Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
08/01/2004 - 09h40

Dirceu e Palocci divergem sobre mudança na Anatel

Publicidade

KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A queda de Luiz Guilherme Schymura da presidência da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) expôs a primeira trombada de peso em um ano de governo entre os dois principais ministros de Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda). Dirceu defendeu a queda. Palocci foi contra e perdeu.

O pano de fundo do embate é uma pressão de setores do PT e do governo que vêem na equipe de Palocci membros que funcionariam, na expressão ouvida pela Folha no Palácio do Planalto, como "freio de mão" da política econômica. Esses membros são o secretário de Política Econômica, Marcos Lisboa, e o secretário do Tesouro, Joaquim Levy.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dado sinais públicos e nos bastidores do prestígio de Palocci, mas há no entorno dele e de Dirceu pressão por cobrança de resultados na economia real (mais emprego e aumento da renda do trabalhador).

A derrubada de Schymura, que vinha sendo tratada em segredo devido aos complicadores jurídicos para uma simples demissão, foi um sinal de Lula e de Dirceu no sentido de minimizar a influência de Lisboa e de Levy, amigos e aliados do ex-presidente da Anatel.

Na segunda-feira, quando se tornou público que Lula pedira para Schymura sair, o então presidente da Anatel recorreu a Lisboa e a Palocci para tentar ficar no cargo. O ministro da Fazenda ensaiou comprar a briga, mas desistiu quando viu que não teria força para reverter a decisão.

Dirceu, que jogara junto com Palocci a favor de Schymura em junho, num embate à época do presidente da Anatel com o ministro Miro Teixeira (Comunicações) sobre reajuste de tarifas de telefonia, mudou de posição. Desde o final do ano passado, Dirceu passou a articular com Miro a derrubada de Schymura.

Lisboa e Levy ficaram contrariados com a queda de Schymura por avaliar que ela transmite sinal ruim aos investidores externos, de possível intervenção nas agências. Circulou no governo a versão de que Lisboa pediria demissão, mas não passou de rumor. Interlocutores de Lisboa negam veementemente o boato, chamando-o de "divertido".

Na opinião dos aliados de Lisboa e Levy, a tentativa de setores do PT e do governo de diminuir a influência deles não será encampada por Lula. Argumentam que a política da Fazenda gerou condições para um crescimento sustentado da economia e que, se as idéias desses setores tivessem sido aplicadas, a realidade seria pior hoje, com complicações para a governabilidade de Lula.

Câmbio

Críticos de Lisboa e de Levy disseram nos bastidores que a decisão do Banco Central de comprar dólares de forma assumida para aumentar as reservas foi uma vitória "desenvolvimentista" por beneficiar o setor exportador.

Indiretamente, a decisão pode beneficiar as exportações porque tende a conter uma valorização do real que possa dificultar o aumento das exportações.

Mas o benefício é reflexo da decisão do BC e do Tesouro de oficializar o que vinha sendo feito desde o ano passado. O objetivo é recompor a reservas cambiais para amenizar os efeitos negativos de eventuais choques externos.

Simbolicamente, porém, um episódio mostra como Lula vai cobrar mais a equipe econômica: na segunda-feira, na primeira reunião de 2004 da coordenação de governo, o chamado "núcleo duro", Lula evitou falar em detalhes sobre a reforma ministerial e priorizou temas como a geração de empregos e gastos eficientes do Orçamento de 2004.

No ano passado, a execução dos investimentos (gastos efetivamente realizados) ficou em menos de 30% do previsto na lei orçamentária ou em cerca de 60% do limite fixado pelo ajuste fiscal.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página