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24/01/2003
-
08h47
da Folha de S.Paulo, em Davos
O encontro anual 2003 do Fórum Econômico Mundial nem havia começado ainda, quando o empresário Roberto Teixeira da Costa (Banco Sul América), quinto ano em Davos, soube do aumento de juros adotado na véspera no Brasil. "É o que Davos gostaria de ouvir", comentou.
Tem razão. Todos os comentários dos frequentadores habituais de Davos enfatizam a necessidade de o Brasil manter a ortodoxia na política fiscal (o governo gastar bem menos do que arrecada) e o aperto monetário (juros altos).
"O governo Lula tem que agradar mais Davos que Porto Alegre, por causa do elevado endividamento que herdou, sob pena de ir ao calote, que seria o desastre", sintetiza, por exemplo, Martin Wolf, principal colunista econômico do jornal britânico "Financial Times" e, como tal, uma espécie de grande oráculo de Davos e da comunidade de negócios.
Para Wolf, "a questão central é se o governo Lula pode sustentar disciplina fiscal e política monetária apertada este ano. Se puder, será um ano duro, mas dentro de dois ou três anos estarão dadas as condições para um prolongado período de crescimento sustentado". Mesmo uma economista menos ortodoxa louva o fato de que o governo do PT está anunciando a manutenção (no mínimo) do superávit fiscal acertado pelo governo anterior com o Fundo Monetário Internacional.
Prudência fiscal
"Prudência fiscal é a melhor forma de contrato social", diz Nancy Birdsall, presidente do Centro para o Desenvolvimento Global (EUA), depois de ter trabalhado vários anos no Banco Mundial, como especialista em programas de combate à pobreza, a outra prioridade do PT.
Nancy Birdsall vê profundas consequências políticas no sucesso de um governo como o de Lula. "Se ele conseguir a reforma social com prudência fiscal, será a morte do populismo", atreve-se a prever a economista, pós-graduada pela legendária Universidade Yale.
Outro heterodoxo, Dani Rodrik (Harvard), crítico frequente do fanatismo pelo livre comércio, acha que Lula não precisa "estourar as contas públicas" para fazer as reformas sociais que prometeu na campanha. É mais uma questão de eficiência do que de recursos, acha Rodrik.
Mas é óbvio que o pensamento ortodoxo em Davos eleva os aplausos a Lula à mais alta sonoridade. "Lula está criando um imagem mundial muito forte e positiva", acredita Gail Fosler, vice-presidente e economista-chefe da "Conference Board", um conglomerado de pesquisa sobre negócios que reúne 3.000 corporações em 67 países e, nos Estados Unidos, mede a confiança do consumidor, um indicador crítico.
Imagem positiva
É claro que a "imagem positiva" vem do fato de que, na visão de Fosler, "o novo ministro da Fazenda fez todos os movimentos corretos". Ou seja, fez todos os movimentos que Porto Alegre critica mas que Davos aplaude.
Por isso, Moisés Naím, ex-ministro venezuelano e hoje editor da publicação trimestral "Foreign Policy", exagera: "Lula entregou a política econômica a Wall Street e a política externa ao PT". É uma alusão às gestões de Lula na crise da Venezuela, vistas como favoráveis ao presidente Hugo Chávez, do qual Naím é feroz crítico.
A economista Gail Fosler disse também que estava "impressionada" com o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O Brasil tem em relação à América Latina, um papel similar dos Estados Unidos em relação a economia global", disse Gail, que está participando do 33º Fórum Econômico nesta cidade.
"O governo de Lula está dando sinais de que promoverá uma política sólida para tentar resolver o problema da dívida pública, com a manutenção de uma firme política fiscal e adoção de reformas. O País está indo na direção certa", afirmou.
Brasil e China
Segundo Gail, o Brasil é um país com características semelhantes às da China, país que vem alcançando avanços significativos na área econômica. "Como a China, o Brasil tem uma grande população, uma economia dinâmica e produtiva e poderá através de reformas que criem estruturas econômicas sólidas, obter avanços importantes nas próximas décadas", afirmou.
A economista salientou que a situação da América Latina ainda é determinada pela política. "Por isso é fundamental a criação de estruturas econômicas sustentáveis na região e que sejam imunes às mudanças de caráter político".
Gail também elogiou o fato de o presidente Lula participar do Fórum Econômico e isto poderá reforçar ainda mais o sentimento positivo no exterior em relação ao novo governo federal.
