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03/07/2000
-
10h19
FELIPE PATURY
da Folha de S. Paulo
O grupo Odebrecht desistiu da compra do controle do pólo petroquímico de Camaçari, na Bahia. A decisão, negociada com o governo, deve tirar a Copesul (Companhia Petroquímica do Sul), da qual a Odebrecht é sócia, do leilão de venda da Copene (Companhia Petroquímica do Nordeste).
Com isso, o grupo Ultra, do empresário Paulo Cunha, deve ser o único concorrente nacional a participar do leilão. A solução interessa ao governo, pois a retirada da candidatura da Odebrecht pode garantir que a Copene fique com o Ultra, um projeto prioritário do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
A renúncia da Odebrecht foi comunicada ao governo há um mês. Depois de uma negociação que se arrastou desde janeiro, o grupo baiano conseguiu ganhar do governo duas importantes compensações: o apoio oficial para reestruturar uma dívida orçada em US$ 2,1 bilhões e a promessa de que o pólo paulista de Paulínia irá sair do papel.
"Eles realmente fizeram a opção de ficar fora do pólo da Bahia e já avisaram o governo", disse o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, um dos principais adversários das pretensões do grupo Odebrecht.
Em conversas com o ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, e com dirigentes do BNDES, a direção da Odebrecht deixou claro que não faz questão da conquista de Camaçari.
Segundo eles, a idéia da disputa partiu do diretor-superintendente da Copesul, Luiz Fernando Cirne Lima. Foi endossada pela Odebrecht porque o grupo queria um tratamento igual ao concedido às empresas de Paulo Cunha.
A prioridade do grupo, no entanto, é a reestruturação da sua dívida. A Odebrecht viu seu passivo explodir em janeiro de 1999, quando a desvalorização do real catapultou boa parte de seus débitos, indexados à variação cambial. Desde então, o grupo tenta encontrar uma saída para o problema, que atinge a maior parte de suas débitos.
Hoje, US$ 1,5 bilhão dos US$ 2,1 bilhões devidos pela Odebrecht é decorrente de investimentos em petroquímica. O governo detém aproximadamente 30% desses créditos, concentrados em sua maior parte no BNDES.
O governo temia que o grupo se endividasse ainda mais para estender seus domínios até a Bahia. Segundo a Folha apurou, o governo acreditava que o grupo baiano não tinha capacidade para investir na modernização de Camaçari, que precisa de uma injeção estimada em US$ 500 milhões.
O temor era ainda maior porque havia a suspeita de que a Odebrecht poderia transferir Camaçari para estrangeiros, o que atrapalharia os planos do BNDES de manter o setor petroquímico nacional. Nesse caso, o pior cenário era a compra de Camaçari pela Dow Chemical, que poderia usar o pólo baiano apenas para complementar a produção de seu pólo argentino de Baía Blanca.
A tese assustava principalmente o grupo liderado por Antonio Carlos Magalhães. Com o ministro de Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, e o governador César Borges, o senador ajudou o governo a pressionar Emílio Odebrecht a desistir de suas pretensões em relação à Copene.
Divisão
No BNDES, a eventual posse de Camaçari pelo grupo Odebrecht era encarada como uma tentativa de monopólio. Há dois anos, o banco oficial elaborou um plano estratégico para o setor petroquímico, que foi dividido em três partes por regiões do país.
No Sul, a Copesul é dividida pela Odebrecht e pelo grupo Ipiranga. O grupo baiano também tem 30% do pólo de Paulínia, que será construído em sociedade com a Petrobras. Por isso, a tentativa de comprar também a Copene é encarada com medo pelo BNDES, que quer que cada pólo tenha um dono diferente.
Apesar de ter sinalizado que pretendia primeiro resolver seu endividamento, a Odebrecht só renunciou a Camaçari quando o governo ressuscitou a construção de Paulínia, um projeto orçado em aproximadamente US$ 400 milhões.
O domínio do pólo paulista faz parte da estratégia da Odebrecht, que quer centrar seus investimentos no Sul e Sudeste, onde está a maior parte dos consumidores de insumos petroquímicos.
A Folha apurou que o grupo baiano considera o projeto prioritário e acha que tem o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso para suas pretensões desde a gestão do ex-ministro de Minas e Energia Raimundo Brito.
Na última semana, em reunião no Rio, a Petrobras e o grupo Odebrecht deram o primeiro passo para colocar Paulínia no mapa petroquímico nacional.
Decidiram tirar do papel a área de Polipropileno. Ainda assim, a nova planta não chega a atingir nem sequer 10% do total de investimento previsto.
Procurada pela reportagem da Folha, a Odebrecht preferiu não se manifestar sobre o assunto. Oficialmente, a Copesul informou que continua interessada na venda da Copene.
