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25/07/2004 - 11h37

Europeus aceitam trabalhar mais para preservar emprego

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WOLFGANG MUNCHAU
RALPH ATKINS

do "Financial Times"

Os 25 mil empregados da Siemens foram às ruas no início da semana que passou para protestar contra as ameaças de seu patrão, Heinrich von Pierer, de transferir empregos para locais de menor custo no exterior.

A fúria começou quando Von Pierer formulou um plano para transferir 2.000 empregos de duas fábricas de celulares e telefones sem fio da Renânia do Norte-Vestfália, na parte ocidental da Alemanha, para a Hungria.

Como parte do acordo com os representantes dos trabalhadores, no mês passado, a Siemens convencera os empregados a trabalhar 40 horas por semana em vez das habituais 35 horas, sem pagamento extra, em troca da promessa de não tirar a produção da Alemanha --a semana de 35 horas não faz parte da lei federal, mas de acordos com sindicatos.

O aumento da jornada de trabalho nessas duas fábricas da Siemens se mostrou contagioso.

No início do mês, a direção da DaimlerChrysler anunciou que quer reformular seus métodos de trabalho na fábrica da Mercedes em Baden-Württemberg, tentando obter economias que poderão chegar a 500 milhões.

Uma cláusula opcional pouco notada no último acordo salarial do setor de engenharia possibilitou pela primeira vez acordos no nível do chão de fábrica sobre as jornadas de trabalho. A cláusula pretendia ser uma salvaguarda para companhias em dificuldades. Mas a Siemens e a DaimlerChrysler não estão em dificuldades financeiras.

Diferentemente, elas puderam usar a ameaça de transferir a produção para outros países, especialmente aos novos membros da União Européia, para reduzir custos visando aumentar a competitividade internacional.

Hoje, muitos na Alemanha pedem um aumento da jornada de trabalho semanal. O diretor do Instituto de economia Ifo em Munique, Hans-Werner Sinn, diz que uma semana de trabalho de 42 horas deveria ser a norma. Klaus Zimmermann, chefe do instituto DIW em Berlim, de inclinação geralmente esquerdista, sugere o número de 50 horas por semana. Outros, incluindo o premiê Gerhard Schröder, são a favor de maior flexibilidade, em vez de um aumento indiscriminado.

O acordo na Siemens desencadeou um caloroso debate sobre competitividade e produtividade na zona euro. Muitos economistas e políticos dizem que a tendência a encurtar as jornadas foi um dos motivos pelos quais grandes partes da zona do euro vêm sofrendo um crescimento econômico lento nos últimos dez anos, especialmente comparado com o dos Estados Unidos.

O debate atingiu a França. A indústria de peças para carros Bosch concordou com um acordo semelhante na semana que passou em sua fábrica perto de Lyon, onde os funcionários aprovaram quase por unanimidade trabalhar uma hora a mais por semana sem compensação. O acordo parece burlar a lei francesa, que insiste em uma semana de 35 horas.

O deputado socialista francês Jean Le Garrec acusou a Bosch de "chantagem da terceirização". O ministro da Economia, Nicolas Sarkozy, que é aberto a mudanças na lei das 35 horas, disse: "Trabalhar mais sem ganhar mais é algo que não vai acontecer na França".

O provável fim da semana de 35 horas nas indústrias francesa e alemã demonstra que, mesmo que os políticos não estejam dispostos a mudar, as maiores companhias estão preparadas para cuidar do assunto à sua maneira.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves
 

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