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02/02/2005 - 09h10

Juros já desaceleram indústria, diz CNI

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GUILHERME BARROS
da Folha de S.Paulo

A indústria brasileira já começou a sentir os efeitos da política de alta de juros do Banco Central. Os estoques das empresas industriais estão acima do planejado e a utilização da capacidade instalada parou de crescer no final do ano passado. Os dados constam da sondagem industrial do 4º trimestre de 2004, que será divulgada hoje pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).

O índice de acumulação de estoque das grandes empresas subiu de 51,5 pontos no terceiro trimestre do ano passado para 53,8 pontos no quarto trimestre. Já a utilização da capacidade instalada das grandes empresas no quarto trimestre se manteve estacionada nos mesmos 83% do terceiro trimestre, quando deveria crescer no último trimestre do ano.

O economista Renato da Fonseca, coordenador da unidade de pesquisas da CNI, recebeu esses dados com surpresa. Segundo ele, a sondagem industrial mostra claramente uma redução do ritmo de crescimento, principalmente das grandes empresas industriais. "Os números já começam a refletir o aperto da política monetária do Banco Central", diz Fonseca.

O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, diz que não tem dúvidas do desaquecimento da economia neste ano, em decorrência da política do governo de juros altos e câmbio baixo. O dado de estoque da sondagem industrial da CNI, segundo ele, foi apenas o primeiro a apontar a desaceleração da indústria. "Se a política econômica não mudar, assistiremos neste ano resultados muito mais modestos do que poderíamos ter", diz Skaf.

O grande problema, segundo Skaf, é que a política de juros altos do BC para conter a inflação irá inibir os investimentos, retrair o consumo, afetar o saldo da balança comercial, mas terá pouco efeito sobre os preços.

Para Skaf, o principal foco de aumento da inflação são os preços administrados, que não sofrem influência da desaceleração da economia. O próprio Banco Central, de acordo com Skaf, já admitiu que os preços administrados vão subir 6,7% neste ano, bem acima da meta de inflação de 5,1%. "Os juros não interferem nos preços administrados", diz o presidente da Fiesp.

Para o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o fato de o estoque da indústria ter encerrado dezembro acima do esperado é sinal de que vai haver um ajuste na produção em algum momento no início de 2005.

A grande preocupação de Gomes de Almeida é que os setores empregadores foram os que apresentaram estoque mais alto no final do ano passado. De acordo com a sondagem industrial da CNI do 4º trimestre de 2004, os setores que mais acumularam estoque foram os seguintes : couros e peles, vestuário e calçados, têxtil e papel e papelão.

O desaquecimento da economia ainda não atingiu as pequenas e médias empresas com a mesma intensidade das grandes. O índice de estoque das pequenas e médias empresas, de acordo com a CNI, subiu de 48,6 pontos no terceiro trimestre para 50 pontos no quarto. Acima de 50 pontos significa que o indicador está acima do esperado.

O índice de capacidade instalada das pequenas e médias apresentou uma pequena alta no quarto trimestre em relação ao terceiro: de 73% para 74%, um pequeno aumento, mas o suficiente para registrar o recorde histórico da pesquisa.

Os dados de estoque e de utilização da capacidade instaladas são considerados os principais termômetros da economia para antecipar os dados de produção da indústria. Na semana que vem, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) irá divulgar a produção de dezembro. Todas as apostas eram de que o indicador ainda seria bastante positivo. Agora, diante dos resultados da sondagem da CNI, é possível, segundo Renato da Fonseca, que os números do IBGE, que já mostravam "acomodação" da indústria, mostre também algum sinal de desaquecimento.

Todos os outros dados captados pela sondagem da CNI vão nessa direção. O índice de confiança do empresário industrial caiu de 68,4 pontos em outubro para 66,4 em novembro. Acima de 50 pontos reflete confiança.

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