06/08/2004 - 18h14

Bovespa cai 3% na semana de "inferno astral" no BC e BB

SÉRGIO RIPARDO
da Folha Online

A Bovespa caiu 3% na primeira semana de agosto, refletindo a preocupação dos investidores com a escalada do petróleo e os desdobramentos dos escândalos envolvendo o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, 58, e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb [que faz 49 anos no domingo].

Mas, nesta sexta-feira, a Bolsa paulista teve um pregão positivo, apesar de um volume de negócios (R$ 955,9 milhões) abaixo da média do ano (R$ 1,1 bilhão). O Ibovespa (índice de 54 ações) subiu 1,51% para 21.652 pontos. No ano, caiu 2,6%.

Pela manhã, as principais ações chegaram a balançar com a divulgação de uma nova denúncia contra Meirelles. Mas um dado sobre emprego divulgado nos EUA segurou a queda do Ibovespa, pois foi considerado positivo para os países emergentes.

Em julho, foram criadas 32 mil vagas de emprego nos EUA, número abaixo do esperado pelos analistas (230 mil). O dado enfraqueceu as previsões de alta forte dos juros nos EUA, na próxima terça, quando o Fed (Federal Reserve, o BC americano) se reúne para avaliar a taxa --hoje em 1,25%.

Quanto menor o patamar do juro americano, maior é o fluxo de capital para ativos de países emergentes, como o Brasil, já que os investidores estrangeiros buscam papéis que rendem taxas maiores.

Após a divulgação do dado, o banco americano JP Morgan elevou a recomendação para os títulos da dívida externa brasileira. O dólar teve a maior queda em quase dois meses (-1,23%), fechando cotado a R$ 3,033. O risco Brasil recuou mais de 3%, voltando a ficar abaixo de 600 pontos, somando 584 pontos (-3,63%).

Em relatório, o JP Morgan minimizou as novas denúncias contra Meirelles, informando que vai esperar a repercussão do caso antes de alterar sua posição nos papéis do país.

Hoje a revista "IstoÉ" divulgou que o presidente do BC declarou à Receita Federal um imóvel de R$ 220 mil por R$ 1. O ministro Antonio Palocci (Fazenda) reafirmou o apoio a Meirelles. Ontem, a revista "Veja" havia divulgado reportagem, em seu site, na qual dizia que o presidente do BC tem uma conta não-declarada no exterior e que movimentou pouco mais de US$ 50 mil para uma outra conta de doleiros investigados pela CPI do Banestado por suspeita de lavagem de dinheiro. Meirelles negou as irregularidades citadas por "Veja".

Contribuiu para ofuscar a nova denúncia o anúncio de um pacote fiscal pelo Ministério da Fazenda. Entre as medidas, estava a redução da alíquota do IR (Imposto de Renda) para o mercado de ações, de 20% para 15% sobre o ganho, a partir do dia 1º de janeiro de 2005.

O presidente da Bovespa, Raymundo Magliano Filho, 62, espera que a medida eleve a participação das pessoas físicas nos negócios da Bolsa paulista. "Recebemos bem a medida. É um bom sinal do governo, pois mostra o interesse em incentivar as aplicações de longo prazo", disse o presidente da Bovespa.

Em julho, a participação das pessoas físicas no volume de negócios da Bovespa bateu recorde histórico ao atingir uma fatia de 30,1%. "Com o imposto menor, poderemos aumentar ainda mais a participação das pessoas físicas no mercado de ações."

Nos EUA, a criação de vagas abaixo das previsões prejudicou o mercado acionário. O Dow Jones caiu 1,48%, enquanto a Bolsa eletrônica Nasdaq recuou 2,45%.

"Bolha de aço"

A "bolha do aço" não pára de encher no pregão. As ações de siderurgia voltaram a disparar nos últimos dias com os lucros trimestrais divulgados e perspectivas positivas para o setor.

Hoje, Usiminas PNA, a terceira mais negociada, subiu 3,8%. Já Gerdau PN avançou 1,21%. CSN ON teve alta de 2,16%. Acesita PN valorizou 2,8%. Os papéis de mineração também registraram ganhos com destaque para Caemi PN (+6,1%) e Vale ON (+1,10).

Por sua vez, a ação do Banco do Brasil subiu 2,72% nesta sexta-feira, mas acumulou queda de 1,7% na semana. O presidente do BB é alvo de denúncia de sonegação fiscal.

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