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08/11/2000
-
06h45
VANESSA ADACHI
da Folha de S. Paulo
Os bancos interessados em comprar o Banespa travam uma queda-de-braço com o Banco Central para desvendar, antes da privatização no dia 20, quem são os seus devedores.
Na sala de informações do Banespa, o chamado "data room", foram listados apenas os 50 maiores devedores de cada carteira de crédito do banco.
A ausência dos dados completos tem gerado insegurança para os interessados pelo Banespa.
Segundo a Folha ouviu de executivos de bancos que participarão do leilão, com esses poucos dados é possível avaliar apenas cerca de R$ 800 milhões de uma carteira de crédito total que ronda os R$ 5,5 bilhões. É muito pouco, dizem eles.
A única carteira que tem informações um pouco mais completas no "data room" é a comercial, que inclui, por exemplo, os empréstimos para capital de giro.
Para que cada um dos candidatos possa calcular o valor de sua oferta no dia do leilão, é fundamental conhecer quem são todos os credores, quanto cada um deve, qual o risco que cada um oferece e se as provisões para eventuais inadimplências estão feitas corretamente.
A ausência dos dados completos mobilizou os nove bancos pré-qualificados para o leilão -Bradesco, Itaú, Unibanco, Safra, HSBC, Citibank, BankBoston, Santander e BBVA. Isoladamente, cada um deles tem pressionado para que o BC libere essas informações.
Para tentar resolver o impasse, uma reunião entre os banqueiros e os técnicos do BC foi agendada para sexta-feira.
De acordo com os executivos, o BC tem argumentado a manutenção do sigilo bancário para não liberar os dados. Outras versões que circulam falam em resistência dos funcionários do Banespa, contrários ao leilão, em divulgar as informações.
Em aquisições de bancos privados, o raios X da carteira de crédito é exigência do comprador.
Para ficar nos casos recentes, Bradesco e Unibanco tiveram acesso aos dados completos da carteira de crédito do Boavista e do Bandeirantes, respectivamente, antes de comprá-los.
No caso do Banespa, entretanto, a insegurança dos banqueiros se multiplica, pois o que está em jogo é muito mais dinheiro. Um erro de cálculo pode custar centenas de milhões de reais.
Dois fatores dão alguma segurança aos bancos interessados. Eles acham que, pela lógica, o fato de o Banespa estar sob administração do BC há anos é uma garantia. Em tese, seus técnicos aplicariam critérios rígidos, os mesmos exigidos do mercado.
Além disso, a auditoria externa do Banespa, a Trevisan, tem credibilidade no mercado.
Aposentadorias
Outra fonte de dúvida para os bancos qualificados para o leilão é o cálculo atuarial empregado no fundo de pensão do Banespa.
A reserva composta hoje para o pagamento de aposentadorias futuras embute rentabilidade de 12% ao ano acima da inflação. Para os executivos dos bancos, esse tipo de rendimento é incompatível com a economia estável.
Ou seja, quem vier a comprar o Banespa tenderá a estimar um rendimento menor e, com isso, terá de injetar dinheiro para aumentar as reservas. A diferença poderia ser de bilhões de reais.
Liminar negada
O juiz federal substituto da 15ª Vara Federal em São Paulo, Marcelo Guerra Martins, negou ontem o pedido de liminar para suspender o leilão do Banespa. A ação era proposta pela Afubesp (Associação dos Funcionários do Banespa).
Segundo a Afubesp, a venda deveria ser suspensa pela falta de assembléia de acionistas do banco não ter sido realizada 45 dias antes do leilão.
Para o juiz, a assembléia é dispensável no caso do Banespa, pois a União é a detentora das ações.
Interessados temem devedores do Banespa
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da Folha de S. Paulo
Os bancos interessados em comprar o Banespa travam uma queda-de-braço com o Banco Central para desvendar, antes da privatização no dia 20, quem são os seus devedores.
Na sala de informações do Banespa, o chamado "data room", foram listados apenas os 50 maiores devedores de cada carteira de crédito do banco.
A ausência dos dados completos tem gerado insegurança para os interessados pelo Banespa.
Segundo a Folha ouviu de executivos de bancos que participarão do leilão, com esses poucos dados é possível avaliar apenas cerca de R$ 800 milhões de uma carteira de crédito total que ronda os R$ 5,5 bilhões. É muito pouco, dizem eles.
A única carteira que tem informações um pouco mais completas no "data room" é a comercial, que inclui, por exemplo, os empréstimos para capital de giro.
Para que cada um dos candidatos possa calcular o valor de sua oferta no dia do leilão, é fundamental conhecer quem são todos os credores, quanto cada um deve, qual o risco que cada um oferece e se as provisões para eventuais inadimplências estão feitas corretamente.
A ausência dos dados completos mobilizou os nove bancos pré-qualificados para o leilão -Bradesco, Itaú, Unibanco, Safra, HSBC, Citibank, BankBoston, Santander e BBVA. Isoladamente, cada um deles tem pressionado para que o BC libere essas informações.
Para tentar resolver o impasse, uma reunião entre os banqueiros e os técnicos do BC foi agendada para sexta-feira.
De acordo com os executivos, o BC tem argumentado a manutenção do sigilo bancário para não liberar os dados. Outras versões que circulam falam em resistência dos funcionários do Banespa, contrários ao leilão, em divulgar as informações.
Em aquisições de bancos privados, o raios X da carteira de crédito é exigência do comprador.
Para ficar nos casos recentes, Bradesco e Unibanco tiveram acesso aos dados completos da carteira de crédito do Boavista e do Bandeirantes, respectivamente, antes de comprá-los.
No caso do Banespa, entretanto, a insegurança dos banqueiros se multiplica, pois o que está em jogo é muito mais dinheiro. Um erro de cálculo pode custar centenas de milhões de reais.
Dois fatores dão alguma segurança aos bancos interessados. Eles acham que, pela lógica, o fato de o Banespa estar sob administração do BC há anos é uma garantia. Em tese, seus técnicos aplicariam critérios rígidos, os mesmos exigidos do mercado.
Além disso, a auditoria externa do Banespa, a Trevisan, tem credibilidade no mercado.
Aposentadorias
Outra fonte de dúvida para os bancos qualificados para o leilão é o cálculo atuarial empregado no fundo de pensão do Banespa.
A reserva composta hoje para o pagamento de aposentadorias futuras embute rentabilidade de 12% ao ano acima da inflação. Para os executivos dos bancos, esse tipo de rendimento é incompatível com a economia estável.
Ou seja, quem vier a comprar o Banespa tenderá a estimar um rendimento menor e, com isso, terá de injetar dinheiro para aumentar as reservas. A diferença poderia ser de bilhões de reais.
Liminar negada
O juiz federal substituto da 15ª Vara Federal em São Paulo, Marcelo Guerra Martins, negou ontem o pedido de liminar para suspender o leilão do Banespa. A ação era proposta pela Afubesp (Associação dos Funcionários do Banespa).
Segundo a Afubesp, a venda deveria ser suspensa pela falta de assembléia de acionistas do banco não ter sido realizada 45 dias antes do leilão.
Para o juiz, a assembléia é dispensável no caso do Banespa, pois a União é a detentora das ações.
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