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09/02/2003
-
06h34
da Folha de S.Paulo
Haverá uma overdose de queima de estoque de produtos neste início de ano, em níveis superiores aos de outros anos, em uma tentativa do varejo de reforçar o caixa com mais capital de giro. Até mesmo mercadorias que a indústria já considerava encalhadas devem ser compradas pelas lojas para reforçar as promoções.
Como se não bastasse a atual campanha maciça das lojas em janeiro, ainda ocorrerão promoções durante todo o primeiro trimestre. A ação nesse sentido de prolongar ao máximo as promoções foi tomada pelas próprias redes varejistas, e já é percebida pelas entidades do setor.
Por decisão dos lojistas, a Liquida São Paulo, a mais importante ação promocional na capital paulista, mudou de data em relação ao ano passado e acontecerá de 22 de fevereiro a 2 de março. Em 2002, a queima de produtos iniciou-se no fim de janeiro.
Com a mudança nas datas, as lojas tentam ser mais eficientes, atuando em dois campos: 1) promovem campanhas agressivas em janeiro, com saldões de mercadorias que não foram vendidas em dezembro; 2) para fevereiro e março, reforçam o estoque promocional com peças da coleção de verão -que já eram até consideradas mercadoria encalhada para os fabricantes.
"Juntamos tecidos e retalhos, fazemos novas peças para tentar abastecer novas queimas, já que, neste ano, as liquidações vão se estender por aí como nunca", diz Roberto Chadad, presidente da Abravest (Associação Brasileira do Vestuário).
Bom para todos
Na prática, o que o varejo, ao lado dos fornecedores, decidiu fazer é "aproveitar" o atual cronograma de promoções e todo o apelo comercial em torno disso -os descontos chegam a até 70% hoje- para tentar reforçar o caixa. Nessa, ganham todos: a indústria e o lojista. E até o consumidor, pois aumenta o volume de peças vendidas sem que ocorram elevações nos preços.
Até porque, com a renda do consumidor comprimida, o varejo de bens de consumo semi-duráveis já percebeu que não é possível aumentar a margem de lucro por meio de reajustes de preços.
De janeiro a dezembro de 2002, o preço de roupas femininas subiu apenas
4,58%, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). A inflação, em igual período, foi de 9,90%. Calçados e acessórios de vestuário sofreram um reajuste ainda menor: só 2% em 12 meses.
"Ainda devemos ter itens em saldões no final de fevereiro. Há um lote extra da indústria que pode ser comprado para reforçar a queima de mercadorias e isso deve elevar o resultado de vendas do mês", disse Marcel Solimeo, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
Em janeiro, já foi possível perceber uma certa melhora. O volume de vendas apurado pelo SCPC, sistema da ACSP, usado quando o lojista vai finalizar alguma operação a prazo, cresceu 1,2%. Já o Telecheque, que apura as operações à vista, subiu 4,7%.
Com essa expansão, há uma tendência de redução no patamar de itens encalhados tanto nas fábricas como nas prateleiras. Não há dados confiáveis que mostrem o nível de estoques (em dias) no varejo. Mas é possível medir isso de outra forma.
Em outubro e novembro, quando se produz para entregar na virada do ano, o uso da capacidade instalada das fábricas de bens duráveis estava em 80% em média. Ou ligeiramente acima do apurado em igual período do ano anterior, segundo dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Portanto, produziu-se mais. No entanto, vendeu-se pouco.
Isso porque no último Natal, as vendas reais cresceram 3,5% em relação a 2001, quando houve queda na comercialização. Ou seja, havia espaço para uma alta bem maior, que não ocorreu.
Logo, o patamar de estoques acabou crescendo. Um cenário que resultou na atual estratégia das redes varejistas, de alongamento no período de liquidações.
Sem prazo
Nos shoppings, nem sempre sequer há prazo para o fim das liquidações de verão. No Shopping Higienópolis, na zona oeste de São Paulo, a data de término dos saldões depende de cada lojista e de seu calendário. Atualmente, 50% das lojas estão em liquidação, com descontos entre 20% e 60%.
Na liquidação do Shopping Paulista, há 61 lojas fazendo promoções e a substituição das linhas de produtos pela coleção de meia-estação também vai ser determinada por cada loja. "Não existem mais quatro estações muito bem definidas na visão do mercado. E as lojas aprenderam a operar com mais flexibilidade dentro desse cenário", diz Chadad.
