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23/01/2005 - 09h35

Serviços superiores moldam futuro paulistano

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PAULA LEITE
Da Folha de S.Paulo

Aos 451 anos, São Paulo começa um novo ciclo econômico, fortalecendo os chamados "serviços superiores". Cada vez mais a cidade se especializa e oferece ao país e mesmo a países vizinhos serviços de ponta nos setores financeiro, de seguros, imobiliário, de consultoria e publicitário, que demandam mão-de-obra altamente qualificada.

Esses trabalhadores muito qualificados, por sua vez, demandam outros serviços, como cultura, saúde, educação, consumo de luxo e alta gastronomia, que também tendem a se expandir e atrair consumidores "estrangeiros".

Assim como uma parte da indústria migrou para o interior em busca de terrenos e trabalhadores mais baratos, parte do setor de serviços pode seguir o mesmo caminho num futuro próximo, principalmente com a ajuda da tecnologia, segundo Ciro Biderman, professor de economia da FGV-SP. Mas os serviços mais especializados devem ficar.
"Acho difícil os serviços superiores migrarem para o interior. A mão-de-obra de ponta continua na capital", diz Biderman.

Mesmo que, em algumas cidades, exista a formação de profissionais especializados de uma área, só em São Paulo é possível encontrar pessoas preparadas em todas as áreas, segundo ele. "Não há escala para ter uma USP [como a da capital], por exemplo, no interior", diz o economista.

A consolidação dos serviços superiores na cidade também leva a mudanças na indústria. Antes, muitos serviços existiam a reboque da indústria; hoje, há indústrias que não sairão de São Paulo porque produzem para o setor de serviços, diz Biderman, caso das gráficas, por exemplo.

O professor da FGV prevê que a cidade perderá um pouco da sua população e terá diminuição no total de empregos nos próximos anos. "Mas serviços como restaurantes, teatros, cinemas e publicidade devem se expandir", afirma.

Os serviços e o comércio já são os principais empregadores na cidade de São Paulo. "A cultura, os eventos e as feiras ocupam o espaço da indústria", segundo Nabil Bonduki, ex-vereador do PT e professor de Planejamento Urbano na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.

São Paulo passou por um brutal processo de transformação a partir dos anos 1950, diz Claudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp. "A situação se alterou, São Paulo foi ganhando importância nos serviços, tanto para a indústria como serviços financeiros", diz. Para Bonduki, as avenidas Luiz Carlos Berrini e Faria Lima são símbolos desse setor terciário avançado.

Crescimento sustentado

O crescimento da cidade baseado nos serviços é sustentável, avalia Tamás Szmrecsányi, professor do Instituto de Geociências da Unicamp. Ele acha que a cidade deveria desenvolver os segmentos de educação e saúde, mas alerta que o crescimento do setor depende do crescimento do país.

Para os especialistas, porém, a indústria não vai desaparecer totalmente da cidade. "São Paulo ainda tem muitos empregos industriais", diz Bonduki. O que mudou, segundo ele, é o padrão da indústria: fábricas menores em vez de grandes plantas.

Szmrecsányi lembra que a área metropolitana de São Paulo ainda é a maior concentração industrial do país. "Só muito recentemente São Paulo começou a perder participação na indústria nacional."

Problemas urbanos

As mudanças econômicas da cidade trouxeram também efeitos que todos conhecem, como o aumento dos congestionamentos e a multiplicação das favelas e loteamentos clandestinos.

Para Claudio Dedecca, a precariedade crescente do emprego se reproduz de modo mais acentuado nos municípios da Grande São Paulo, que sofreram mais com a saída das indústrias.

Ele diz também que essa precariedade aumenta a circulação de pessoas pela cidade. "Não há regularidade nos locais e horários de trabalho", diz. Além disso, antigamente, quando ficava-se muito tempo na mesma empresa, podia-se morar perto do trabalho.

Depois da industrialização, São Paulo teve dois movimentos de crescimento, segundo Nabil Bonduki: no centro, houve crescimento vertical, enquanto nas bordas a cidade crescia horizontalmente, já que a habitação nos bairros centrais ficava cada vez mais cara. Há também grande expansão das favelas a partir dos anos 1970.

Hoje, segundo Bonduki, a cidade é polarizada, com áreas concentradoras de renda e periferias sem empregos. "Em grande parte da cidade, como a Zona Leste, é importante haver políticas de desenvolvimento econômico", diz.

Conseguir ao menos reduzir essas grandes disparidades em meio a tanta riqueza é o maior desafio para a cidade aniversariante, afirmam os especialistas.

Especial
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