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29/06/2003 - 06h29

BB e CEF esperam calote alto no microcrédito

GUILHERME BARROS
Editor do Painel S.A. da Folha de S.Paulo

O Banco do Brasil e a CEF (Caixa Econômica Federal) trabalham com a possibilidade de um índice de inadimplência bastante alto nas operações do programa de microfinanças lançado na quarta-feira passada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mesmo assim, as duas instituições afirmam que os novos programas de crédito serão rentáveis e deverão receber a adesão de alguns bancos privados que atuam no varejo.

"Não haverá subsídio", afirma Cássio Casseb, presidente do Banco do Brasil, que se diz bastante animado com a idéia de criar uma subsidiária para o banco atuar na área da microfinanças. O novo banco deverá entrar em operação em 2004.

"Não estamos criando esse programa por razões de cidadania e de política social, mas sim por estarmos convencidos de que se trata de um bom negócio", afirma Jorge Mattoso, presidente da Caixa Econômica Federal.

Segundo ele, dentro de 60 dias a Caixa já estará concedendo os primeiros empréstimos de R$ 200 com juros de 2% ao mês dessas novas linhas de operação. De cara, a CEF irá dispor de R$ 100 milhões para esse novo programa de crédito.

De acordo com Casseb, antes de lançar os programas o governo fez vários estudos com as experiências de microcrédito tanto no Brasil como em outros países como Bangladesh, onde nasceu a experiência, Colômbia, Bolívia, França, Espanha e Itália. Em todos os casos, Casseb diz que essas operações são lucrativas.

Rentabilidade

A rentabilidade não é muito grande. Os bancos ganham pelo fato de o custo operacional dessas operações ser muito pequeno. Não haverá talões de cheques, por exemplo. As contas serão movimentadas através de cartões magnéticos ou através de correspondentes bancários.

A percepção é que a inadimplência deverá ser muito alta. Mattoso diz, por exemplo, que a Caixa Econômica Federal trabalha com um cenário de 12% a 13% de inadimplência em relação ao total das operações, um índice muito elevado para os atuais 4% de inadimplência registrados pelas operações de microcrédito realizadas pela Caixa.

Apesar dessa inadimplência, tanto Casseb como Mattoso afirmam acreditar que alguns bancos privados de varejo também lancem linhas de crédito voltadas para as microfinanças, a juros de 2% ao mês.

Eles acham natural que os bancos privados tenham reagido negativamente num primeiro momento, mas a tendência é de eles reverem suas posições quando fizerem as contas de quanto eles poderão ganhar com essas operações. "Vamos ver se dentro de 90 dias eles não estarão se mexendo nesse sentido", aposta o presidente do Banco do Brasil.

Mattoso diz acreditar que, com a tendência de queda dos juros na economia, os bancos privados, ao fazerem as contas, acabem chegando à conclusão de que as operações de microfinanças também poderão ser rentáveis.

Apesar de a Caixa trabalhar com a hipótese de uma inadimplência elevada, Mattoso diz que estão sendo criados mecanismos de defesa para evitar que isso aconteça. Entre eles, por exemplo, o de que uma mesma pessoa não poderá tomar mais de um empréstimo. Além disso, serão feitas as tradicionais consultas à Serasa (Centralização de Serviços dos Bancos) para a liberação do empréstimo.

Valor

Mattoso discorda das críticas que foram feitas em relação ao valor da operações, de R$ 200. Alguns economistas disseram que esses empréstimos não seriam importantes para a economia.

"Não importa para quem, cara pálida?", disse Mattoso. "As pessoas não têm noção da imensa exclusão social e da imensa miséria desse país".

O presidente da CEF também se mostrou inconformado com afirmações de que o programa de microcrédito iria favorecer a lavagem de dinheiro. "Como uma pessoa que tem de R$ 50 a R$ 100 de saldo médio numa conta vai fazer alguma lavagem de dinheiro?", diz Mattoso. "Só pode ser um comentário de mau gosto".

O presidente da Caixa Econômica Federal acha que os programas de microfinanças e de microcrédito terão efeitos macroeconômicos importantes para o país, sobretudo numa perspectiva de queda de juros.

Ele acha que os programas de microcrédito serão importantes para a recuperação do crescimento da economia.
 

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