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12/03/2003 - 15h30

Brasil só terá espaço para captar no exterior no fim do ano, diz Fitch

LUCIANA COELH0
da Folha Online

Apesar da surpreendente recuperação exibida pelos títulos da dívida brasileira neste início do ano, que se valorizaram em média 15% refletindo a conquista da confiança dos investidores externos, o atual momento ainda não permite que o governo volte a emitir títulos no exterior, avaliou Roger Scher, diretor administrativo da Fitch Ratings para países latino-americanos.

A agência de classificação de risco acaba de elevar a avaliação de perspectiva para o Brasil de ""negativa" para ""neutra", com base na performance dos papéis brasileiros no exterior e no comprometimento do governo empossado em janeiro com reformas para melhorar a saúde financeira do país.

Em conferência telefônica nesta quarta-feira, Scher afirmou que, apesar da surpreendente melhora dos ativos do país, ainda há outras variáveis domésticas e externas que pesam em uma captação do governo, que pretende emitir US$ 3 bilhões neste ano.

O melhor seria que esta ficasse para o fim do ano, quando se espera que a questão da possível guerra no Iraque esteja resolvida e a reforma previdenciária proposta pelo governo, pelo menos, encaminhada ao Congresso.

O analista elogiou o empenho do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em aprovar as reformas, que ele vê como cruciais para a retomada do crescimento sustentável do país. Scher ainda ressaltou que o compromisso que o governo tem demonstrado com os setores de saúde e educação, se mantido, deve ser fundamental para a manutenção do crescimento do país no longo prazo.

Para a Fitch, no entanto, o grande desafio do governo está por vir. Para conseguir a aprovação das reformas, Lula precisa ainda costurar uma coalizão no Congresso. Segundo ele, o antecessor de Lula, Fernando Henrique Cardoso, era um "mestre" na costura política, mas o atual presidente deve esbarrar em obstáculos para obter o apoio do qual precisa, sobretudo o do PMDB.

Ainda que com dificuldade, Scher acredita que as reformas serão aprovadas na primeira metade do mandato de Lula - a reforma da previdência, no final deste ano e a tributária, em 2004, prevê.

O que falta

O analista ressaltou o progresso das finanças do país desde o fim de outubro, quando chegaram ao fim as tensões pré-eleitorais que fizeram disparar o risco Brasil e fecharam para o país as portas do mercado de crédito internacional, e mencionou inúmeras vezes a importância da decisão do governo de aumentar de a meta do superávit primário para 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto).

Entretanto, ele ressaltou que há ainda uma lista de conquistas que faltam para que o Brasil mereça a avaliação ""positiva" da agência, todas elas mutuamente dependentes.

A primeira delas é o re-acesso ao mercado internacional de crédito, que aos poucos o país vem recuperando, mas que ainda está muito abaixo do nível desejável. Para tanto, será preciso que caiam os ""spreads" do país - o ágio cobrado por crédito ao governo e a empresas brasileiras em relação aos juros correntes do mercado, referenciados nos títulos norte-americanos.

Aí entra o segundo item: recuperar o fluxo de capitais para o país, que também esboça uma recuperação, mas é pífio se comparado ao registrado em 2000 e início de 2001, por exemplo.

O Brasil também vai precisar controlar novamente a inflação, cujos índices cresceram após a forte desvalorização do real no ano passado.

Com a taxa de câmbio em recuperação e os juros altos, o analista acredita que isso aconteceria logo, embora considere "impraticáveis" a atual meta ajustada de inflação para este ano, de 8,5%, e para o ano que vem, de 5,5%. Com isso, disse o analista, haveria possibilidade de se reduzir as taxas de juros, hoje em 26,5% ao ano, vistas como um empecilho ao crescimento do país, porque apesar de controlar a inflação, encarecem o crédito e aumentam a dívida.

Para Scher, reduzir a dívida depende muito mais de reduzir os juros do que da taxa de câmbio - uma vez que esta não ameace disparar - já que 48% da dívida pública brasileira está indexada à Selic e 36%, ao dólar.

Assim, o país se prende em um círculo vicioso que ainda precisa ser rompido para que a expectativa de crescimento da economia seja retomada. Só então o Brasil ganharia uma perspectiva "positiva", avaliou Scher.
 

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