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04/07/2004
-
10h02
SÉRGIO RANGEL
da Folha de S.Paulo
Um bar na zona boêmia da Lapa carioca oferece mais do que cerveja e bolinhos. O cardápio da Comuna do Semente, que veta Coca-Cola e outros produtos de multinacionais, é um verdadeiro panfleto antiglobalização.
Politicamente corretos, os três "gestores" do bar decidiram boicotar as grandes empresas no cardápio e só oferecem produtos genuinamente nacionais. Além de Coca-Cola, não vendem cervejas da AmBev --que se uniu à belga Interbrew. Lá, só se bebe Mineirinho, refrigerante típico do interior do Rio, e cerveja Itaipava, fabricada na serra fluminense. Produtos de assentamentos do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e doces e bolos caseiros como sobremesa são servidos.
A administração do bar também é diferente. Um "comitê gestor" administra o Comuna, que não tem cozinheiro nem garçom contratados. Os músicos, muitos famosos, se apresentam sem receber cachê.
"Já fazíamos uma música de resistência. Agora, decidimos estender o protesto para todo o resto do bar", disse Camila Moreno, 31, uma das integrantes "do comitê gestor".
O carro-chefe da casa é o chips de provolone, iguaria de fatias finas do queijo torradas no fogão à lenha. O provolone é fabricado num assentamento do Paraná, onde as vacas são criadas livres, ordenhadas manualmente e tratadas com homeopatia.
"Não concordamos com esse modelo globalizante, que quer dominar as pessoas. Eles não querem nos dar oportunidade de escolha. Não vejo motivo para tomar Coca-Cola, ouvir rap e comer batata chips, se podemos tomar cerveja local, escutar música brasileira e comer produto de assentamento. A dominação é feita no cotidiano. Estamos fora disso", disse Moreno, formada em filosofia e em direito.
Apesar de cobrar R$ 4 por uma garrafa de cerveja Itaipava, o bar não tem como objetivo o lucro, segundo o comitê gestor.
"Não vivemos com o dinheiro do bar. Aqui é um espaço para reunir pessoas que crêem em outra forma de viver. Como só abrimos às quintas e aos domingos, temos que cobrar mais para sustentar a casa. Ninguém reclama", diz Moreno, que se reveza de garçonete, cozinheira e recepcionista à noite.
Aberta há seis meses, a casa já é um "point" da noite da Lapa. No início, era financiada por cotistas. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, foi um dos que investiram no Comuna.
Bar veta multinacionais e vende produtos de sem-terra no Rio
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da Folha de S.Paulo
Um bar na zona boêmia da Lapa carioca oferece mais do que cerveja e bolinhos. O cardápio da Comuna do Semente, que veta Coca-Cola e outros produtos de multinacionais, é um verdadeiro panfleto antiglobalização.
Politicamente corretos, os três "gestores" do bar decidiram boicotar as grandes empresas no cardápio e só oferecem produtos genuinamente nacionais. Além de Coca-Cola, não vendem cervejas da AmBev --que se uniu à belga Interbrew. Lá, só se bebe Mineirinho, refrigerante típico do interior do Rio, e cerveja Itaipava, fabricada na serra fluminense. Produtos de assentamentos do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e doces e bolos caseiros como sobremesa são servidos.
A administração do bar também é diferente. Um "comitê gestor" administra o Comuna, que não tem cozinheiro nem garçom contratados. Os músicos, muitos famosos, se apresentam sem receber cachê.
"Já fazíamos uma música de resistência. Agora, decidimos estender o protesto para todo o resto do bar", disse Camila Moreno, 31, uma das integrantes "do comitê gestor".
O carro-chefe da casa é o chips de provolone, iguaria de fatias finas do queijo torradas no fogão à lenha. O provolone é fabricado num assentamento do Paraná, onde as vacas são criadas livres, ordenhadas manualmente e tratadas com homeopatia.
"Não concordamos com esse modelo globalizante, que quer dominar as pessoas. Eles não querem nos dar oportunidade de escolha. Não vejo motivo para tomar Coca-Cola, ouvir rap e comer batata chips, se podemos tomar cerveja local, escutar música brasileira e comer produto de assentamento. A dominação é feita no cotidiano. Estamos fora disso", disse Moreno, formada em filosofia e em direito.
Apesar de cobrar R$ 4 por uma garrafa de cerveja Itaipava, o bar não tem como objetivo o lucro, segundo o comitê gestor.
"Não vivemos com o dinheiro do bar. Aqui é um espaço para reunir pessoas que crêem em outra forma de viver. Como só abrimos às quintas e aos domingos, temos que cobrar mais para sustentar a casa. Ninguém reclama", diz Moreno, que se reveza de garçonete, cozinheira e recepcionista à noite.
Aberta há seis meses, a casa já é um "point" da noite da Lapa. No início, era financiada por cotistas. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, foi um dos que investiram no Comuna.
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