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20/10/2003 - 02h58

MP intensifica comércio de sementes transgênicas

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da Agência Folha, em Londrina

Editada no mês passado para proibir o comércio de sementes de soja transgênica e limitar seu plantio ao estoque atualmente em poder dos produtores, a medida provisória 131 foi um tiro pela culatra do governo federal: acabou acelerando o comércio da soja geneticamente modificada no país.

Com o plantio liberado, produtores de diversos Estados aceleraram a compra de grãos transgênicos produzidos no Rio Grande do Sul, intensificando ainda mais o comércio interestadual que a MP 131 proíbe. Ainda há os que contrabandeiam grãos da Argentina e do Paraguai.

"Eles [os produtores gaúchos] vendem legalmente. A soja vai a granel como grão. É só pagar o ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] que ela pode ser transportada legalmente", diz o presidente da Abrasem (Associação Brasileira dos Produtores de Sementes), Iwao Miyamoto, 60. O grão de soja é usado como semente.

Como resultado desse "efeito colateral", a Abrasem acredita que no mínimo 25% da safra 2003/2004, cujo plantio começou no final de setembro, será de soja transgênica. Da safra 2002/2003, a Abrasem estima que foram colhidas 9,3 milhões de toneladas de soja geneticamente modificada (18% do total colhido).

Fazendeiros e sementeiros

A Agência Folha visitou propriedades no sudoeste do Paraná e entrevistou sementeiros (produtores de sementes) dos municípios gaúchos de Carazinho, Cruz Alta e Panambi.

No Paraná, Estado que tenta se declarar área livre de transgênicos, produtores passaram a admitir abertamente o seu plantio.

Já os sementeiros gaúchos, num primeiro momento, negaram o comércio interestadual. Mas, com a garantia de não ter o nome da empresa e os seus identificados, eles admitiram a venda, "legal, de grãos para outros Estados".

Um sementeiro de Cruz Alta afirmou que vendeu sementes para cinco Estados (SP, PR, MT, MS e GO). Segundo ele, das 10 mil sacas de sementes transgênicas que tinha em estoque, 90% foram vendidas até a primeira quinzena de setembro. Já os estoques de soja convencional estavam "encalhados". De um total de 50 mil sacas de sementes convencionais, as vendas até setembro não atingiram 10% do estoque.

Sem preocupação em se identificar, o produtor Vilmar Francisco Dal Bó, 45, de Pranchita (PR), decidiu plantar 500 hectares de soja transgênica. Ele diz plantar transgênicos há três anos.

"Neste ano vai ser 100% da área de soja resistente. Escreva aí que eu não planto soja transgênica, mas resistente ao Roundup. Transgênica hoje é qualquer semente melhorada. Ou como você acha que se conseguiu o milho que temos hoje ou a melancia sem sementes? Foi tudo na base da genética", afirma Dal Bó. O Roundup a que ele se refere é o herbicida (glifosato) fabricado pela multinacional Monsanto, a principal fabricante de soja transgênica.

Também em Pranchita, o produtor Sidinir Devitte, 24, vai, pela primeira vez, plantar 48 hectares de soja transgênica. Ele disse que negociava com um vendedor de Barracão (sudoeste do PR) a compra de sementes argentinas. "É um pouco mais cara que a convencional [R$ 84 a saca ante uma média de R$ 70 da convencional], mas compensa pela diminuição do uso de defensivos."

Em Santo Antônio do Sudoeste, na fronteira com a Argentina, um produtor que pediu para não ser identificado preparava o solo para o plantio de 56 hectares de soja transgênica. A origem da semente: produtores de Panambi (RS).

O agricultor, no dia em que foi visitado pela Agência Folha, negociava a compra de mais soja transgênica gaúcha para ele e vizinhos plantarem na região de Dourados (MS). "No ano passado plantei sementes da Argentina e fiz uma experiência com as sementes gaúchas. Neste ano vou plantar só sementes do sul, tanto aqui [no Paraná] como em Mato Grosso do Sul. Elas são mais adaptadas à nossa realidade."

Defensor do plantio de transgênicos no país, Miyamoto, da Abrasem, critica tanto a MP 131 como a proibição, pelo Paraná, dos transgênicos. "Essas decisões são só para a mídia. Ninguém está pensando na cadeia do agronegócio da soja, que pode sofrer as consequências dessas decisões demagógicas", disse Miyamoto.
 

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