os argumentos dos defensores de cada lado, a Folha acompanhou dois workshops. Um deles se chama "Jazz x Gestão de Empresas". O outro atende pelo nome de "Sinfonia Empresarial".
A maneira como cada um aconteceu já dá uma idéia da diferença de abordagem.
O primeiro aconteceu num galpão em um hotel-fazenda no interior de São Paulo, a pessoa mais bem vestida trajava calça jeans e camisa pólo e a platéia bebericava cerveja enquanto tentava decifrar conceitos como coordenação de processos e multifuncionalidade.
No encontro "sinfônico", havia gente de terno com corte acima da média, o ambiente era um galpão de uma empresa na capital, só havia água para beber durante o workshop e todos estavam acomodados em cadeiras de plástico, é verdade, mas recobertas com uma capa de tecido que lhes emprestava certa dignidade.
Ao vivo
Montados os cenários, os roteiros seguiram direção parecida. Por cerca de duas horas, o palestrante produz metáforas que se aplicam tanto a organizações musicais quanto empresariais. Tudo pontuado com exemplos sonoros executados ao vivo.
Com o Zimbo Trio na retaguarda, o consultor Luis Felipe Cortonie, 49, fala sobre como, na avaliação dele, as organizações modernas priorizam profissionais com capacidade de improviso, que consigam criar uma visão de futuro e que não tenham problema em transferir idéias de um campo de conhecimento para outro.
É a senha para que o grupo musical comece a tocar "Lamento", de Pixinguinha (1897-1973). No meio da execução, o pianista Amilton Godoy faz a música passear pelas orquestrações do jazzista Duke Ellington, o baixista Itamar Collaço cita "Tico-Tico no Fubá" durante seu solo, e o baterista Rubinho Barsotti passa o tempo todo lembrando que a composição é um chorinho.
Corte para a orquestra. O maestro Walter Lourenção, 72, defende as virtudes da auto-superação. Fala sobre como o medo de não estar à altura das responsabilidades pode despertar no profissional a busca pelo aperfeiçoamento.
Para ilustrar e para servir como uma metáfora de incentivo à transformação, a orquestra toca "Trumpet Voluntary", composta pelo inglês Jeremiah Clarke (1674-1707).
"Viver significa decidir, escolher, usar o dom pessoal", conclui o maestro.
Divergências
Embora, no geral, valorizem a importância do indivíduo no resultado final do trabalho, "jazzistas" e "sinfônicos" divergem sobre sutilezas conceituais.
A questão do erro é um exemplo. Para o maestro, ele deve ser combatido com muita preparação e controle de qualidade.
"Faz parte do trabalho, mas o erro é raro entre músicos dessa categoria."
Do outro lado, há mais tolerância. Consultor e Zimbo Trio concordam que o erro "pode apontar um novo caminho".
"Quando nós três erramos juntos, vira certo", arrisca Barsotti, o baterista.
Outro tema caro nos dois encontros é o improviso. Na opinião do consultor Cortonie, ele é bem-vindo nas organizações modernas e traz consigo outros conceitos também tidos como benéficos. Dinamismo, iniciativa, liderança compartilhada, humor e versatilidade são alguns deles.
Geração de empregos
Lourenção começa questionando o conceito de improviso no jazz, dizendo que há ali normas restritivas a serem seguidas e que, na música erudita, há espaço para que o instrumentista crie, apesar do controle centralizador do maestro.
"Não há como colocar na partitura todos os aspectos de uma composição musical."
Assim, quer seja com um controle mais rigoroso e liberdade de ação limitada ou com rédeas mais soltas e abertura para iniciativas pessoais, ambos workshops despertam, no mínimo, uma reflexão a respeito das organizações e trazem um efeito benéfico imediato: geram empregos para músicos.
ONDE ENCONTRAR
"Jazz x Gestão de Empresas": na consultoria LCZ, tel. 0/xx/11/5182-7779;
"Sinfonia Empresarial": na empresa Arte & Comunicação, tel. 0/xx/11/ 5181-4182. Em ambos os casos, os preços variam conforme o número de pessoas na platéia e uma série de serviços opcionais
Músicos afinam "cordas" da empresa
da Folha de S. PauloNem tudo é harmonia no mundo da música. E um debate secular dessa arte está chegando ao campo da administração empresarial: o que é melhor, a liberdade improvisatória das bandas de jazz ou a disciplina organizacional das orquestras sinfônicas?