Lula e Davos já falam a mesma língua
CLÓVIS ROSSIda Folha de S.Paulo, em Davos
O encontro anual 2003 do Fórum Econômico Mundial nem havia começado ainda, quando o empresário Roberto Teixeira da Costa (Banco Sul América), quinto ano em Davos, soube do aumento de juros adotado na véspera no Brasil. "É o que Davos gostaria de ouvir", comentou.
Tem razão. Todos os comentários dos frequentadores habituais de Davos enfatizam a necessidade de o Brasil manter a ortodoxia na política fiscal (o governo gastar bem menos do que arrecada) e o aperto monetário (juros altos).
"O governo Lula tem que agradar mais Davos que Porto Alegre, por causa do elevado endividamento que herdou, sob pena de ir ao calote, que seria o desastre", sintetiza, por exemplo, Martin Wolf, principal colunista econômico do jornal britânico "Financial Times" e, como tal, uma espécie de grande oráculo de Davos e da comunidade de negócios.
Para Wolf, "a questão central é se o governo Lula pode sustentar disciplina fiscal e política monetária apertada este ano. Se puder, será um ano duro, mas dentro de dois ou três anos estarão dadas as condições para um prolongado período de crescimento sustentado". Mesmo uma economista menos ortodoxa louva o fato de que o governo do PT está anunciando a manutenção (no mínimo) do superávit fiscal acertado pelo governo anterior com o Fundo Monetário Internacional.
Prudência fiscal
"Prudência fiscal é a melhor forma de contrato social", diz Nancy Birdsall, presidente do Centro para o Desenvolvimento Global (EUA), depois de ter trabalhado vários anos no Banco Mundial, como especialista em programas de combate à pobreza, a outra prioridade do PT.
Nancy Birdsall vê profundas consequências políticas no sucesso de um governo como o de Lula. "Se ele conseguir a reforma social com prudência fiscal, será a morte do populismo", atreve-se a prever a economista, pós-graduada pela legendária Universidade Yale.
Outro heterodoxo, Dani Rodrik (Harvard), crítico frequente do fanatismo pelo livre comércio, acha que Lula não precisa "estourar as contas públicas" para fazer as reformas sociais que prometeu na campanha. É mais uma questão de eficiência do que de recursos, acha Rodrik.
Mas é óbvio que o pensamento ortodoxo em Davos eleva os aplausos a Lula à mais alta sonoridade. "Lula está criando um imagem mundial muito forte e positiva", acredita Gail Fosler, vice-presidente e economista-chefe da "Conference Board", um conglomerado de pesquisa sobre negócios que reúne 3.000 corporações em 67 países e, nos Estados Unidos, mede a confiança do consumidor, um indicador crítico.
Imagem positiva
É claro que a "imagem positiva" vem do fato de que, na visão de Fosler, "o novo ministro da Fazenda fez todos os movimentos corretos". Ou seja, fez todos os movimentos que Porto Alegre critica mas que Davos aplaude.
Por isso, Moisés Naím, ex-ministro venezuelano e hoje editor da publicação trimestral "Foreign Policy", exagera: "Lula entregou a política econômica a Wall Street e a política externa ao PT". É uma alusão às gestões de Lula na crise da Venezuela, vistas como favoráveis ao presidente Hugo Chávez, do qual Naím é feroz crítico.
A economista Gail Fosler disse também que estava "impressionada" com o início do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O Brasil tem em relação à América Latina, um papel similar dos Estados Unidos em relação a economia global", disse Gail, que está participando do 33º Fórum Econômico nesta cidade.
"O governo de Lula está dando sinais de que promoverá uma política sólida para tentar resolver o problema da dívida pública, com a manutenção de uma firme política fiscal e adoção de reformas. O País está indo na direção certa", afirmou.
Brasil e China
Segundo Gail, o Brasil é um país com características semelhantes às da China, país que vem alcançando avanços significativos na área econômica. "Como a China, o Brasil tem uma grande população, uma economia dinâmica e produtiva e poderá através de reformas que criem estruturas econômicas sólidas, obter avanços importantes nas próximas décadas", afirmou.
A economista salientou que a situação da América Latina ainda é determinada pela política. "Por isso é fundamental a criação de estruturas econômicas sustentáveis na região e que sejam imunes às mudanças de caráter político".
Gail também elogiou o fato de o presidente Lula participar do Fórum Econômico e isto poderá reforçar ainda mais o sentimento positivo no exterior em relação ao novo governo federal.
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