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30/07/2004 - 07h15

Ex-diretor do BC omite existência de conta nos EUA

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ANDRÉA MICHAEL
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O ex-diretor de Política Monetária do Banco Central Luiz Augusto de Oliveira Candiota não declarou à Receita Federal a existência de uma conta no Citibank nos Estados Unidos por meio da qual movimentou US$ 1,02 milhão entre 2001 e 2002.

É o que mostra a comparação entre os dados que Candiota informou ao fisco naqueles anos e as operações financeiras nas quais usou contas do banco norte-americano CBC para movimentar o dinheiro.

Os arquivos referentes a 700 mil operações do CBC --novo nome do antigo MTB Bank-- estão sendo investigados pelo Ministério Público de Nova York em um procedimento cujo foco é a identificação de prática de lavagem de dinheiro.

Os dados foram encaminhados ao Ministério da Justiça, ao Ministério Público Federal e à CPI do Banestado.

Candiota pediu demissão anteontem justamente por causa das dúvidas sobre suas movimentações no exterior, negando irregularidades.

A Folha tentou falar com o ex-diretor do BC na quarta-feira à noite e na manhã de ontem. Em ambas as ocasiões ele disse, por meio de sua assessoria, que não se manifestaria.

Tais arquivos totalizam em nome do ex-diretor do Banco Central uma movimentação de US$ 1,29 milhão em 11 operações realizadas entre 1999 e 2002. Em duas delas, ele recebe dinheiro oriundo do CBC, mais especificamente das contas Kundo e Europa, ambas atribuídas a doleiros.

Nas demais operações, Candiota envia recursos por meio do banco investigado. Em todas elas, o destinatário do dinheiro que sai do Citibank é a conta Europa (030172802), uma "offshore" que tem sede em Montevidéu (Uruguai).

"Offshores" são empresas que têm sede em paraísos fiscais, países nos quais as leis de sigilo bancário garantem movimentações livres de dinheiro. Não há informação sobre o caminho tomado pelo dinheiro depois dessa última parada.

Conforme os dados do CBC, o dinheiro oriundo do Citibank sai de duas contas de Candiota no exterior: AC 10443884 e AC 10401553. Em 2001 e 2002, o ex-diretor do BC declarou à Receita somente a segunda conta no Citibank dos EUA, além de uma outra do mesmo banco no Brasil. Pela conta no exterior declarada, realizou, conforme o CBC, apenas uma operação de US$ 7.533 em 2002. O destino do dinheiro também era a conta da "offshore" Europa no CBC.

Declarações manuscritas

Nas declarações de Imposto de Renda de 1998 a 2002, Candiota sempre registra a existência de duas contas no Citibank, uma no Brasil e outra no exterior --com exceção de 1998, quando informa à Receita possuir três contas.

Em 1999, faz referência à "conta corrente 4296893 Citibank NA" e à "Citibank NA". Em 2000, reproduz a descrição do ano anterior.

Em 2001, agora em declaração digitada --as anteriores eram manuscritas--, Candiota informa os números das contas e o país de sua localização: "4296893 -Banco Citibank SA - Brasil" e "10401553 Citibank N.A. - Estados Unidos". Essa mesma descrição é repetida em 2002.

Como há informações incompletas --algumas até de difícil leitura por serem manuscritas-- entre 1998 e 2000, a Folha trabalhou com os dados referentes apenas a 2001 e 2002, confrontando-os com a contabilidade do CBC.

Da análise surgiu, então, um conjunto de sete operações que totalizam US$ 1,02 milhão, nas quais o ponto de partida para a movimentação foi a conta do Citibank que Candiota não declarou ao fisco brasileiro.

Demissão

Candiota pediu demissão do cargo formalmente anteontem. Em pronunciamento à imprensa, afirmou: "Sinto-me violentado pessoalmente e profissionalmente, sobretudo pela forma como a matéria é apresentada, dando a entender que teria me envolvido em operações fraudulentas.

Confesso não ter mais motivação para me manter no cargo".
Referia-se a matéria da revista "IstoÉ", que revelou as movimentações de Candiota no CBC e o apontou como suspeito de sonegação fiscal e evasão de divisas. Não identificou, no entanto, a conta do Citibank não declarada à Receita. O presidente do BC, Henrique Meirelles, e o ministro Palocci (Fazenda) declararam apoio a Candiota.

Troca

O atual diretor de Política Econômica do Banco Central do Brasil, Afonso Bevilaqua, se afastará temporariamente da sua função para assumir a diretoria de Política Monetária da instituição no lugar de Luiz Augusto Candiota, que pediu demissão anteontem.

A vaga na Diretoria de Política Econômica será assumida interinamente pelo diretor de estudos especiais do BC, Eduardo Loyo, que passa a acumular, a partir de hoje, ambas as funções.

Essa troca só deve ser desfeita quando o economista Rodrigo Azevedo (ex-CSFB Garantia), indicado para o lugar de Candiota, tiver seu nome aprovado pelo Senado. A previsão é que a sabatina dos senadores aconteça apenas na segunda semana de agosto.

Especial
  • Arquivo: Veja o que já foi publicado sobre o ex-diretor do BC Luiz Augusto Candiota
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