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08/03/2004 - 07h45

Concentração de empresas aumenta no país

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DENISE CARVALHO
ÉRICA FRAGA

da Folha de S. Paulo

Um brutal aumento de concentração nas mãos de poucas empresas tem dominado quase todos os setores da economia brasileira nos últimos anos. É o que revelam levantamentos feitos por consultorias a pedido da Folha com base em distintos indicadores de participação de mercado.

No segmento bancário, por exemplo, as cinco maiores instituições financeiras detinham 45% dos ativos totais do mercado, em 1994. No ano passado, esse percentual atingiu 60%, segundo dados da consultoria Austin Asis.

Outro ramo que experimentou forte aumento de concentração foi o de fios e tecidos: entre 1994 e 2002, a participação das cinco maiores empresas no faturamento total saltou de 68,9% para 84,5%, de acordo com dados da consultoria Economática.

No setor de alimentos, a participação de mercado das cinco maiores companhias, medida pelo faturamento, passou de 78,2% para 94%, entre 1994 e 2002.

De acordo com analistas, a tendência é que o movimento de fusões e aquisições, principal motor dessa crescente concentração, experimente um novo boom a partir de 2004, depois de passar por uma desaceleração nos últimos dois anos em conseqüência do fraco desempenho da economia mundial e por conta das incertezas em relação aos rumos do governo petista.

"Há muitas operações sendo negociadas agora no mercado brasileiro. Tudo indica que os próximos dois anos serão marcados pelo anúncio de vários negócios", afirma Luiz Fernando Resende, sócio da LatinFinance, empresa que, entre outras atividades, estrutura operações de fusão e aquisição.

O acirramento da competição em economias cada vez mais integradas devido à globalização faz da busca por fatias maiores de mercado quase uma questão de sobrevivência, segundo analistas.

"As empresas aderem aos programas de fusões para competir no mercado externo e reduzir os custos com ganhos de escala na produção", diz Márcio Lutterbach, sócio da área de finanças corporativas da KPMG.

Exatamente visando esse fortalecimento no mercado externo é que o próprio governo prevê, em sua política industrial, o estímulo ao crescimento das empresas nacionais, seja por linhas de financiamento para as que desejam atuar em consórcio -notadamente para exportação-, seja por meio de fusões e aquisições.

Por meio da assessoria de imprensa, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, informou que o ministério pretende induzir e estimular o aumento do tamanho das empresas nacionais para criar lideranças.

Fortes reajustes

Se por um lado um mercado mais concentrado abriga empresas mais eficientes e financeiramente mais fortes, por outro traz ameaças de prejuízos ao consumidor, como reajustes de preços acima da inflação.

É o que tem ocorrido, por exemplo, com as tarifas bancárias. Entre janeiro de 2000 e o mesmo mês neste ano, os preços dos serviços bancários -computados dentro do IPC (Índice de Preços ao Consumidor)- aumentaram 53,3%. Esse aumento foi bem maior que a inflação de 33,8%, medida pelo próprio IPC da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) no mesmo período.

Mesmo com o módico crescimento econômico e a retração da renda do brasileiro nos últimos anos, o setor de alimentos conseguiu reajustar seus preços 34,14%, também de acordo com dados da Fipe.

Isso tem preocupado órgãos do governo, como o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e a SDE (Secretaria de Direito Econômico), responsáveis por combater condutas que prejudiquem a concorrência nos diversos setores da economia.

"O aumento da concentração em alguns setores tem nos preocupado bastante. Estamos atentos aos movimentos dos setores de supermercados e cimento, por exemplo", afirma Bárbara Rosemberg, diretora do Departamento de Proteção e Defesa Econômica da SDE.

Prova dessa preocupação foram recentes embargos do Cade a operações de aquisição. Foi o caso da proibição da compra da Garoto pela Nestlé e da determinação de que a holandesa Royal Ahold só poderia vender as redes de supermercado G. Barbosa e Bompreço -adquirida na semana passada pelo grupo norte-americano Wal-Mart- separadamente.

No caso do setor financeiro, a aprovação para fusões e aquisições e a fiscalização de condutas abusivas continua sendo prerrogativa apenas do Banco Central. Desde 2002, tramita no Congresso projeto de lei do governo que pretende estender essas atribuições ao Cade e à SDE.

Causas

O aumento da concentração do mercado brasileiro tem ocorrido por meio de incorporações decorrentes de falências, fusões, aquisições e até aumento de produtividade, segundo analistas.

Esse movimento, que reflete uma tendência mundial, foi possibilitado principalmente pela abertura da economia brasileira. Isso permitiu a entrada de empresas estrangeiras no país, assim como melhorou o acesso das companhias brasileiras ao mercado de crédito internacional, possibilitando a realização de novos investimentos.
 

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