Leia também:
Disputa pela Copene vem desde o final do ano passado
Clique aqui para ler mais sobre economia na Folha Online
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Odebrecht deve sair do leilão da Copene
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da Folha de S. Paulo
O grupo Odebrecht desistiu da compra do controle do pólo petroquímico de Camaçari, na Bahia. A decisão, negociada com o governo, deve tirar a Copesul (Companhia Petroquímica do Sul), da qual a Odebrecht é sócia, do leilão de venda da Copene (Companhia Petroquímica do Nordeste).
Com isso, o grupo Ultra, do empresário Paulo Cunha, deve ser o único concorrente nacional a participar do leilão. A solução interessa ao governo, pois a retirada da candidatura da Odebrecht pode garantir que a Copene fique com o Ultra, um projeto prioritário do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
A renúncia da Odebrecht foi comunicada ao governo há um mês. Depois de uma negociação que se arrastou desde janeiro, o grupo baiano conseguiu ganhar do governo duas importantes compensações: o apoio oficial para reestruturar uma dívida orçada em US$ 2,1 bilhões e a promessa de que o pólo paulista de Paulínia irá sair do papel.
"Eles realmente fizeram a opção de ficar fora do pólo da Bahia e já avisaram o governo", disse o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, um dos principais adversários das pretensões do grupo Odebrecht.
Em conversas com o ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, e com dirigentes do BNDES, a direção da Odebrecht deixou claro que não faz questão da conquista de Camaçari.
Segundo eles, a idéia da disputa partiu do diretor-superintendente da Copesul, Luiz Fernando Cirne Lima. Foi endossada pela Odebrecht porque o grupo queria um tratamento igual ao concedido às empresas de Paulo Cunha.
A prioridade do grupo, no entanto, é a reestruturação da sua dívida. A Odebrecht viu seu passivo explodir em janeiro de 1999, quando a desvalorização do real catapultou boa parte de seus débitos, indexados à variação cambial. Desde então, o grupo tenta encontrar uma saída para o problema, que atinge a maior parte de suas débitos.
Hoje, US$ 1,5 bilhão dos US$ 2,1 bilhões devidos pela Odebrecht é decorrente de investimentos em petroquímica. O governo detém aproximadamente 30% desses créditos, concentrados em sua maior parte no BNDES.
O governo temia que o grupo se endividasse ainda mais para estender seus domínios até a Bahia. Segundo a Folha apurou, o governo acreditava que o grupo baiano não tinha capacidade para investir na modernização de Camaçari, que precisa de uma injeção estimada em US$ 500 milhões.
O temor era ainda maior porque havia a suspeita de que a Odebrecht poderia transferir Camaçari para estrangeiros, o que atrapalharia os planos do BNDES de manter o setor petroquímico nacional. Nesse caso, o pior cenário era a compra de Camaçari pela Dow Chemical, que poderia usar o pólo baiano apenas para complementar a produção de seu pólo argentino de Baía Blanca.
A tese assustava principalmente o grupo liderado por Antonio Carlos Magalhães. Com o ministro de Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, e o governador César Borges, o senador ajudou o governo a pressionar Emílio Odebrecht a desistir de suas pretensões em relação à Copene.
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No BNDES, a eventual posse de Camaçari pelo grupo Odebrecht era encarada como uma tentativa de monopólio. Há dois anos, o banco oficial elaborou um plano estratégico para o setor petroquímico, que foi dividido em três partes por regiões do país.
No Sul, a Copesul é dividida pela Odebrecht e pelo grupo Ipiranga. O grupo baiano também tem 30% do pólo de Paulínia, que será construído em sociedade com a Petrobras. Por isso, a tentativa de comprar também a Copene é encarada com medo pelo BNDES, que quer que cada pólo tenha um dono diferente.
Apesar de ter sinalizado que pretendia primeiro resolver seu endividamento, a Odebrecht só renunciou a Camaçari quando o governo ressuscitou a construção de Paulínia, um projeto orçado em aproximadamente US$ 400 milhões.
O domínio do pólo paulista faz parte da estratégia da Odebrecht, que quer centrar seus investimentos no Sul e Sudeste, onde está a maior parte dos consumidores de insumos petroquímicos.
A Folha apurou que o grupo baiano considera o projeto prioritário e acha que tem o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso para suas pretensões desde a gestão do ex-ministro de Minas e Energia Raimundo Brito.
Na última semana, em reunião no Rio, a Petrobras e o grupo Odebrecht deram o primeiro passo para colocar Paulínia no mapa petroquímico nacional.
Decidiram tirar do papel a área de Polipropileno. Ainda assim, a nova planta não chega a atingir nem sequer 10% do total de investimento previsto.
Procurada pela reportagem da Folha, a Odebrecht preferiu não se manifestar sobre o assunto. Oficialmente, a Copesul informou que continua interessada na venda da Copene.
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