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14/02/2003
-
13h39
da Folha Online
O pedido de falência feito ontem pela operadora Stella Barros expõe as dificuldades que o setor de viagens vem enfrentando no Brasil.
Castigado pela desvalorização do real a partir de 1999 e a turbulência internacional que se arrasta desde os atentados aos Estados Unidos em setembro de 2001, o setor teve de buscar apoio no turismo doméstico para não afundar de vez.
A estimativa da Abav (Associação Brasileira das Agências de Viagens) é que o setor de turismo tenha fechado o ano passado com crescimento zero e um movimento de US$ 10 bilhões. Apesar do faturamento estagnado, o número de viagens apresentou crescimento de 41,4 milhões em 2001 para 43,4 milhões no ano passado, segundo a Embratur. A explicação está na queda das viagens internacionais, que geralmente são mais caras.
Em 1998, ano anterior à maxidesvalorização do real, 70% dos pacotes de viagens comercializados no Brasil tinham como destino países do exterior. Os destinos domésticos ficavam com 30%. Em 1999, o mercado doméstico já absorvia quase 50% do total e em 2000 veio a virada: 70% dos pacotes para o mercado doméstico e 30% para os destinos internacionais. A proporção se mantém desde então.
Se o mercado doméstico livrou o setor de fechar no vermelho, por outro lado as agências viram a rentabilidade esvair-se rapidamente por conta da alternância nos destinos. A venda de pacotes para países do exterior é mais lucrativa. Atualmente o comissionamento para as agências é de 9% sobre a passagem internacional e 10% sobre a nacional. Como os valores das passagens internacionais são cotados em dólares, o ganho final é bem maior.
Segundo a Abav, em 2002 o turismo doméstico cresceu 20%, apoiado na desvalorização do real. No mercado internacional, alta de 15% para os destinos europeus, com destaque para França e Espanha. Neste ano as viagens ainda estão a todo vapor para a Europa por conta da baixa temporada, mas a previsão é que o ritmo caia nos próximos meses com a valorização do euro.
Já para os Estados Unidos _principal destino da Stella Barros_ foi registrada uma queda de aproximadamente 20% sobre os volumes comercializados antes de 11 de setembro. Além da iminente guerra contra o Iraque, os EUA continuam como alvo principal de ataques terroristas e, por isso, endureceram a restrição à entrada de estrangeiros.
Para o presidente da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), Ilya Hirsch, além de conviver com os problemas da variação climática, o setor está sujeito à instabilidades como a guerra. ''O segredo é reagir rapidamente a estas mudanças. O hemisfério Norte está prestes a entrar em guerra? Vamos estimular o hemisfério Sul. O poder aquisitivo do brasileiro caiu muito nos últimos anos, então o que o setor faz? Vai procurar hotéis e destinos mais baratos. É uma questão de adaptação'', diz.
Hirsch reconhece que o setor passa por momentos delicados com a inversão dos destinos, mas garante que a maioria das empresas conseguiu adaptar-se. Antes da desvalorização e dos atentados, algumas operadoras no Brasil só operavam com destinos no exterior e hoje têm nos pacotes para resorts do Nordeste uma fatia importante de seu faturamento.
No caso específico da Stella Barros, Hirsch diz que o maior pecado da operadora foi concentrar-se em um único destino, no caso a Disney, e alimentar uma identidade tão forte com o parque de diversões norte-americano. ''Depois do atentado, que pai mandaria um filho para a Disney? Ainda assim a empresa demorou muito tempo para reagir e buscar novos destinos'', comenta.
Outro problema, na visão do presidente da Braztoa, foi manter uma estrutura muito grande para a realidade do mercado. Uma dívida remanescente da Copa do Mundo de 1998, que chegava aos US$ 2 milhões, ajudou a completar o cenário de problemas. Naquela época, a Stella Barros vendeu pacotes para a Copa, mas não conseguiu os ingressos para todos os clientes. Teve de recorrer ao câmbio negro e desde então não conseguiu recuperar o prejuízo.
