Publicidade
Publicidade
26/06/2003
-
07h52
da Folha Online, no Rio
Vetado pelo Senado para o cargo de diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo), o ex-deputado Luiz Alfredo Salomão usou a infra-estrutura do órgão, no centro do Rio, antes mesmo de ter seu nome apreciado pelos senadores.
Trabalhou em um gabinete no andar da diretoria, nomeou dois assessores, usava o serviço de secretárias e fez duas viagens custeadas pela agência.
Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o apoio da ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, Salomão teve seu nome rejeitado anteontem pelo plenário do Senado por 40 votos a 23. A indicação havia sido aprovada por unanimidade pela Comissão de Infra-Estrutura do Senado, que o sabatinou.
Para justificar a atividade de Salomão antes da posse oficial, dada como certa, a ANP o nomeou "colaborador eventual". Com isso, ele não tinha salário, mas podia usar a estrutura da agência e gerar despesas, sem que isso pudesse ser contestado mais tarde.
As duas viagens pagas pela ANP foram para Brasília _uma para discutir os preços do GLP (gás de cozinha) com a ministra Dilma Rousseff e outra para ser sabatinado pela comissão.
A agência nega que Salomão tivesse outros benefícios, como carro com motorista e telefone celular. De acordo com a ANP, os dois assessores indicados por Salomão --o ex-deputado Edézio Frias e o empresário Waldemar Fizman-- já tiveram seus nomes publicados no "Diário Oficial" e continuarão, por enquanto, como funcionários da agência.
Diferentemente de Salomão, os dois recebem salário. A ANP não quis revelar o valor, mas a reportagem apurou que um assessor de diretoria da ANP ganha cerca de R$ 6.000. Salomão disse ter sido comunicado ontem que Waldemar Fizman pediria demissão.
Salomão disse que foi algumas vezes à agência convidado pelo diretor-geral, Sebastião do Rêgo Barros, para recolher material e se inteirar da rotina de trabalho.
Nessas ocasiões, afirmou, usava a sala do ex-diretor da ANP Júlio Colombi Neto, que deixou o cargo em janeiro.
O ex-deputado diz ter sido barrado por ser "nacionalista", mas o fato é que o veto causou surpresa. A aprovação era dada como certa pela cúpula do PT e pela própria diretoria da ANP. A certeza era tanta que em maio foram distribuídos convites para sua posse, inicialmente marcada para 2 de junho, no Clube de Engenharia (centro do Rio). Como houve atraso na votação no Senado, a data seria redefinida.
Questionado sobre um possível constrangimento por ter usado as instalações oficiais antes de ser confirmado como diretor, o ex-deputado afirmou: "Trabalhei de graça para o governo. Passei um fim de semana inteiro estudando a reforma administrativa da ANP e cheguei a redigir um texto sobre o assunto".
Sobre as viagens, questionou: "Você queria que eu pagasse do meu bolso a passagem para ser sabatinado?".
Quando informado que a ANP confirmara que ele havia sido nomeado "colaborador eventual", Salomão reagiu com irritação: "A ANP é um antro de fofoca. Há um monte de viúvas de FHC lá". Todos os quatro diretores foram indicados pelo governo anterior.
Segundo a ANP, Salomão não ia todos os dias à agência. Ele passou a frequentar "eventualmente" a sede da ANP para tomar pé da função que iria exercer, depois que seu nome foi aprovado pela comissão. O próprio Salomão diz que foi, no máximo, oito vezes à sede da ANP.
No Congresso, existem várias versões sobre o veto a Salomão. A mais forte dá conta de que o PMDB articulou com o PFL e o PSDB a rejeição à indicação. A operação teria sido idealizada por José Sarney (PMDB-AP), presidente do Congresso.
Salomão atribuiu o veto a uma traição do PMDB, embora garanta ter sido bem recebido por Sarney após a sabatina: "Na revisão constitucional de 1993, o Humberto Lucena (PMDB-PB, então presidente do Senado) quis fazer uma sessão sem quórum e eu o impedi. Além disso, me acusam de ter perseguido o PMDB durante a CPI do Orçamento, quando deputados foram cassados após a minha ação investigativa".
Diretor vetado da ANP já tinha viajado com dinheiro da agência
PEDRO SOARESda Folha Online, no Rio
Vetado pelo Senado para o cargo de diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo), o ex-deputado Luiz Alfredo Salomão usou a infra-estrutura do órgão, no centro do Rio, antes mesmo de ter seu nome apreciado pelos senadores.