Para conhecer os argumentos dos defensores de cada lado, a Folha acompanhou dois workshops. Um deles se chama "Jazz x Gestão de Empresas". O outro atende pelo nome de "Sinfonia Empresarial".
A maneira como cada um aconteceu já dá uma idéia da diferença de abordagem.
O primeiro aconteceu num galpão em um hotel-fazenda no interior de São Paulo, a pessoa mais bem vestida trajava calça jeans e camisa pólo e a platéia bebericava cerveja enquanto tentava decifrar conceitos como coordenação de processos e multifuncionalidade.
No encontro "sinfônico", havia gente de terno com corte acima da média, o ambiente era um galpão de uma empresa na capital, só havia água para beber durante o workshop e todos estavam acomodados em cadeiras de plástico, é verdade, mas recobertas com uma capa de tecido que lhes emprestava certa dignidade.
Ao vivo
Montados os cenários, os roteiros seguiram direção parecida. Por cerca de duas horas, o palestrante produz metáforas que se aplicam tanto a organizações musicais quanto empresariais. Tudo pontuado com exemplos sonoros executados ao vivo.
Com o Zimbo Trio na retaguarda, o consultor Luis Felipe Cortonie, 49, fala sobre como, na avaliação dele, as organizações modernas priorizam profissionais com capacidade de improviso, que consigam criar uma visão de futuro e que não tenham problema em transferir idéias de um campo de conhecimento para outro.
É a senha para que o grupo musical comece a tocar "Lamento", de Pixinguinha (1897-1973). No meio da execução, o pianista Amilton Godoy faz a música passear pelas orquestrações do jazzista Duke Ellington, o baixista Itamar Collaço cita "Tico-Tico no Fubá" durante seu solo, e o baterista Rubinho Barsotti passa o tempo todo lembrando que a composição é um chorinho.
Corte para a orquestra. O maestro Walter Lourenção, 72, defende as virtudes da auto-superação. Fala sobre como o medo de não estar à altura das responsabilidades pode despertar no profissional a busca pelo aperfeiçoamento.
Para ilustrar e para servir como uma metáfora de incentivo à transformação, a orquestra toca "Trumpet Voluntary", composta pelo inglês Jeremiah Clarke (1674-1707).
"Viver significa decidir, escolher, usar o dom pessoal", conclui o maestro.
Divergências
Embora, no geral, valorizem a importância do indivíduo no resultado final do trabalho, "jazzistas" e "sinfônicos" divergem sobre sutilezas conceituais.
A questão do erro é um exemplo. Para o maestro, ele deve ser combatido com muita preparação e controle de qualidade.
"Faz parte do trabalho, mas o erro é raro entre músicos dessa categoria."
Do outro lado, há mais tolerância. Consultor e Zimbo Trio concordam que o erro "pode apontar um novo caminho".
"Quando nós três erramos juntos, vira certo", arrisca Barsotti, o baterista.
Outro tema caro nos dois encontros é o improviso. Na opinião do consultor Cortonie, ele é bem-vindo nas organizações modernas e traz consigo outros conceitos também tidos como benéficos. Dinamismo, iniciativa, liderança compartilhada, humor e versatilidade são alguns deles.
Geração de empregos
Lourenção começa questionando o conceito de improviso no jazz, dizendo que há ali normas restritivas a serem seguidas e que, na música erudita, há espaço para que o instrumentista crie, apesar do controle centralizador do maestro.
"Não há como colocar na partitura todos os aspectos de uma composição musical."
Assim, quer seja com um controle mais rigoroso e liberdade de ação limitada ou com rédeas mais soltas e abertura para iniciativas pessoais, ambos workshops despertam, no mínimo, uma reflexão a respeito das organizações e trazem um efeito benéfico imediato: geram empregos para músicos.
ONDE ENCONTRAR
"Jazz x Gestão de Empresas": na consultoria LCZ, tel. 0/xx/11/5182-7779;
"Sinfonia Empresarial": na empresa Arte & Comunicação, tel. 0/xx/11/ 5181-4182. Em ambos os casos, os preços variam conforme o número de pessoas na platéia e uma série de serviços opcionais
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