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30/03/2003 - 05h50

Recuperação da economia iraquiana é uma caixa-preta

CÍNTIA CARDOSO
da Folha de S.Paulo

Fragilizada por duas décadas de guerra, a economia iraquiana terá de superar muitos obstáculos para voltar a pertencer ao rol dos países ricos do Oriente Médio.

As principais fragilidades econômicas do Iraque residem no volume expressivo de contas a pagar (estimado em US$ 383 bilhões), na desconfiança dos mercados internacionais e numa taxa decrescente do PIB (Produto Interno Bruto) nas últimas décadas.

Em 1979, quando figurava entre as potências da região, o PIB da economia iraquiana ficava em torno de US$ 54 bilhões. Hoje, com um contingente populacional triplicado, a EIU (Economist Intelligence Unit) estima que o patamar atual do PIB não ultrapasse US$ 28 bilhões.

A imposição do embargo comercial pela ONU (Organização das Nações Unidas) após o final da Guerra do Golfo, em 1991, também contribuiu para agravar a economia do país.

Antes das sanções, o Iraque exportava cerca de US$ 10 bilhões por ano. Atualmente, a receita obtida com as vendas externas é quase nula. Além disso, o país tornou-se extremamente dependente do programa "Petróleo por Comida", criado pela ONU. O programa condiciona a exportação de cotas de petróleo em troca de alimentos e de medicamentos para a população iraquiana.

"Não podemos culpar o embargo por todos os males da economia do Iraque. Mesmo antes, a situação já estava ruim. Durante os anos da guerra entre o Irã e o Iraque, por exemplo, não houve crescimento do PIB", diz Nariman Behravesh, economista-chefe da consultoria americana Global Insight.

O peso das sanções contra o Iraque também pode ser observado pelos elevados encargos financeiros do país.

Cálculos do CSIS (sigla em inglês para Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais) mostram que 52% do total dos débitos iraquianos (US$ 199 bilhões) vão para um fundo da ONU como compensação pela Guerra do Golfo.

Somam-se a essa dívida os problemas do mercado de trabalho -a maior parte da mão-de-obra iraquiana encontra-se na economia informal. O maior empregador é o Estado. Segundo o CSIS, a burocracia estatal emprega 800 mil pessoas do total de 6,45 milhões de iraquianos economicamente ativos.

A taxa de inflação elevada é outro mal que assombra o país. Cálculos de analistas ouvidos pela Folha projetam índice de 60%, mas não há dados oficiais.

Duas das principais organizações multilaterais -o Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional)- afirmam que não dispõem nem de informações atualizadas nem de especialistas para analisar a situação econômica do país.

Caminhos para a retomada

A despeito da deterioração econômica dos outros setores, a indústria do petróleo, que é estatal, é a locomotiva do Iraque. Com produção média de 2 milhões de barris por dia, o país detém a segunda maior reserva mundial de petróleo (112 bilhões de barris). "A qualidade do petróleo iraquiano e as facilidades logísticas são as bases da competitividade do setor no país", afirma Antonio Manfredini, da FGV-Eaesp.

As oportunidades de recuperação econômica do país podem estar no setor petrolífero e na agricultura.

Segundo analistas, o potencial da economia agrícola iraquiana permanece adormecido em decorrência de duas décadas de guerra e do embargo econômico imposto pela ONU.

As reservas de água do país, que é banhado pelos rios Tigre e Eufrates, e o solo de boa qualidade são apontados como os principais atrativos do setor.

Frederick Barton, consultor sênior do CSIS, também destaca o fato de o país possuir uma tradição de agricultura empresarial interrompida a partir da eclosão da guerra entre o Irã e o Iraque nos anos 80.

"A agricultura iraquiana já foi uma importante exportadora de commodities. Hoje, sobretudo após o embargo, o país se tornou importador de alimentos. Cerca de 60% da população é alimentada pelo programa da ONU "petróleo por alimento". Mas o país dispõe da vantagem de ter recursos hídricos superiores aos dos países vizinhos", afirma Barton. O ponto de vista é partilhado por Behravesh, da Global Insight.

Turismo de peregrinação

Somado ao potencial agrícola, outro setor que pode impulsionar a economia iraquiana no pós-guerra é o turismo.
"O Iraque pode ser foco do turismo de peregrinação. No país encontram-se as duas mais importantes cidades sagradas para os xiitas: Najaf e Kerbala. Com a pacificação do Iraque, estima-se que entre 2 milhões e 3 milhões de peregrinos xiitas poderiam visitar o país por ano", afirma.

"Sem dúvida, o turismo pode ser um caminho para impulsionar a economia, mas o empreendimento dependerá da capacidade de atrair investimentos estrangeiros e da renda das exportações de petróleo", analisa Manfredini.

O ainda incipiente mercado de títulos iraquianos pode, futuramente, vir a se tornar outra fonte de recursos para a economia. "Nos cinco primeiros anos de reconstrução da economia iraquiana, esse mercado será muito restrito. Mas após esse período, com a estruturação desse mercado, o interesse por títulos da dívida iraquiana tende a crescer, sobretudo entre investidores iraquianos exilados durante a ditadura de Saddam Hussein", avalia Behravesh.
 

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