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12/01/2003 - 05h17

Futuro do BNDES continua incerto, dizem analistas

ANTÔNIO GOIS
BONANÇA MOUTEIRA
PEDRO SOARES

da Folha de S.Paulo, no Rio

A estratégia do governo de Luiz Inácio Lula da Silva de utilizar o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) como pilar de uma nova política industrial, mesmo que isso signifique maiores riscos de crédito à instituição, preocupa especialistas. Contra ou a favor, a maioria é consensual ao dizer que ainda faltam sinais mais claros sobre o real futuro do banco.

Na visão de Gustavo Loyola, ex-presidente do BC (Banco Central), assusta o fato de a nova direção admitir emprestar dinheiro com mais risco de não recebê-lo de volta. Para ele, o modelo já foi testado nas décadas de 70 e 80, com a alegação de fazer política setorial, e não deu certo. O banco perdeu dinheiro e não promoveu o desenvolvimento dos segmentos eleitos como prioritários. Exemplo: a indústria naval.

"As mensagens até agora são muito pouco claras e bastante desencontradas. Mas me parece que a idéia é que o banco volte a ser o que era nos anos 80, quando o objetivo era substituir importações e proteger a industria nacional", afirma Loyola.

Em entrevista à Folha na semana passada, o novo diretor do BNDES Roberto Timotheo da Costa afirmou que, "para alcançar os grandes objetivos nacionais, é razoável que [o banco" aceite se expor mais ao risco".

Um ex-presidente do BNDES, que pede para não ser identificado, também se diz preocupado com discursos mais próximos da visão da década de 80 da nova diretoria do banco, cujo novo presidente, Carlos Lessa, deve tomar posse na próxima terça-feira, em Brasília. Lessa foi diretor do BNDES em meados dos anos 80.

"O BNDES hoje é um banco mais complicado do que era na década de 80. A realidade é outra. Ele evoluiu muito e foi se aperfeiçoando até chegar à atual estrutura. Hoje há mais rigor na análise do crédito. Até porque o dinheiro não é do banco, pertence aos trabalhadores", diz o ex-presidente.

Para esse ex-presidente, preocupa o fato de a nova diretoria sinalizar mudanças bruscas. "O discurso da nova diretoria diz que está tudo errado. Essa constatação de que não deu certo tem que ser feita olhando também o que está sendo feito de positivo. O banco não está indo à falência."

Com orçamento de R$ 34 bilhões em 2003, o BNDES é o maior financiador de longo prazo do país e empresta a uma taxa de juro menor do que a de mercado. É ainda acionista de 156 empresas -entre elas, Telemar, Klabin e Embraer-, preenchendo uma lacuna deixada pela falta de um mercado de capitais ativo no país. No ano passado, os empréstimos do banco somaram R$ 31 bilhões.

Negócio de risco
Ex-presidente do BNDES, André Franco Montoro Filho afirma não crer numa mudança radical. "Não acredito que o Lessa vá desrespeitar os princípios financeiros implementados pelo [ex-presidente do BNDES Francisco" Gros. É claro que ele não vai financiar projetos inviáveis só para priorizar o social."

José Pio Borges, também ex-presidente do banco, concorda com Montoro Filho. "Lessa é muito respeitado dentro do banco e já foi diretor. Não acho que ele esteja enfocando uma volta ao protecionismo irrestrito, sem levar em conta a competitividade das empresas", afirma Borges.
Montoro Filho lembra que parte dos recursos do banco é do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e precisa ser remunerado. "O Lessa não vai desprezar isso", afirma.

Antônio Carlos Pôrto Gonçalves, economista da FGV, tem uma visão menos otimista. Cobra que o banco opere avaliando riscos como qualquer outra instituição financeira.

"O BNDES é um banco. Sem uma análise cuidadosa de risco, quebra. É claro que em algumas áreas, como micro e pequenas empresas e na área social, se deve assumir mais risco. Mas a ênfase na análise de risco é fundamental. Se não for feita, será o mesmo que distribuir renda para empresários", diz.

Para Adjarma Azevedo, presidente da Alcoa, uma das maiores empresas de alumínio do mundo, os sinais dados por Lessa são positivos. "Haverá uma dedicação maior ao social e a pequenas e médias empresas", afirma.

Ele afirmou ainda que o investimento em infra-estrutura também deve ser um dos focos do banco. A Alcoa investe em geração de energia.

Mercado de capitais
Tanto Pôrto Gonçalves quanto Loyola dizem que o BNDES não pode deixar de priorizar a promoção de um mercado de capitais forte no país.
É uma política, na visão deles, de desenvolvimento, pois permite às empresas ter acesso a recursos de longo prazo a um custo menor.

"Grande parte da força da economia norte-americana está no mercado de capitais", afirma Loyola, para quem ainda está confuso, nas declarações da nova direção, qual será o destaque dado ao tema.
 

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