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29/04/2004 - 09h05

Caso do algodão tira trunfo dos ricos, afirma Amorim

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CLÓVIS ROSSI
Colunista da Folha de S.Paulo, em Bruxelas

O ministro Celso Amorim acredita que a decisão da OMC (Organização Mundial do Comércio) a favor do Brasil e contra os subsídios norte-americanos ao algodão tire dos países ricos "um instrumento que eles queriam usar como barganha na negociação agrícola, o que talvez os faça andar mais rápido" (nas concessões a países como o Brasil, que querem derrubar o muro protecionista).

Traduzindo: se, cedo ou tarde, a OMC vai considerar ilegais os subsídios (internos ou à exportação), os países que os adotam talvez considerem melhor derrubá-los de uma vez, claro que em troca de concessões de seus parceiros na OMC.

O ministro lembra um antecedente remoto: durante a Rodada Uruguai, o ciclo de negociações liberalizantes que foi de 1986 a 1993, houve uma disputa similar à do algodão, mas em torno das oleaginosas e entre União Européia e Estados Unidos (o Brasil era parte interessada, mecanismo previsto nas regras da época e de agora).

A Europa perdeu e "viu que não podia continuar ficando na negativa absoluta nas negociações agrícolas", rememora o chanceler.

De fato, a Rodada Uruguai marca o momento em que a agricultura, pela primeira vez, entrou nas negociações agrícolas, embora o resultado final tenha sido pobre: um acordo posterior entre UE e EUA limitou muitíssimo a abertura.

Amorim diz que não é o caso de "triunfalismo" em torno da vitória no caso do algodão, mas ele próprio tem dificuldades para contê-lo, porque a decisão de entrar com o pedido de julgamento foi dele, pessoalmente, embora depois aprovada por outros ministros.

Mérito ao governo anterior

O chanceler tem a gentileza de reconhecer que o mérito deve ser estendido ao governo anterior, por conta de um episódio que ele conta agora: quem teve a primeira idéia foi Pedro de Camargo Netto, então secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, no governo Fernando Henrique Cardoso.

Camargo Netto, participante ativo das negociações agrícolas, seja como ruralista, seja como membro do governo, foi a Amorim, então embaixador em Genebra, quando este se recuperava de uma operação.

Pediu sugestões e Amorim recomendou a contratação de um advogado especializado em litígios. "Você pode ter toda a razão do mundo, mas é preciso ver se você tem também um caso", disse à época e rememora agora.

O advogado foi de fato contratado, o norte-americano Scott Andersen, sem falar no economista Daniel Summer, ex-funcionário do governo norte-americano e hoje professor da Universidade da Califórnia em Davis.

Exemplo de luta

Há um segundo motivo para o entusiasmo do chanceler: ele acredita que o caso do algodão seja exemplar na luta do G20 para equiparar justiça social e comércio (G20 é o grupo de países em desenvolvimento, liderado por Brasil e Índia, que luta pela abertura agrícola dos países ricos).

De fato, a derrubada dos subsídios ao algodão vai beneficiar o Brasil, mas principalmente países africanos como Mali, Chade, Benin e Burkina
Faso. Neles, o algodão é responsável pelo emprego de 15 milhões de pessoas, que correm o risco de ficar desempregados pelos produtores norte-americanos financiados pelo portentoso Tesouro de Washington.

Os países produtores de algodão na África perdem cerca de US$ 250 milhões por ano, conforme estimativas do Banco Mundial.

Amorim tinha outro pequeno triunfo a festejar ontem: um senador japonês que o visitou no Itamaraty pediu que o Brasil representasse o Japão no jantar de amanhã, em Londres, entre um pequeno grupo de ministros para tentar desbloquear as negociações comerciais globais (o Japão não foi convidado, mas Amorim estará em Londres).
 

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