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14/11/2004 - 09h46

Setor privado lucra ao suprir infra-estrutura

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SANDRA BALBI
da Folha de S.Paulo

À sombra do apagão logístico que ameaça atravancar o crescimento do país, empresas do setor privado floresceram administrando rodovias, terminais portuários e até ferrovias --segmento em que a maioria das concessionárias perdeu dinheiro nos últimos anos.

Entre 1999 e 2003, enquanto as concessionárias de rodovias acumulavam ganhos líquidos de R$ 92 milhões --descontando-se dois anos de prejuízos--, as operadoras de ferrovias amargaram prejuízo de R$ 2,29 bilhões. Mas mesmo elas estão virando o jogo.

Foi a incapacidade do Estado de sustentar investimentos na infra-estrutura do país que abriu espaço para a expansão dos negócios privados a partir de 1996, com as primeiras concessões de ferrovias e rodovias. Os recursos aportados à área de transportes pelo governo caíram de 0,8% do PIB (Produto Interno Bruto) em 1987, para menos de 0,2% no ano passado.

Empresas como Vale do Rio Doce, CCR (Companhia de Concessões Rodoviárias) e ALL (América Latina Logística) entraram nesse vazio e acumularam ganhos crescentes nos últimos anos. Ambas --CCR e ALL-- já têm ações negociadas em Bolsa.

No setor rodoviário, a CCR desponta como a maior operadora de concessões rodoviárias da América Latina. É a holding que administra a NovaDutra, a Autoban (Anhangüera-Bandeirantes), a Via Lagos (RJ) e a ponte Rio-Niterói. A CCR, que tem sob controle 1.290 quilômetros de estradas, prepara-se para se expandir.

A empresa acaba de assinar um acordo para adquirir o controle acionário da Viaoeste, que administra quatro rodovias no Estado de São Paulo, entre elas a Castelo Branco e a Raposo Tavares.

"A estratégia de crescimento da CCR é expandir os negócios por meio de participação em novas licitações, aquisição de concessionárias de rodovias existentes ou com negócios relacionados à concessão de rodovias", disse Renato Alves Vale, presidente da empresa, ao apresentar o balanço do terceiro trimestre do ano.

De janeiro a setembro deste ano, a empresa viu suas receitas aumentarem 30,7% totalizando R$ 1,14 bilhão. O lucro líquido ficou em R$ 166 milhões. "As seis rodovias federais sob concessão privada dão retorno aos acionistas", diz José Alexandre Nogueira de Resende, diretor-geral da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).

O que garante esses resultados, segundo analistas, são as receitas com pedágios. A ANTT não tem dados consolidados sobre a evolução dos preços dos pedágios nas rodovias federais durante todo o período de concessão. Entre 1996 e 2000 a tarifa que menos subiu, a da ponte Rio-Niterói teve aumento de 41,6%. A maior "mordida" ocorreu na área da Concer, que opera a BR-040 (Juiz de Fora-Petrópolis-Rio), com alta de 55,4%.

Dados da ANTT mostram que as tarifas continuaram crescendo a partir de 2001 até este ano. O menor aumento foi da CRT (35%), e o maior, da Concer (46%). Na NovaDutra, o reajuste foi de 42,2% no período.

Segundo o presidente da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), Clésio Andrade, o impacto das tarifas no custo do transporte de cargas é extremamente elevado". Em alguns casos, diz ele, quase 20% do preço do frete é consumido em pedágios.

Ferrovias

No setor ferroviário, pelo menos duas empresas estão revertendo os prejuízos do passado --a ALL e a MRS. A ALL, que opera a malha sul da antiga RFFSA (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), desde 2000 opera no azul e nos nove meses de 2004 acumulou um lucro líquido R$ 99,3 milhões. Há quatro meses, ela abriu o capital em Bolsa.

Essa operação e os lucros acumulados, segundo a empresa, permitiram reduzir seu endividamento. "Não há nenhuma definição sobre novas emissões de ações", afirma Bernardo Hees, diretor superintendente da ALL.

O diferencial da ALL foi a expansão dos negócios na área de logística para aumentar o leque de serviços aos clientes. Foi isso que a levou a arrendar os bens da Delara, empresa de logística de Curitiba, focada no transporte rodoviário. "Nesses sete anos construímos uma empresa em torno do modal ferroviário, mas agregando serviços de armazenagem, transporte rodoviário e distribuição urbana", diz Hees.

Ao longo da estrada, a empresa buscou parcerias com os clientes nos investimentos. "Nos últimos dois anos, nossos clientes investiram R$ 250 milhões em terminais e equipamentos", diz o executivo.

No mês passado, a ALL fechou um contrato com a Bunge Alimentos, para movimentar 270 milhões de toneladas de grãos a serem produzidos pela empresa, pelos próximos 23 anos. Em contrapartida, a Bunge vai colocar 4.000 vagões novos à disposição da ALL. Hoje a companhia opera com 11 mil vagões.

Já a MRS começou a reverter os prejuízos no ano passado. Neste ano já acumulou R$ 146,4 milhões de lucro até setembro, segundo o balanço divulgado na semana passada. "A empresa tem geração de caixa positiva desde o primeiro ano da concessão, mas em 97 fizemos uma captação com eurobônus, no valor de US$ 320 milhões, e, quando veio a desvalorização cambial, em 1999, sofremos o impacto da dívida", diz Júlio Fontana Neto, presidente da empresa.

O endividamento foi equacionado, com uma operação de hedge (proteção cambial), e vence no próximo ano. Desde 1997 a empresa investiu R$ 1,2 bilhão em novos vagões e locomotivas, na melhoria dos cruzamentos da via férrea e dos pátios o que lhe permitiu reduzir custos e ganhar eficiência, segundo Fontana.

"As empresas ferroviárias têm um custo fixo alto e, se não aumentarem o volume de produção, a operação não se paga", diz ele. Nos últimos anos, o crescente movimento do comércio exterior vem ajudando os negócios da MRS. A empresa é forte na área de mineração e siderurgia, setores que explodiram no mercado externo. "Cerca de 80% dos nossos negócios estão ligados à importação e exportação", diz Fontana.

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