Varejo faz "overdose" de saldões para reforçar o caixa
ADRIANA MATTOSda Folha de S.Paulo
Haverá uma overdose de queima de estoque de produtos neste início de ano, em níveis superiores aos de outros anos, em uma tentativa do varejo de reforçar o caixa com mais capital de giro. Até mesmo mercadorias que a indústria já considerava encalhadas devem ser compradas pelas lojas para reforçar as promoções.
Como se não bastasse a atual campanha maciça das lojas em janeiro, ainda ocorrerão promoções durante todo o primeiro trimestre. A ação nesse sentido de prolongar ao máximo as promoções foi tomada pelas próprias redes varejistas, e já é percebida pelas entidades do setor.
Por decisão dos lojistas, a Liquida São Paulo, a mais importante ação promocional na capital paulista, mudou de data em relação ao ano passado e acontecerá de 22 de fevereiro a 2 de março. Em 2002, a queima de produtos iniciou-se no fim de janeiro.
Com a mudança nas datas, as lojas tentam ser mais eficientes, atuando em dois campos: 1) promovem campanhas agressivas em janeiro, com saldões de mercadorias que não foram vendidas em dezembro; 2) para fevereiro e março, reforçam o estoque promocional com peças da coleção de verão -que já eram até consideradas mercadoria encalhada para os fabricantes.
"Juntamos tecidos e retalhos, fazemos novas peças para tentar abastecer novas queimas, já que, neste ano, as liquidações vão se estender por aí como nunca", diz Roberto Chadad, presidente da Abravest (Associação Brasileira do Vestuário).
Bom para todos
Na prática, o que o varejo, ao lado dos fornecedores, decidiu fazer é "aproveitar" o atual cronograma de promoções e todo o apelo comercial em torno disso -os descontos chegam a até 70% hoje- para tentar reforçar o caixa. Nessa, ganham todos: a indústria e o lojista. E até o consumidor, pois aumenta o volume de peças vendidas sem que ocorram elevações nos preços.
Até porque, com a renda do consumidor comprimida, o varejo de bens de consumo semi-duráveis já percebeu que não é possível aumentar a margem de lucro por meio de reajustes de preços.
De janeiro a dezembro de 2002, o preço de roupas femininas subiu apenas
4,58%, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). A inflação, em igual período, foi de 9,90%. Calçados e acessórios de vestuário sofreram um reajuste ainda menor: só 2% em 12 meses.
"Ainda devemos ter itens em saldões no final de fevereiro. Há um lote extra da indústria que pode ser comprado para reforçar a queima de mercadorias e isso deve elevar o resultado de vendas do mês", disse Marcel Solimeo, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
Em janeiro, já foi possível perceber uma certa melhora. O volume de vendas apurado pelo SCPC, sistema da ACSP, usado quando o lojista vai finalizar alguma operação a prazo, cresceu 1,2%. Já o Telecheque, que apura as operações à vista, subiu 4,7%.
Com essa expansão, há uma tendência de redução no patamar de itens encalhados tanto nas fábricas como nas prateleiras. Não há dados confiáveis que mostrem o nível de estoques (em dias) no varejo. Mas é possível medir isso de outra forma.
Em outubro e novembro, quando se produz para entregar na virada do ano, o uso da capacidade instalada das fábricas de bens duráveis estava em 80% em média. Ou ligeiramente acima do apurado em igual período do ano anterior, segundo dados da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Portanto, produziu-se mais. No entanto, vendeu-se pouco.
Isso porque no último Natal, as vendas reais cresceram 3,5% em relação a 2001, quando houve queda na comercialização. Ou seja, havia espaço para uma alta bem maior, que não ocorreu.
Logo, o patamar de estoques acabou crescendo. Um cenário que resultou na atual estratégia das redes varejistas, de alongamento no período de liquidações.
Sem prazo
Nos shoppings, nem sempre sequer há prazo para o fim das liquidações de verão. No Shopping Higienópolis, na zona oeste de São Paulo, a data de término dos saldões depende de cada lojista e de seu calendário. Atualmente, 50% das lojas estão em liquidação, com descontos entre 20% e 60%.
Na liquidação do Shopping Paulista, há 61 lojas fazendo promoções e a substituição das linhas de produtos pela coleção de meia-estação também vai ser determinada por cada loja. "Não existem mais quatro estações muito bem definidas na visão do mercado. E as lojas aprenderam a operar com mais flexibilidade dentro desse cenário", diz Chadad.
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