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02/04/2003
-
07h59
da Folha de S.Paulo
Boa parte da atual crise das empresas de energia elétrica foi causada pela má gestão das companhias, e não pelo modelo criado nos anos FHC.
Levantamento realizado ontem pela consultoria Economática a pedido da reportagem mostra, por exemplo, que as dívidas de 21 distribuidoras ou geradoras em relação aos seus patrimônios representavam em média 30% em 1998. No final de 2002, saltaram para 80%.
É um estrago e tanto. Segundo Einar Rivero, coordenador da consultoria para a América Latina, houve problemas administrativos de fato nas empresas do setor. ''Muitas delas não souberam fazer o sapato'', ironizou Rivero. Ou seja, não souberam lidar com problemas administrativos internos para poder crescer.
Para o presidente da Câmara Brasileira de Investidores em Energia Elétrica, Cláudio Sales, a crise, no entanto, não tem qualquer relação com a administração das companhias.
''As empresas estão nessa situação por causa da forte desvalorização do real nos últimos anos, que elevou as dívidas em dólar das companhias, e devido à redução do consumo com o racionamento'', disse Sales.
Atualmente, o Brasil consome cerca de 20% a menos de eletricidade do que em 2000.
Patrimônio encolhe
A queda do patrimônio, no entanto, seria um sinal evidente de que houve falhas administrativas internas nas concessionárias, segundo a Economática. O levantamento leva em conta as 21 empresas privadas ou estatais que já existiam em 1998 e publicaram seus balanços de 2002.
Entre as empresas estão a Eletropaulo Metropolitana, cujo patrimônio despencou de R$ 4,2 bilhões para R$ 2,1 bilhões em quatro anos, e a Elektro (R$ 2,2 bilhões para patrimônio negativo de R$ 291,6 milhões _deve mais do que tem em bens).
Há apenas duas exceções positivas nesse campo. A Coelce aumentou o patrimônio de R$ 820 milhões para R$ 1,1 bilhão. A CPFL conseguiu pequena alta de R$ 3 bilhões para R$ 3,1 bilhões. Ao todo, o patrimônio das 21 empresas caiu de R$ 189 bilhões para R$ 93 bilhões.
''É uma queda impressionante. Existem sinais de má gestão em empresas do setor'', disse Rivero. Ele afirmou, porém, que a redução do patrimônio se deve também à necessidade que as concessionárias tiveram de se endividar para fazer investimentos vitais.
Riscos demais
As dívidas das companhias saltaram de um total de R$ 57 bilhões para R$ 75 bilhões entre 1998 e 2002. Para Gláucia de Castro Quinto, analista do ABN Amro Bank, as empresas têm parte da culpa da crise justamente por causa dos débitos em dólar.
''Elas adotaram uma política agressiva, acreditando que o reajuste anual das tarifas pelo IGP-M compensaria a variação do dólar."
Segundo Quinto, a Light, por exemplo, tem 83% de seus débitos em dólar. A Eletropaulo, 66%. A CPFL e Elektro foram mais prudentes: só têm dívidas em real. A analista ressaltou, porém, que o modelo do governo passado pesa também na crise, pois privatizou principalmente distribuidoras, que acabaram não investindo em usinas como estava previsto.
Para André Querne, analista da Maxima Asset Management, o racionamento de energia encerrado em 2002 é um dos principais fatores da crise. ''Os culpados são o governo e empresas. Não houve a expansão necessária no setor.''
Má gestão causou crise no setor elétrico, diz estudo
LÁSZLÓ VARGAda Folha de S.Paulo
Boa parte da atual crise das empresas de energia elétrica foi causada pela má gestão das companhias, e não pelo modelo criado nos anos FHC.
Levantamento realizado ontem pela consultoria Economática a pedido da reportagem mostra, por exemplo, que as dívidas de 21 distribuidoras ou geradoras em relação aos seus patrimônios representavam em média 30% em 1998. No final de 2002, saltaram para 80%.
É um estrago e tanto. Segundo Einar Rivero, coordenador da consultoria para a América Latina, houve problemas administrativos de fato nas empresas do setor. ''Muitas delas não souberam fazer o sapato'', ironizou Rivero. Ou seja, não souberam lidar com problemas administrativos internos para poder crescer.
Para o presidente da Câmara Brasileira de Investidores em Energia Elétrica, Cláudio Sales, a crise, no entanto, não tem qualquer relação com a administração das companhias.
''As empresas estão nessa situação por causa da forte desvalorização do real nos últimos anos, que elevou as dívidas em dólar das companhias, e devido à redução do consumo com o racionamento'', disse Sales.
Atualmente, o Brasil consome cerca de 20% a menos de eletricidade do que em 2000.
Patrimônio encolhe
A queda do patrimônio, no entanto, seria um sinal evidente de que houve falhas administrativas internas nas concessionárias, segundo a Economática. O levantamento leva em conta as 21 empresas privadas ou estatais que já existiam em 1998 e publicaram seus balanços de 2002.
Entre as empresas estão a Eletropaulo Metropolitana, cujo patrimônio despencou de R$ 4,2 bilhões para R$ 2,1 bilhões em quatro anos, e a Elektro (R$ 2,2 bilhões para patrimônio negativo de R$ 291,6 milhões _deve mais do que tem em bens).
Há apenas duas exceções positivas nesse campo. A Coelce aumentou o patrimônio de R$ 820 milhões para R$ 1,1 bilhão. A CPFL conseguiu pequena alta de R$ 3 bilhões para R$ 3,1 bilhões. Ao todo, o patrimônio das 21 empresas caiu de R$ 189 bilhões para R$ 93 bilhões.
''É uma queda impressionante. Existem sinais de má gestão em empresas do setor'', disse Rivero. Ele afirmou, porém, que a redução do patrimônio se deve também à necessidade que as concessionárias tiveram de se endividar para fazer investimentos vitais.
Riscos demais
As dívidas das companhias saltaram de um total de R$ 57 bilhões para R$ 75 bilhões entre 1998 e 2002. Para Gláucia de Castro Quinto, analista do ABN Amro Bank, as empresas têm parte da culpa da crise justamente por causa dos débitos em dólar.
''Elas adotaram uma política agressiva, acreditando que o reajuste anual das tarifas pelo IGP-M compensaria a variação do dólar."
Segundo Quinto, a Light, por exemplo, tem 83% de seus débitos em dólar. A Eletropaulo, 66%. A CPFL e Elektro foram mais prudentes: só têm dívidas em real. A analista ressaltou, porém, que o modelo do governo passado pesa também na crise, pois privatizou principalmente distribuidoras, que acabaram não investindo em usinas como estava previsto.
Para André Querne, analista da Maxima Asset Management, o racionamento de energia encerrado em 2002 é um dos principais fatores da crise. ''Os culpados são o governo e empresas. Não houve a expansão necessária no setor.''
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