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18/07/2004
-
09h26
CÍNTIA CARDOSO
ÉRICA FRAGA
da Folha de S.Paulo
Brasil, Rússia, Índia e China formam um grupo que compartilha apelidos, como "baleias" e "Brics" (sigla formada pela inicial dos nomes), e diagnósticos analíticos de que ultrapassarão muitas economias desenvolvidas no futuro. Mas, por enquanto, o Brasil parece estar sendo deixado para trás por seus pares. A economia do país deve crescer 3,5% neste ano, metade da média da expansão projetada para o resto do grupo.
Esse descompasso tem motivado um debate intenso entre economistas. A grande discussão, que ainda está longe de um consenso, é se o Brasil deveria seguir o rumo de outros países que --como Índia e China-- perseguiram uma estratégia específica de desenvolvimento.
Para alguns analisas, inclusive, o país caminha, quase que acidentalmente, na direção das demais "baleias". China, Índia e Rússia devem crescer, respectivamente, 8,5%, 6,8% e 6% neste ano, segundo projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional). Boa parte dessas altas expansões pode ser explicada, segundo analistas, pelo forte desempenho das exportações nesses países.
"A lição que o Brasil poderia aprender com esses países é que há um mundo lá fora que pode beneficiá-lo. O Brasil ainda aproveita muito timidamente o aumento da demanda mundial", diz Antonio Manfredini, professor da Fundação Getúlio Vargas (SP).
Para Carlos Geraldo Langoni, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Estudos Mundiais da FGV-RJ, a China usou a abertura da economia como estratégia clara de crescimento. O Brasil, segundo ele, até caminha nessa direção agora, mas chegou a perder muito tempo. "O Brasil começou, como esses outros países, um processo de desregulamentação, mas fez isso sem disciplina fiscal e desprezou o setor exportador", avalia Langoni.
"Na década de 90, o Brasil perdeu o bonde e fez uma integração às avessas. O investimento direto estrangeiro que entrou aqui foi mais por conta da privatização das empresas", argumenta o professor Luiz Gonzaga Belluzzo.
Para ele, China e Índia "não têm restrições consideráveis do lado fiscal e monetário", o que significa taxas de juros baixas e oferta de crédito maior para investimentos.
Em termos de reservas internacionais, o Brasil também ainda perde muito para as demais "baleias". A expressão foi cunhada em oposição a "tigres asiáticos". Os "tigres" representam países pequenos com dinâmica de crescimento baseada em exportações. Já as "baleias" têm grandes extensões territoriais, amplos mercados internos e que tendem a se mover de modo mais lento.
Ritmo
Segundo Júlio Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), países como Rússia, Índia e China optaram por uma estratégia agressiva de acumulação de reservas internacionais a fim de manter suas moedas desvalorizadas e reduzir a vulnerabilidade externa de suas economias.
O Banco Central brasileiro chegou a ensaiar um movimento forte de compras de dólares em 2003, mas perdeu o ritmo quando as condições externas se tornaram menos favoráveis neste ano.
De toda forma, as reservas brasileiras ainda estão muito aquém das registradas pelos outros três "Brics". Segundo a revista "The Economist", as reservas de Rússia, Índia e China são de, respectivamente, US$ 81,5 bilhões, US$ 114,1 bilhões e US$ 444,4 bilhões. Já as brasileiras -descontados os recursos emprestados pelo FMI- somam US$ 25 bilhões.
Do contra
Há, porém, quem desdenhe das taxas de crescimento dos outros "Brics". "O Brasil não tem nada a aprender com esses países, que são muito pobres. Não se pode comparar países que estão saindo do século 17 e caminhando para século 18, como Índia e China, com um país moderno como o Brasil", disse à Folha Kenneth Rogoff, conceituado professor de Harvard e ex-diretor do Departamento de Pesquisas do FMI.
