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04/02/2005 - 09h28

Governo vê como certa saída de diretor do BC

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LEONARDO SOUZA
KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Apesar das negativas de praxe, a equipe econômica já dá como certa a saída do diretor de Política Econômica do Banco Central, Afonso Sant'ana Bevilaqua. Não há data para o desligamento porque Bevilaqua, mesmo contrariado, tem dito a interlocutores que não pedirá demissão. Quer que o ônus de tirá-lo seja do ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.

Segundo a Folha apurou, o diretor do BC está cansado de ser acusado de suposto "mentor do mal" na condução da política monetária.

Ele avalia que os petardos partem da própria equipe econômica, especificamente de auxiliares de Palocci. Na Fazenda, atribui-se a ele a idealização de uma extrema e desnecessária elevação da taxa básica de juros da economia (Selic). Depois de cinco elevações consecutivas, a taxa está hoje em 18,25% ao ano.

A troca de Bevilaqua serviria também para poupar o próprio presidente do BC, Henrique Meirelles. Seria uma forma de frear a intensidade da política monetária e, ao mesmo tempo, desviar o foco de Meirelles. O governo já procura nomes para substituir Bevilaqua. Nos últimos dias, foi sondado um executivo de um banco de investimentos cujo capital é originariamente brasileiro.

O economista Paulo Leme, do banco de investimentos Goldman Sachs, também foi sondado para uma diretoria no BC, não necessariamente para a posição de Bevilaqua. Leme nega publicamente o convite. Palocci tem o aval de Lula para promover as trocas.

Insatisfação com Meirelles

Nos bastidores, Palocci e auxiliares demonstram insatisfação com o próprio Meirelles, a quem teria faltado pulso firme para enquadrar Bevilaqua e outros diretores do BC vistos como radicais no conservadorismo monetário.

Também desagradaram a Palocci as movimentações políticas de Meirelles, que deseja se filiar a um partido e eventualmente disputar o governo de Goiás em 2006. Meirelles negocia com o PTB. Em Davos, Suíça, na semana passada, ele negou timidamente esse desejo. Para Palocci, isso provoca marolas políticas que atrapalham a condução da economia.

Um membro da cúpula da equipe econômica disse à Folha, pedindo sigilo, que Bevilaqua não esconde mais o incômodo de permanecer no BC. Apesar de falar que não pedirá demissão, tem afirmado reservadamente que não demorará a deixar a instituição. O integrante da equipe econômica disse que ninguém agüenta muito tempo ser saco de pancadas no governo.

Não são de hoje os atritos de Bevilaqua com os secretários Joaquim Levy (Tesouro) e Marcos Lisboa (Política Econômica). Para Levy, a alta de juros no nível em que tem sido aplicada é desnecessária e dificulta todo o trabalho que o Tesouro tem feito para diminuir o endividamento público. A relação entre a dívida, que sobe com a alta dos juros, e o tamanho da economia é um dos principais indicadores de vulnerabilidade externa de um país. Lisboa também não concorda com a dosagem dos juros aplicada pelo BC.

Na cúpula do governo, diz-se que o erro não é de remédio, mas de dosagem. A Selic sobe desde setembro, e o BC sinaliza que pretende elevá-la ainda mais e deixá-la em patamar alto por período prolongado. O Brasil já é o campeão mundial de juros altos.

Com a saída de Luiz Augusto Candiota, em julho do ano passado, Bevilaqua ocupou interinamente por alguns meses a diretoria de Política Monetária.

Foi principalmente nesse período que os atritos entre a Fazenda e o BC se intensificaram.

Opinião internacional

A política de juros altos do BC tem chamado a atenção de economistas de diversos matizes e origens. Em Davos (Suíça), o economista norte-americano Jeffrey Sachs disse à Folha temer que aconteça no Brasil o que presenciou em outras economias em desenvolvimento, quando uma política monetária extremamente conservadora "interrompeu prematuramente" um ciclo de recuperação econômica.

"Eu não quero julgar, estou apenas observando. Eu diria, contudo, que ficaria cauteloso porque já vi outras economias interromper prematuramente um período de crescimento e eu não gostaria de ver isso acontecer com o Brasil", afirmou Sachs.

Especial
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