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31/08/2004 - 09h31

PIB brasileiro cresce 4,2% no primeiro semestre, maior alta desde 2000

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JANAINA LAGE
da Folha Online, no Rio

A economia brasileira teve um crescimento de 4,2% nos primeiros seis meses deste ano, segundo informou hoje o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Essa é a maior taxa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) desde o primeiro semestre de 2000.

Apenas no segundo trimestre, houve crescimento de 1,5% em relação ao primeiro. O resultado reflete o bom momento da economia brasileira, com recordes nas exportações, retomada do consumo, da renda e do mercado de trabalho.

Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o crescimento apresentado é ainda maior: 5,7%. Trata-se do maior crescimento desde o terceiro trimestre de 1996.

Isso por conta da fraca base de comparação, resultante do desempenho pífio visto no ano passado por conta dos juros altos e queda na renda do trabalhador.

Desafios

A recuperação da economia, no entanto, pode trazer dificuldades ao país, como, por exemplo, estimular a inflação. O IGP-M de agosto ficou em 1,22% e revelou pela primeira vez que o reaquecimento da economia está permitindo o aumento de preços, segundo a Fundação Getúlio Vargas.

Depois seguem os gargalos estruturais, como a falta de infra-estrutura de energia, saneamento e transportes; a alta carga tributária; e a necessidade de ampliação do parque industrial, que recebeu poucos investimentos desde as crises da Ásia (1997), da Rússia (1998), da desvalorização do real (1999), do apagão (2001), da Argentina (2001) e da desconfiança internacional na época da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2002).

Finalmente, será difícil manter os mesmos níveis de crescimento nos próximos trimestres pois a base de comparação tende a ficar desfavorável após os bons indicadores recentemente divulgados.

Emprego e renda

Os bons dados da economia já começam a ter reflexos no mercado de trabalho. O desemprego caiu pelo terceiro mês seguido, segundo o IBGE, e hoje representa 11,2% da PEA (População Economicamente Ativa). A queda teria sido causada pela antecipação das contratações da indústria para as encomendas de fim de ano.

Para o economista-chefe do Banco Schahin, Cristiano Oliveira, a taxa de desemprego deve encerrar o ano com apenas um dígito. Para ele, o pico no crescimento do consumo deve ocorrer apenas no terceiro trimestre. Isso porque a recuperação dos dados de emprego dão cada vez mais confiança ao consumidor e devem incentivar a ida às compras.

O crédito facilitado com parcelas de 10 a 12 prestações também estaria estimulando o crescimento, na opinião do estrategista da Global Invest Asset Management, Paulo Gomes. O impacto da redução da Selic em 10 pontos percentuais desde o ano passado teria chegado ao consumidor somente neste segundo trimestre. "Essas reduções demoram de três a seis meses para serem percebidas pelo consumidor", afirma.

Segundo Estevão Kopschit, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a receita de crescimento neste trimestre foi o avanço da indústria. "Embora a metodologia de cálculo seja diferente, a pesquisa mensal da indústria do IBGE já indicava dados fortes deste setor", diz. Em junho, a produção cresceu 13% na comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo o IBGE.

Eleições

O resultado do PIB divulgado hoje deve dar novo fôlego para as campanhas petistas, que devem usar os dados positivos em um momento de proximidade das eleições municipais do dia 3 de outubro.

Para prolongar a maré de crescimento, o governo aposta na aprovação da nova Lei de Falências e das regras da PPP (Parceria Público-Privada) ainda neste ano. O Congresso, entretanto, dá sinais negativos e nem líderes governistas acham que será fácil aprovar a matéria antes das eleições.

Desaceleração à vista

Apesar dos resultados expressivos da economia no primeiro semestre, analistas alertam para a possibilidade de desaceleração nos próximos trimestres. O ano de 2003 foi particularmente fraco para a economia brasileira. O PIB caiu 0,2% e registrou o pior resultado desde 1992.

A base de comparação fraca tende a dar ainda mais ênfase à recuperação da atividade econômica. Mas não é só. Segundo economistas, uma desaceleração seria necessária nos próximos meses para não gerar ainda mais pressões inflacionárias. "Ninguém estima que o PIB continue a crescer cerca de 1,5% em relação ao trimestre anterior, pois esta taxa anualizada representaria um crescimento de 6%, o que é inviável agora", afirma o estrategista do BNP Paribas, Alexandre Lintz.

Na última ata, o Copom (Comitê de Política Monetária) voltou a afirmar que pode elevar os juros para conter as pressões inflacionárias. A taxa se mantém inalterada em 16% desde abril e o mercado já começa a considerar a hipótese de um aumento na Selic ainda neste ano.

Mesmo com previsões positivas para os próximos trimestres, analistas dizem que os resultados não devem voltar a surpreender. Com a recuperação consistente da economia, o país precisaria realizar grandes investimentos para manter os atuais níveis de crescimento.

Gargalo

A necessidade de investir em infra-estrutura pode criar verdadeiros gargalos no escoamento da produção. As pontes, estradas e portos do país ainda estão longe de poder suportar um forte aumento na produção, segundo analistas.

Neste ano, as exportações devem crescer cerca de 30%, o que, sem novos investimentos, levaria o país a um "apagão logístico".

Na indústria, a maioria dos setores já atua no limite de sua capacidade instalada --alguns superam os 85%-- e a recuperação deixou de ser concentrada apenas no comércio exterior. "A taxa de investimento atual ainda deixa dúvidas quanto às possibilidades de crescimento para 2005 e 2006", afirma o analista macroeconômico da Máxima Asset Management, Bernardo Mota.

Para atrair investimentos, no entanto, o país ainda precisa fixar regras claras, segundo analistas. "O marco regulatório do país ainda é fraco, não se tem garantias sobre o que irá acontecer daqui a dois anos, que dirá daqui a 30 anos", afirma o economista-chefe da consultoria Global Station, Marcelo de Ávila.

Metodologia

O PIB é a soma das riquezas produzidas por um país. É formado pela indústria, agropecuária e serviços. O PIB mostra o comportamento de uma economia. No ano passado, por exemplo, quando o Brasil atravessou uma recessão, o PIB encolheu 0,2%.

O PIB também pode ser analisado a partir do consumo, ou seja, pelo ponto de vista de quem se apropriou do que foi produzido. Nesse caso, o PIB é dividido pelo consumo das famílias, pelo consumo do governo, pelos investimentos feitos pelo governo e empresas privadas e pelas exportações.

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