Outra razão para o ritmo acelerado de crescimento das "baleias" é estrutural. "Em economias com população de renda muito baixa, há mais potencial para aumentar a renda per capita mais rapidamente", diz Manfredini.
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Brasil cresce abaixo da média de outras "baleias"
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ÉRICA FRAGA
da Folha de S.Paulo
Brasil, Rússia, Índia e China formam um grupo que compartilha apelidos, como "baleias" e "Brics" (sigla formada pela inicial dos nomes), e diagnósticos analíticos de que ultrapassarão muitas economias desenvolvidas no futuro. Mas, por enquanto, o Brasil parece estar sendo deixado para trás por seus pares. A economia do país deve crescer 3,5% neste ano, metade da média da expansão projetada para o resto do grupo.
Esse descompasso tem motivado um debate intenso entre economistas. A grande discussão, que ainda está longe de um consenso, é se o Brasil deveria seguir o rumo de outros países que --como Índia e China-- perseguiram uma estratégia específica de desenvolvimento.
Para alguns analisas, inclusive, o país caminha, quase que acidentalmente, na direção das demais "baleias". China, Índia e Rússia devem crescer, respectivamente, 8,5%, 6,8% e 6% neste ano, segundo projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional). Boa parte dessas altas expansões pode ser explicada, segundo analistas, pelo forte desempenho das exportações nesses países.
"A lição que o Brasil poderia aprender com esses países é que há um mundo lá fora que pode beneficiá-lo. O Brasil ainda aproveita muito timidamente o aumento da demanda mundial", diz Antonio Manfredini, professor da Fundação Getúlio Vargas (SP).
Para Carlos Geraldo Langoni, ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Estudos Mundiais da FGV-RJ, a China usou a abertura da economia como estratégia clara de crescimento. O Brasil, segundo ele, até caminha nessa direção agora, mas chegou a perder muito tempo. "O Brasil começou, como esses outros países, um processo de desregulamentação, mas fez isso sem disciplina fiscal e desprezou o setor exportador", avalia Langoni.
"Na década de 90, o Brasil perdeu o bonde e fez uma integração às avessas. O investimento direto estrangeiro que entrou aqui foi mais por conta da privatização das empresas", argumenta o professor Luiz Gonzaga Belluzzo.
Para ele, China e Índia "não têm restrições consideráveis do lado fiscal e monetário", o que significa taxas de juros baixas e oferta de crédito maior para investimentos.
Em termos de reservas internacionais, o Brasil também ainda perde muito para as demais "baleias". A expressão foi cunhada em oposição a "tigres asiáticos". Os "tigres" representam países pequenos com dinâmica de crescimento baseada em exportações. Já as "baleias" têm grandes extensões territoriais, amplos mercados internos e que tendem a se mover de modo mais lento.
Ritmo
Segundo Júlio Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), países como Rússia, Índia e China optaram por uma estratégia agressiva de acumulação de reservas internacionais a fim de manter suas moedas desvalorizadas e reduzir a vulnerabilidade externa de suas economias.
O Banco Central brasileiro chegou a ensaiar um movimento forte de compras de dólares em 2003, mas perdeu o ritmo quando as condições externas se tornaram menos favoráveis neste ano.
De toda forma, as reservas brasileiras ainda estão muito aquém das registradas pelos outros três "Brics". Segundo a revista "The Economist", as reservas de Rússia, Índia e China são de, respectivamente, US$ 81,5 bilhões, US$ 114,1 bilhões e US$ 444,4 bilhões. Já as brasileiras -descontados os recursos emprestados pelo FMI- somam US$ 25 bilhões.
Do contra
Há, porém, quem desdenhe das taxas de crescimento dos outros "Brics". "O Brasil não tem nada a aprender com esses países, que são muito pobres. Não se pode comparar países que estão saindo do século 17 e caminhando para século 18, como Índia e China, com um país moderno como o Brasil", disse à Folha Kenneth Rogoff, conceituado professor de Harvard e ex-diretor do Departamento de Pesquisas do FMI.
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