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12/11/2004 - 09h15

Gestão de Meirelles é "pesadelo", diz Lessa

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ELVIRA LOBATO
da Folha de S.Paulo, no Rio

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Carlos Lessa, criticou ontem duramente o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, cuja ação classifica como um "pesadelo". Lessa identifica Meirelles como o "regente" de uma orquestra para "desmontar" o BNDES.

Anteontem, o presidente do BC culpou os créditos de aplicação obrigatória, gerenciados por BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, pelos altos "spreads" (diferença entre a taxa de captação dos bancos e a cobrada dos clientes) vigentes no país.

"Estou absolutamente convencido de que o presidente do Banco Central faz parte de uma articulação para desmontar o BNDES. Não sei se ele é o financiador da orquestra, mas ele é o regente", afirmou Lessa, em entrevista exclusiva à Folha. Procurado pela reportagem, Meirelles informou, por meio de sua assessoria, que não iria comentar as declarações do presidente do BNDES.

Lessa centrou suas críticas em Meirelles e recusou-se a fazer comentários sobre o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.

"Não duvido das boas intenções do sr. Meirelles, embora sempre me lembre do meu avô, que dizia que de boas intenções está calçado o caminho para o inferno. Tenho certeza de que ele [Meirelles], como bom brasileiro, pensa como eu e quer um país com taxa de inflação muito baixa, crescimento sustentável, um país que gere abundantes empregos qualificados e de carteira assinada, em que a arrecadação cresce e permite que se façam políticas sociais. Sei que sonha com as mesmas coisas que eu, mas acho que as coisas que ele faz são um pesadelo."

O motivo da violenta reação de Lessa foi a exposição feita por Meirelles, anteontem, no Palácio do Planalto, durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

Ele disse, para uma platéia de empresários, que os créditos direcionados (como o rural, o habitacional e os do BNDES) estão entre as três causas principais do alto custo do dinheiro, ao lado dos altos níveis de inadimplência e o risco legal de execução de garantias.

Lessa reagiu dizendo que, desde que assumiu a presidência do BNDES, não fez críticas às políticas macroeconômica e monetária, por considerar que seria inoportuno. No entanto, segundo ele, a manifestação de Meirelles abriu espaço para ele discordar "frontal e radicalmente" do diagnóstico e da argumentação do presidente do Banco Central.

Juros baixos

Para Lessa, Meirelles partiu para o ataque contra as linhas de créditos oficiais como forma de defesa, porque o BC, não tem tido resultado com sua política de estabilização convencional.

Ele lembrou que solicitou, em janeiro deste ano, a redução da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo, usada pelo BNDES em seus financiamentos) de 10% para cerca de 8%, e que o Banco Central só autorizou uma pequena redução para 9,75%. Ontem, ele voltou a defender a exclusão do coeficiente do risco Brasil do cálculo da TJLP, para diminuir o custo dos empréstimos.

"Acredito na vontade brasileira de que o amanhã será melhor do que o presente. Se eu assumir coeficiente de risco, estarei negando essa possibilidade", disse.

Segundo Lessa, o BNDES tem cerca de 400 mil contratos de empréstimos indexados à TJLP. Sua redução seria um sinal de que o governo brasileiro vê menos riscos no seu futuro.

Falta de crescimento

O BNDES, segundo Lessa, constata que as pequenas e médias empresas, que cresceram em 2003, continuam investindo em 2004, mas não são acompanhadas pelas grandes empresas, o que ele também atribui à política do presidente do Banco Central.

"Não há sinal de retomada dos investimentos nos setores voltados para o mercado interno. Ele [Meirelles] emite todos os sinais de que crescer neste momento é pecado. Talvez venha a receber o Prêmio Nobel de Economia pela teoria de que os "spreads" ultraelevados no Brasil são culpa do crédito direcionado", ironizou.

Lessa afirmou que os empréstimos ao setor rural têm dado ao país importante oxigênio na área cambial e que o setor imobiliário, graças aos financiamentos dados pela Caixa, é o que mais emprega mão-de-obra.

"Mas o vilão dos vilões, na cabeça do sr. Meirelles, é o BNDES, porque comete a suprema heresia de financiar investimentos de longo prazo que ampliam a capacidade produtiva do país. Curioso que desconheça que o verdadeiro remédio para o processo inflacionário em longo prazo é o aumento da produção", prosseguiu.

Para Lessa, o problema do crédito no Brasil é que ele praticamente inexiste. A proporção crédito/PIB (Produto Interno Bruto) no Brasil é de 24%, enquanto na Coréia e no Chile atinge, respectivamente, 100% e 160%.
Segundo ele, as taxas de juros praticadas no Brasil estão matando as empresas, aos poucos, "sem choro nem vela".

Lessa afirmou que Meirelles tem status de ministro e comanda uma instituição cuja diretoria não é eleita pelo povo, mas que determina as variáveis chaves do cotidiano do país.

"Pelo menos deve assumir a responsabilidade pelo que faz e não responsabilizar a terceiros, o que representa a meu juízo um discurso inconsistente", declarou.

Para Lessa, "Meirelles quer um país onde exista um único instrumento, a moeda, um único senhor, o Banco Central, uma perfeita horizontalidade de suas politicas, que todos paguem exatamente o mesmo juro. Este seria um país neoliberal."

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre os atritos entre Lessa e Furlan
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