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04/04/2004
-
09h37
ADRIANA MATTOS
da Folha de S. Paulo
Queda na renda, recordes no desemprego e repiques inflacionários forçaram os consumidores a enxugar a lista de compras no ano passado. Novos dados obtidos pela Folha vão além: em certos itens, as classes abastadas foram mais fundo nesse corte do que as de baixa renda.
Levantamento revela que, no segundo semestre de 2003, cresceu o número de consumidores das camadas D e E (com renda de um a quatro salários mínimos) que passaram a comprar mais mercadorias supérfluas, em relação ao semestre anterior. Aconteceu o oposto com as camadas de renda mais elevada.
Nessa lista estão certos enlatados (sardinha, atum), requeijão, doces em caldas, leite condensado, frios, pratos congelados e semiprontos, entre outros.
Por exemplo: se nos primeiros seis meses de 2003, 34% dos consumidores da classe baixa compravam atum, ervilhas e azeitonas, no segundo semestre 39% faziam o mesmo. A porcentagem daqueles que compram leite condensado subiu de 47% para 50%. Já a parcela de compradores dos itens atum, ervilhas e azeitonas nas classes alta e média caiu no mesmo período. Em número absoluto, obviamente a taxa é maior, mas ela cai no período analisado. De janeiro a junho de 2003, 65% dos entrevistados da classe média e alta compravam esses itens, contra 63% no segundo semestre.
Nesse estudo, elaborado pela consultoria Ipsos, foram ouvidas 18.750 pessoas em nove centros urbanos, nas pesquisas realizadas nos dois semestres.
Participaram do levantamento donas-de-casa, que responderam a perguntas sobre que itens adquiriram, ou cortaram da lista, em suas últimas compras.
Também foi verificada queda na quantidade de compradores mais ricos que adquirem limpadores multiuso e iogurtes e bebidas lácteas. Ou seja, mercadorias que tiveram aumento na demanda no início do Plano Real, quando o país conheceu as benesses da estabilidade econômica.
No total, foram identificados 22 itens -que não pertencem à cesta básica- que tiveram aumento no consumo para o grupo de consumidores das classes D e E. Há outros, como caldos industrializados, que tiveram queda, porém.
Desejos e compensações
Redes varejistas e analistas econômicos ouvidos enumeraram várias razões para explicar a questão. Foram unânimes em afirmar que os diferentes pesos da inflação em cada camada de renda (os mais ricos têm inflação mais alta) e a maior disposição da classe baixa em correr atrás de promoções ajudam a entender o fato.
Mas não é só isso. A "teoria da compensação" influencia nos resultados. "É como se fosse uma compensação em tempos difíceis. A dona-de-casa deixa de comprar o arroz de uma marca líder de mercado e economiza um pouco para levar para casa aquele xampu mais caro", disse Silton Marcel, coordenador do curso de varejo da Faculdades Trevisan.
Marcos Gouvêa, sócio-diretor da Gouvêa de Souza MD, tem outra explicação. "Os mais endinheirados resistem o quanto podem na hora de cortar mercadorias da lista de compras. Entram no cheque especial, ultrapassam o limite do cartão de crédito. Mas, se a corda aperta, são drásticos e cortam os supérfluos", afirma.
Um fator, no entanto, é repetido por todos os sete analistas de varejo ouvidos pela Folha. A inflação da classe de renda mais baixa é inferior à da classe A e B. Esta sentiu a fisgada da forte subida no preço de serviços, nos gastos com educação, transporte (gasolina) e planos de saúde, por exemplo. Algo que consumidores na base da pirâmide não sentem.
Logo, mais pressionada nos últimos tempos, a classe alta cortou muitos itens da cesta de compras.
"Já a classe de renda mais baixa tem gastos bem mais limitados. Eventuais pressões em determinadas áreas não a atingem", disse Roberto Secches, diretor da Global Research, consultoria especializada em varejo. "Portanto, ela tem uma inflação menor e, quando sobra algum recurso, ela se dá de presente um item supérfluo."