Falência da Stella Barros expõe crise do setor de turismo
REJANE BRAZda Folha Online
O pedido de falência feito ontem pela operadora Stella Barros expõe as dificuldades que o setor de viagens vem enfrentando no Brasil.
Castigado pela desvalorização do real a partir de 1999 e a turbulência internacional que se arrasta desde os atentados aos Estados Unidos em setembro de 2001, o setor teve de buscar apoio no turismo doméstico para não afundar de vez.
A estimativa da Abav (Associação Brasileira das Agências de Viagens) é que o setor de turismo tenha fechado o ano passado com crescimento zero e um movimento de US$ 10 bilhões. Apesar do faturamento estagnado, o número de viagens apresentou crescimento de 41,4 milhões em 2001 para 43,4 milhões no ano passado, segundo a Embratur. A explicação está na queda das viagens internacionais, que geralmente são mais caras.
Em 1998, ano anterior à maxidesvalorização do real, 70% dos pacotes de viagens comercializados no Brasil tinham como destino países do exterior. Os destinos domésticos ficavam com 30%. Em 1999, o mercado doméstico já absorvia quase 50% do total e em 2000 veio a virada: 70% dos pacotes para o mercado doméstico e 30% para os destinos internacionais. A proporção se mantém desde então.
Se o mercado doméstico livrou o setor de fechar no vermelho, por outro lado as agências viram a rentabilidade esvair-se rapidamente por conta da alternância nos destinos. A venda de pacotes para países do exterior é mais lucrativa. Atualmente o comissionamento para as agências é de 9% sobre a passagem internacional e 10% sobre a nacional. Como os valores das passagens internacionais são cotados em dólares, o ganho final é bem maior.
Segundo a Abav, em 2002 o turismo doméstico cresceu 20%, apoiado na desvalorização do real. No mercado internacional, alta de 15% para os destinos europeus, com destaque para França e Espanha. Neste ano as viagens ainda estão a todo vapor para a Europa por conta da baixa temporada, mas a previsão é que o ritmo caia nos próximos meses com a valorização do euro.
Já para os Estados Unidos _principal destino da Stella Barros_ foi registrada uma queda de aproximadamente 20% sobre os volumes comercializados antes de 11 de setembro. Além da iminente guerra contra o Iraque, os EUA continuam como alvo principal de ataques terroristas e, por isso, endureceram a restrição à entrada de estrangeiros.
Para o presidente da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), Ilya Hirsch, além de conviver com os problemas da variação climática, o setor está sujeito à instabilidades como a guerra. ''O segredo é reagir rapidamente a estas mudanças. O hemisfério Norte está prestes a entrar em guerra? Vamos estimular o hemisfério Sul. O poder aquisitivo do brasileiro caiu muito nos últimos anos, então o que o setor faz? Vai procurar hotéis e destinos mais baratos. É uma questão de adaptação'', diz.
Hirsch reconhece que o setor passa por momentos delicados com a inversão dos destinos, mas garante que a maioria das empresas conseguiu adaptar-se. Antes da desvalorização e dos atentados, algumas operadoras no Brasil só operavam com destinos no exterior e hoje têm nos pacotes para resorts do Nordeste uma fatia importante de seu faturamento.
No caso específico da Stella Barros, Hirsch diz que o maior pecado da operadora foi concentrar-se em um único destino, no caso a Disney, e alimentar uma identidade tão forte com o parque de diversões norte-americano. ''Depois do atentado, que pai mandaria um filho para a Disney? Ainda assim a empresa demorou muito tempo para reagir e buscar novos destinos'', comenta.
Outro problema, na visão do presidente da Braztoa, foi manter uma estrutura muito grande para a realidade do mercado. Uma dívida remanescente da Copa do Mundo de 1998, que chegava aos US$ 2 milhões, ajudou a completar o cenário de problemas. Naquela época, a Stella Barros vendeu pacotes para a Copa, mas não conseguiu os ingressos para todos os clientes. Teve de recorrer ao câmbio negro e desde então não conseguiu recuperar o prejuízo.
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