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02/03/2004
-
08h46
MARCIO AITH
Editor de Dinheiro da Folha de S.Paulo
Embora não ameace diretamente a competição no mercado de cervejas no Brasil, uma eventual fusão entre a brasileira AmBev e a belga Interbrew teria de passar pelo crivo do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Essa é a opinião do economista Gesner Oliveira, que foi presidente do conselho durante a aprovação da fusão de Brahma e Antarctica, em 1999/2000.
Colunista da Folha, Oliveira diz que a operação prejudicaria a concorrência potencial. Ou seja: poderia impedir que a companhia belga ingressasse mais tarde no Brasil como concorrente da AmBev.
No entanto, Oliveira não crê que esse seja um motivo suficiente para que uma eventual fusão AmBev/Interbrew seja vetada. "Na minha opinião, não prejudicaria a concorrência efetiva porque as áreas de atuação das duas companhias são complementares", disse.
Folha - Quando Brahma e Antarctica anunciaram a criação da AmBev, em 1999, as duas companhias disseram aos reguladores que somente um grupo nacional sólido e eficiente, uma espécie de "campeão nacional", seria capaz de competir em pé de igualdade num mercado cada vez mais concentrado. À luz desse argumento, não lhe parece contraditória uma fusão entre a AmBev e a belga Interbrew?
Gesner Oliveira - Pode parecer contraditório, mas não foi esse o argumento acolhido pelo Cade quando autorizou a criação da AmBev. O Cade aprovou a operação porque ela aumentaria a eficiência, como de fato aumentou. A preservação do caráter nacional da empresa não foi levada em consideração pelo conselho, embora esse aspecto tenha sido debatido publicamente na época.
Folha - Uma fusão entre a AmBev e a Interbrew poderia afetar a competição no Brasil? O Cade teria de aprová-la?
Oliveira - Teria de passar pelo Cade, pois produziria efeitos sobre o mercado brasileiro. Na minha opinião, não prejudicaria a concorrência efetiva porque as áreas de atuação das duas companhias são complementares. No entanto, reduziria a concorrência potencial. Ou seja: uma parceria ou uma fusão impediriam o ingresso da companhia belga no Brasil. Mas a jurisprudência internacional não tem visto problemas na redução da concorrência potencial por se tratar de um tema muito especulativo.
Folha - Especulativo, mas foi invocado pelo próprio Cade nos casos das parcerias entre a Brahma e a Miller e entre a Antarctica e a Anheuser-Bush, antes da criação da AmBev. Nos dois casos, o conselho impôs restrições e condições.
Oliveira - É verdade, mas eu fui voto vencido. Achei que as parcerias aumentariam a rivalidade no mercado. As alianças acabaram não decolando, e eu nem sei se não decolaram devido a essas restrições e condições. Se tivessem decolado, creio que teria havido mais competição entre as fabricantes de cervejas.
Cade terá que aprovar acordo entre AmBev e cervejaria belga, diz economista
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Editor de Dinheiro da Folha de S.Paulo
Embora não ameace diretamente a competição no mercado de cervejas no Brasil, uma eventual fusão entre a brasileira AmBev e a belga Interbrew teria de passar pelo crivo do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Essa é a opinião do economista Gesner Oliveira, que foi presidente do conselho durante a aprovação da fusão de Brahma e Antarctica, em 1999/2000.
Colunista da Folha, Oliveira diz que a operação prejudicaria a concorrência potencial. Ou seja: poderia impedir que a companhia belga ingressasse mais tarde no Brasil como concorrente da AmBev.
No entanto, Oliveira não crê que esse seja um motivo suficiente para que uma eventual fusão AmBev/Interbrew seja vetada. "Na minha opinião, não prejudicaria a concorrência efetiva porque as áreas de atuação das duas companhias são complementares", disse.
Folha - Quando Brahma e Antarctica anunciaram a criação da AmBev, em 1999, as duas companhias disseram aos reguladores que somente um grupo nacional sólido e eficiente, uma espécie de "campeão nacional", seria capaz de competir em pé de igualdade num mercado cada vez mais concentrado. À luz desse argumento, não lhe parece contraditória uma fusão entre a AmBev e a belga Interbrew?
Gesner Oliveira - Pode parecer contraditório, mas não foi esse o argumento acolhido pelo Cade quando autorizou a criação da AmBev. O Cade aprovou a operação porque ela aumentaria a eficiência, como de fato aumentou. A preservação do caráter nacional da empresa não foi levada em consideração pelo conselho, embora esse aspecto tenha sido debatido publicamente na época.
Folha - Uma fusão entre a AmBev e a Interbrew poderia afetar a competição no Brasil? O Cade teria de aprová-la?
Oliveira - Teria de passar pelo Cade, pois produziria efeitos sobre o mercado brasileiro. Na minha opinião, não prejudicaria a concorrência efetiva porque as áreas de atuação das duas companhias são complementares. No entanto, reduziria a concorrência potencial. Ou seja: uma parceria ou uma fusão impediriam o ingresso da companhia belga no Brasil. Mas a jurisprudência internacional não tem visto problemas na redução da concorrência potencial por se tratar de um tema muito especulativo.
Folha - Especulativo, mas foi invocado pelo próprio Cade nos casos das parcerias entre a Brahma e a Miller e entre a Antarctica e a Anheuser-Bush, antes da criação da AmBev. Nos dois casos, o conselho impôs restrições e condições.
Oliveira - É verdade, mas eu fui voto vencido. Achei que as parcerias aumentariam a rivalidade no mercado. As alianças acabaram não decolando, e eu nem sei se não decolaram devido a essas restrições e condições. Se tivessem decolado, creio que teria havido mais competição entre as fabricantes de cervejas.
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