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06/10/2003 - 15h21

Veja a íntegra do discurso de Lula no fórum sobre microcrédito

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da Folha Online

Veja a íntegra do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura do 3º Fórum Internacional de Microcréditos, que acontece hoje em Brasília:

"Quero agradecer a presença de Sua Majestade a Rainha Sofia, por ter aceito o convite e estar participando deste seminário.

E, sobretudo, quero aproveitar a oportunidade para agradecer o tratamento carinhoso, afetuoso, que Sua Majestade e o Rei Juan Carlos nos deram na nossa passagem pela Espanha.

Quero agradecer às pessoas que vieram da Espanha, que vieram de Portugal, aos brasileiros e às brasileiras que têm preocupação com o microcrédito, aos bancos que aqui estão participando e fazendo parcerias com o governo e com a sociedade brasileira.

Como eu não recebi a relação, não vou citar os senadores. Estou vendo Aloizio Mercadante, que é o líder do governo, estou vendo Eduardo Suplicy e a companheira Serys, que é nossa senadora do Estado do Mato Grosso.

Quero agradecer a presença de todos os deputados e dizer que, desde que tomamos posse no governo, que temos tentado chamar a sociedade brasileira a assumir um outro tipo de comportamento. Ou seja, na medida em que o dinheiro disponível para os investimentos, que todos sabemos que é necessário para o crescimento de um país, está muito pouco, eu tenho chamado a atenção para a criatividade. E a criatividade é uma coisa que tem sido colocada em prática em todas as oportunidades. Nós, há algum tempo, criamos os chamados bancos populares; várias Prefeituras, de vários partidos políticos, criaram. Têm funcionado, na medida do possível, atendendo às pessoas que precisam do microcrédito.

Mas, agora, a novidade que nós temos é que o sistema financeiro brasileiro, tanto o público, quanto o privado, resolveu assumir a responsabilidade do financiamento para as pessoas de baixa renda.

Esses dias aconteceu uma novidade; eu não sei se no século passado houve no Brasil. O movimento sindical fez licitações para saber quais o bancos que ofereciam as taxas de juros mais baratas para financiar os trabalhadores. E a garantia que os trabalhadores estão oferecendo aos bancos é o seu contra-cheque, ou seja, é a sua folha de pagamento.

Eu penso que isso é extremamente novo para nós, aqui, no Brasil. Nós temos uma experiência no setor do funcionalismo público. Mas não tínhamos no setor privado. E se Deus quiser, num curto espaço de tempo, iremos estender essa linha de financiamento para os aposentados brasileiros. Fazer com que as pessoas tenham acesso ao dinheiro, para pagar pequenas prestações que não as sufoquem e, ao mesmo tempo, isso garanta a possibilidade de elas poderem consumir as coisas que entendam que devam consumir naquele momento. Acho que essa é que é a novidade.

E, quem sabe, depois de um seminário como este, nós iremos aprender muito mais, até porque um seminário dessa envergadura, com as experiências de outros países do mundo pode, efetivamente, ajudar a que nós, aqui, no Brasil, encontremos outras fórmulas para criarmos microcrédito, para criarmos créditos capazes de incentivar um segmento da sociedade que não tem acesso ao sistema financeiro.

Nós produzimos um programa chamado Caixa Aqui, e esperávamos chegar no final do ano com 1 milhão de clientes, que são pessoas que não têm conta em banco, que nunca tiveram acesso a conta em banco, que são pessoas que têm renda, eu diria, muito diversa, pessoas um exemplo vivo - como catadores de papel. Nós abrimos a conta na Caixa Econômica Federal, no período em que a gente estava imaginando que ia chegar a 1 milhão de pessoas no final do ano; nós chegamos até agora a 700 mil pessoas, que foram abrir a sua conta na Caixa.

Isso é numa demonstração de que as pessoas estão muito mais precisando de uma oportunidade, de uma porta aberta, sem os critérios rígidos de que as pessoas vão tomar dinheiro emprestado e não vão pagar. Ou seja, muitas vezes as pessoas não têm sequer acesso fácil a um banco. Na hora em que se abre a oportunidade, as pessoas percebem que o banco pode se transformar num parceiro para atender a necessidades emergentes de um pequeno empresário, de um pequeno investidor.

Eu afirmo, sempre, que o pequeno paga, e por que ele paga? Porque o seu nome é o seu patrimônio. O seu nome é o seu patrimônio, ele sabe que, se não pagar, vai ficar com o nome sujo na praça. Ao contrário de alguns que tomam e não pagam e ainda vão para a Justiça para dizer que não pagam, o pobre paga, porque ele quer olhar na cara do seu filho de cabeça erguida, ele quer olhar para os seus parentes, para a sua mulher, com o orgulho de que está cumprindo o seu dever.

Só quero dizer a todos aqueles que trabalham com microcrédito: não tenham nenhuma preocupação de emprestar dinheiro a pobre, porque pobre não dá calote, pobre paga e paga em dia e, quando não puder pagar, vai comunicar a vocês que não pode pagar; não vai fugir, não, até porque não tem para onde fugir. Ou seja, ele passou a vida inteira querendo um lugarzinho para poder dizer que tem residência fixa; ele, portanto, não vai fugir, e isso eu acho extremamente importante. Nós temos claro que o dinheiro que existe precisa entrar em circulação, e ele entra em circulação pelas mãos daqueles que podem ter acesso ao sistema financeiro dos empresários, mas também precisa entrar pela mão da parte mais humilde da população, principalmente no mundo excludente como o que nós estamos vivendo hoje.

Eu penso que nós temos que aprender com outras experiências e espero que, a partir da experiência brasileira, a gente possa ensinar a muita gente que é possível, e plenamente possível, a gente fazer com que aquele dinheiro que está guardado naqueles cofres imensos de aço eu entrei lá na exposição da Bienal, no cofre do Santander, que era o antigo Banco Meridional, é um cofre quase do tamanho disso aqui, eu não sei como vai ter dinheiro para encher aquilo então, ao invés daquele dinheiro ficar dentro de um cofre, é melhor colocar esse dinheiro circulando, porque ele vai virar consumo, o consumo vai gerar emprego no comércio, que vai gerar emprego na indústria, que vai gerar mais consumo e nós vamos fazer a roda da sociedade funcionar, fazendo com que todos possam ter direito para consumir aquilo de que precisam.

Por isso eu quero dizer à Rainha Sofia do meu agradecimento pela sua presença. Eu sei que não é fácil vir da Espanha para o Brasil e voltar rapidamente porque eu já fiz isso e vou fazer outra vez agora, porque dia 24 eu vou a Oviedo para receber o Prêmio Príncipe de Astúrias. Vou sair daqui dia 23 e pretendo voltar dia 24 à noite mesmo. Ou seja, eu sei que é cansativo, mas a presença de Sua Majestade aqui significa o compromisso que o povo espanhol tem de ajudar outros povos que ainda não tiveram a chance que o povo espanhol já teve, de conquistar sua cidadania.

E o mesmo vale para os portugueses que estão acreditando e apostando nisso. E o mesmo vale para os brasileiros que estão aqui, trabalhando há alguns anos com microcrédito, sempre numa briga medonha, porque o dinheiro é sempre menos do que aquilo que é preciso, que a demanda exige.

De qualquer forma, eu quero dar os parabéns a vocês e, sobretudo, agradecer a Sua Majestade a Rainha Sofia, pelo sacrifício, mas, ao mesmo tempo, pelo grandioso gesto de solidariedade que ela faz ao visitar o Brasil, para participar deste seminário.

Muito obrigado e boa sorte a todos."
 

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