Trabalhou em um gabinete no andar da diretoria, nomeou dois assessores, usava o serviço de secretárias e fez duas viagens custeadas pela agência.
Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o apoio da ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, Salomão teve seu nome rejeitado anteontem pelo plenário do Senado por 40 votos a 23. A indicação havia sido aprovada por unanimidade pela Comissão de Infra-Estrutura do Senado, que o sabatinou.
Para justificar a atividade de Salomão antes da posse oficial, dada como certa, a ANP o nomeou "colaborador eventual". Com isso, ele não tinha salário, mas podia usar a estrutura da agência e gerar despesas, sem que isso pudesse ser contestado mais tarde.
As duas viagens pagas pela ANP foram para Brasília _uma para discutir os preços do GLP (gás de cozinha) com a ministra Dilma Rousseff e outra para ser sabatinado pela comissão.
A agência nega que Salomão tivesse outros benefícios, como carro com motorista e telefone celular. De acordo com a ANP, os dois assessores indicados por Salomão --o ex-deputado Edézio Frias e o empresário Waldemar Fizman-- já tiveram seus nomes publicados no "Diário Oficial" e continuarão, por enquanto, como funcionários da agência.
Diferentemente de Salomão, os dois recebem salário. A ANP não quis revelar o valor, mas a reportagem apurou que um assessor de diretoria da ANP ganha cerca de R$ 6.000. Salomão disse ter sido comunicado ontem que Waldemar Fizman pediria demissão.
Salomão disse que foi algumas vezes à agência convidado pelo diretor-geral, Sebastião do Rêgo Barros, para recolher material e se inteirar da rotina de trabalho.
Nessas ocasiões, afirmou, usava a sala do ex-diretor da ANP Júlio Colombi Neto, que deixou o cargo em janeiro.
O ex-deputado diz ter sido barrado por ser "nacionalista", mas o fato é que o veto causou surpresa. A aprovação era dada como certa pela cúpula do PT e pela própria diretoria da ANP. A certeza era tanta que em maio foram distribuídos convites para sua posse, inicialmente marcada para 2 de junho, no Clube de Engenharia (centro do Rio). Como houve atraso na votação no Senado, a data seria redefinida.
Questionado sobre um possível constrangimento por ter usado as instalações oficiais antes de ser confirmado como diretor, o ex-deputado afirmou: "Trabalhei de graça para o governo. Passei um fim de semana inteiro estudando a reforma administrativa da ANP e cheguei a redigir um texto sobre o assunto".
Sobre as viagens, questionou: "Você queria que eu pagasse do meu bolso a passagem para ser sabatinado?".
Quando informado que a ANP confirmara que ele havia sido nomeado "colaborador eventual", Salomão reagiu com irritação: "A ANP é um antro de fofoca. Há um monte de viúvas de FHC lá". Todos os quatro diretores foram indicados pelo governo anterior.
Segundo a ANP, Salomão não ia todos os dias à agência. Ele passou a frequentar "eventualmente" a sede da ANP para tomar pé da função que iria exercer, depois que seu nome foi aprovado pela comissão. O próprio Salomão diz que foi, no máximo, oito vezes à sede da ANP.
No Congresso, existem várias versões sobre o veto a Salomão. A mais forte dá conta de que o PMDB articulou com o PFL e o PSDB a rejeição à indicação. A operação teria sido idealizada por José Sarney (PMDB-AP), presidente do Congresso.
Salomão atribuiu o veto a uma traição do PMDB, embora garanta ter sido bem recebido por Sarney após a sabatina: "Na revisão constitucional de 1993, o Humberto Lucena (PMDB-PB, então presidente do Senado) quis fazer uma sessão sem quórum e eu o impedi. Além disso, me acusam de ter perseguido o PMDB durante a CPI do Orçamento, quando deputados foram cassados após a minha ação investigativa".
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Ministério Público pede bloqueio de R$ 3,8 bi de dono de frigorífico JBS
- Por que empresa proíbe caminhões de virar à esquerda - e economiza milhões
- Megarricos buscam refúgio na Nova Zelândia contra colapso capitalista
- Com 12 suítes e 5 bares, casa mais cara à venda nos EUA custa US$ 250 mi
- Produção industrial só cresceu no Pará em 2016, diz IBGE
+ Comentadas
- Programa vai reduzir tempo gasto para pagar impostos, diz Meirelles
- Ministério Público pede bloqueio de R$ 3,8 bi de dono de frigorífico JBS
+ EnviadasÍndice