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17/08/2003 - 08h01

PT é acusado de "politizar" comando do BB

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ELIANE CANTANHÊDE
diretora Sucursal de Brasília da Folha de S.Paulo

O governo evitou nomear um petista para a presidência do Banco do Brasil, mas permitiu que o PT promovesse um raro processo de ocupação da instituição. Cinco das sete vice-presidências e as presidências da Previ (fundo de pensão), da Cassi (serviço médico) e da Fundação BB (de projetos na área social) estão nas mãos de petistas ou de pessoas ostensivamente ligadas ao partido.

Esse processo faz parte de uma ampla renovação de quadros promovida desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva no BB --que acaba de anunciar um lucro líquido de R$ 1,07 bilhão no primeiro semestre. Dos 33 cargos de cúpula, 21 foram mudados: além do presidente e dos 5 vices, também 8 dos 15 diretores e 7 dos 10 gerentes gerais.

Conforme a Folha apurou, cerca de um terço dos 150 principais executivos do banco foi substituído. Nessa condição, eles perdem o cargo e o direito a sala, mesa e telefone, mas mantêm as remunerações comissionadas por 12 meses. O sistema tem um apelido: "esmolões".

A sala tradicionalmente destinada a executivos sem função, que durante anos funcionou no sexto andar do prédio principal do BB, no centro de Brasília, foi fechada há cerca de duas semanas. Motivo: superlotação.

Os executivos que estão no sistema dos "esmolões" foram despachados de volta às diretorias e gerências sob as ordens dos que os substituíram nas chefias, enquanto aguardam novo destino. Em geral, ou eles são reaproveitados dentro do próprio banco ou cedidos a outros órgãos do governo, quando não migram para a iniciativa privada.

"A Articulação bancária do Gushiken e do Berzoini tomou o BB de assalto e não sobrou nada para ninguém que não use estrela vermelha no peito", acusa o presidente da Anabb (Associação Nacional dos Funcionários do BB), Valmir Camilo.

Referia-se a uma tendência do PT, a Articulação, integrada por dois ministros que fizeram carreira no BB e tiveram forte atuação sindical: Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e Ricardo Berzoini (Previdência Social).

Sindicalistas

O presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena, saiu direto da presidência do Sindicato dos Bancários do Distrito Federal para o novo cargo.

Em vez de assumir o cargo deixado vago por Jacques Pena, o vice-presidente do sindicato seguiu seus passos e também foi nomeado para uma função estratégica: a presidência da Cassi (Caixa de Assistência dos Funcionários do BB), que gerencia serviços médicos e hospitalares no país inteiro.

"A sanha de aparelhagem do PT não deixou nada para mais ninguém. Se você não é petista de carteirinha, está fora", acusa o ex-presidente do sindicato Augusto Carvalho, também oriundo do BB e hoje deputado distrital pelo PPS do DF. PT e PPS sempre disputaram não só o sindicato como a liderança dos funcionários do BB.

Além de indicar os presidentes da Fundação e da Cassi, o Banco do Brasil também indica o da Previ --a caixa de previdência dos funcionários, que é o maior fundo de pensão da América Latina, tem patrimônio de R$ 38 bilhões, financia obras imobiliárias, integra empresas e é uma das forças econômicas mais disputadas do país.

O indicado foi o petista Sérgio Ricardo Silva Rosa, que já era do conselho diretor e foi substituído por um novo petista, Francisco Alexandre. Na prática, isso significa que a composição política do conselho ficou desequilibrada: dos seis, cinco são do PT.

A assessoria de imprensa da Previ reagiu dizendo que "as regras de indicação foram seguidas, e a simpatia e filiação partidária dos dirigentes é questão de foro pessoal".

Camilo adverte, porém, que o desequilíbrio pode ter efeito na escolha de investimentos da Previ, que tem poder não só financeiro como também político em dezenas de empresas privadas de diferentes ramos.

Em 9 de maio de 2002, ainda como diretor de Participações, Sérgio Rosa enviou correspondência aos conselheiros da Previ nas empresas, pregando: "Num ano em que o país caminha rumo às eleições presidenciais, o debate sobre a participação das empresas no processo eleitoral configura-se como saudável, necessário e democrático".

Em seguida, determinou: "Solicitamos que nos seja repassada a informação de como o assunto está sendo abordado na empresa em que nos representa, se está pautado para debate e qual o posicionamento adotado quanto à participação efetiva no processo".

Como ele é ostensivamente ligado ao PT, Camilo e Carvalho entenderam que se tratava de uma forma de o partido controlar as campanhas e os candidatos que as empresas pretendiam financiar nas eleições nos meses seguintes.

No início do governo, alguns jornais chegaram a publicar manchetes anunciando a nomeação do recém-eleito deputado Paulo Bernardo (PT-PR) para a presidência do BB. A nomeação, porém, nunca saiu. Explicação extra-oficial: o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) não queria "politizar" o banco.

Duas versões

O presidente acabou sendo Cássio Casseb, um executivo de perfil liberal, sem nenhum vínculo com o PT e com uma longa trajetória em cargos de direção de bancos e de empresas privadas. Palocci, porém, pode não ter conseguido segurar a "politização" do banco abaixo dele.

Conforme a Folha apurou, a questão já foi parar no Palácio do Planalto, mas com duas versões antagônicas. De um lado, o PPS (partido aliado a Lula) se queixou da "petização" do BB. De outro, petistas contra-atacaram: Casseb, segundo eles, estaria favorecendo e tomando todas as decisões com os "remanescentes tucanos".

Os petistas citaram até quem seria o aliado de Casseb: o vice-presidente de Negócios Internacionais e Atacado, Rossano Maranhão Pinto. Ele e o vice-presidente de Agronegócios e Governo, Ricardo Alves da Conceição, são os dois dos sete vices da gestão passada que sobreviveram na atual.

Camilo elogia os dois como "bons executivos, apartidários e profissionais", mas, ironizando o PT, diz que eles ficaram por outros motivos: "Foi para dar um ar de pluralidade. Além disso, o PT só convive com o MST e não tinha ninguém para cuidar dos ruralistas, do incentivo ao agronegócio. Também não tinha ninguém para assumir as negociações internacionais. Como todo mundo sabe, petista nem sabe falar inglês!".

Os cinco novos vices são de Varejo, Finanças e Mercado de Capitais, Crédito e Gestão de Risco, Gestão de Pessoas e Tecnologia.

Nestas duas últimas, que cuidam respectivamente de recursos humanos (79,5 mil funcionários) e de toda a poderosa rede de informatização do banco (12,8 mil postos e agências), houve um processo dominó, com substituição também nos escalões abaixo.

O momento pode não ter sido o melhor. O BB está para lançar um edital para licitar a terceirização justamente da rede de transmissão de dados de todo o país, uma operação delicadíssima, porque envolve sigilo e o movimento de bilhões de reais por ano.

Procurada pela Folha na quinta e sexta-feiras, a assessoria de imprensa do BB disse que a presidência não iria se manifestar.
 

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