Levantamento da consultoria, disponível para clientes da empresa e obtido pela Folha, revela que, dependendo do item, as camadas de renda baixa suportam mais os reajustes do que os mais abastados.
Baixa renda amplia compra de supérfluos
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da Folha de S. Paulo
Queda na renda, recordes no desemprego e repiques inflacionários forçaram os consumidores a enxugar a lista de compras no ano passado. Novos dados obtidos pela Folha vão além: em certos itens, as classes abastadas foram mais fundo nesse corte do que as de baixa renda.
Levantamento revela que, no segundo semestre de 2003, cresceu o número de consumidores das camadas D e E (com renda de um a quatro salários mínimos) que passaram a comprar mais mercadorias supérfluas, em relação ao semestre anterior. Aconteceu o oposto com as camadas de renda mais elevada.
Nessa lista estão certos enlatados (sardinha, atum), requeijão, doces em caldas, leite condensado, frios, pratos congelados e semiprontos, entre outros.
Por exemplo: se nos primeiros seis meses de 2003, 34% dos consumidores da classe baixa compravam atum, ervilhas e azeitonas, no segundo semestre 39% faziam o mesmo. A porcentagem daqueles que compram leite condensado subiu de 47% para 50%. Já a parcela de compradores dos itens atum, ervilhas e azeitonas nas classes alta e média caiu no mesmo período. Em número absoluto, obviamente a taxa é maior, mas ela cai no período analisado. De janeiro a junho de 2003, 65% dos entrevistados da classe média e alta compravam esses itens, contra 63% no segundo semestre.
Nesse estudo, elaborado pela consultoria Ipsos, foram ouvidas 18.750 pessoas em nove centros urbanos, nas pesquisas realizadas nos dois semestres.
Participaram do levantamento donas-de-casa, que responderam a perguntas sobre que itens adquiriram, ou cortaram da lista, em suas últimas compras.
Também foi verificada queda na quantidade de compradores mais ricos que adquirem limpadores multiuso e iogurtes e bebidas lácteas. Ou seja, mercadorias que tiveram aumento na demanda no início do Plano Real, quando o país conheceu as benesses da estabilidade econômica.
No total, foram identificados 22 itens -que não pertencem à cesta básica- que tiveram aumento no consumo para o grupo de consumidores das classes D e E. Há outros, como caldos industrializados, que tiveram queda, porém.
Desejos e compensações
Redes varejistas e analistas econômicos ouvidos enumeraram várias razões para explicar a questão. Foram unânimes em afirmar que os diferentes pesos da inflação em cada camada de renda (os mais ricos têm inflação mais alta) e a maior disposição da classe baixa em correr atrás de promoções ajudam a entender o fato.
Mas não é só isso. A "teoria da compensação" influencia nos resultados. "É como se fosse uma compensação em tempos difíceis. A dona-de-casa deixa de comprar o arroz de uma marca líder de mercado e economiza um pouco para levar para casa aquele xampu mais caro", disse Silton Marcel, coordenador do curso de varejo da Faculdades Trevisan.
Marcos Gouvêa, sócio-diretor da Gouvêa de Souza MD, tem outra explicação. "Os mais endinheirados resistem o quanto podem na hora de cortar mercadorias da lista de compras. Entram no cheque especial, ultrapassam o limite do cartão de crédito. Mas, se a corda aperta, são drásticos e cortam os supérfluos", afirma.
Um fator, no entanto, é repetido por todos os sete analistas de varejo ouvidos pela Folha. A inflação da classe de renda mais baixa é inferior à da classe A e B. Esta sentiu a fisgada da forte subida no preço de serviços, nos gastos com educação, transporte (gasolina) e planos de saúde, por exemplo. Algo que consumidores na base da pirâmide não sentem.
Logo, mais pressionada nos últimos tempos, a classe alta cortou muitos itens da cesta de compras.
"Já a classe de renda mais baixa tem gastos bem mais limitados. Eventuais pressões em determinadas áreas não a atingem", disse Roberto Secches, diretor da Global Research, consultoria especializada em varejo. "Portanto, ela tem uma inflação menor e, quando sobra algum recurso, ela se dá de presente um item supérfluo."
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