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05/02/2005 - 09h32

Lula convoca empresários que elevam preço

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KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) elaboraram uma lista de empresários que, segundo avaliam, estão exagerando na remarcação de preços neste início de ano para se reunir com eles e pedir moderação. A Folha apurou que Lula determinou a Palocci que marcasse as conversas.

O pontapé inicial foi dado ontem, quando Lula recebeu em audiência o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf. O presidente foi direto ao ponto: reclamou de reajustes de preços. Em troca, ouviu novas críticas à taxa de juros. Os empresários reclamam ainda do alto custo tributário, que eleva seus gastos.

Em entrevista no Palácio do Planalto, após o encontro, Skaf afirmou que não conversou com Lula sobre reajuste de preços. Como Lula o convidou para retornar a São Paulo no avião presidencial, outros temas poderiam ser discutidos no trajeto.

As conversas de Lula fazem parte da ameaça do governo de baixar alíquotas de importação de alguns setores da economia para forçar uma queda no preço final das mercadorias. São movimentos para tentar diminuir as pressões inflacionárias e, por conseqüência, a necessidade de elevar os juros ainda mais para conter o consumo e tentar aproximar as expectativas de inflação da meta do governo.

A idéia de Lula é estabelecer acordos setoriais. O governo avalia ser muito difícil promover um amplo choque de importações. No máximo, poderia haver abertura em alguns setores cujas remarcações de preços têm forte efeito sobre cadeias produtivas. Exemplos: aço, produção de álcool combustível e cimento.

Um membro da cúpula do governo disse à Folha que um acordo com o setor de aço seria possível, pois a China aumentou a demanda pelo produto e elevou muito a lucratividade do setor. O Grupo Gerdau, por exemplo, consta da lista de Palocci.

Nas conversas, Lula não pretende ter uma atitude agressiva, com ameaças na linha "ou baixa o preço ou diminuo as alíquotas".

Mesmo uma abertura pontual é indesejada pelo governo. A cúpula do governo avalia que não haveria condição política de adotar tal medida devido à alta carga tributária e às recentes elevações dos juros. Os empresários argumentam que parte do reajuste de preços é fruto justamente da elevação da carga tributária e do custo do capital (juros). Ou seja, parte da culpa é do governo.

Não é intenção de Lula criar um clima ruim com o empresariado nacional. Ele disse isso ontem a Skaf, a quem pediu ajuda. O presidente avalia que uma eventual guerra com o empresariado seria prejudicial às mensagens de otimismo que busca passar em seus discursos públicos e poderia minar, por exemplo, entendimentos futuros para as PPPs (Parcerias Público-Privadas).

Ao ter conversas setoriais, Lula pretende ainda tirar um pouco de cena as pressões contra as recentes elevações da taxa básica de juros da economia, a Selic. Hoje, a taxa está em 18,25% ao ano, após cinco meses seguidos de alta.

Lula e Palocci planejam dizer aos empresários que, ao remarcar preços, eles contribuem para dar força a um círculo vicioso, levando o governo a ser mais rigoroso na política monetária a fim de combater pressões inflacionárias.

Devido à formação de líder sindical, Lula gosta da idéia de acordos por setor. O presidente avalia que a resposta dos empresários, ainda que parcial, será melhor do que nada. Ele está preocupado com a sustentabilidade do crescimento da economia.

Ao procurar empresários, Lula sinaliza para o Banco Central que também faz pressão política sobre eles e não apenas sobre os diretores da instituição que formam o Copom (Comitê de Política Monetária). O Copom se reúne mensalmente para fixar os juros.

A ata da reunião de janeiro do Copom prometeu nova elevação da Selic em fevereiro e provavelmente em março, além da manutenção da taxa em patamar elevado por um longo período, o que desagradou o presidente.

Palocci traduziu a ata para Lula: eventual queda dos juros agora só a partir de setembro ou outubro.

Lula tinha ouvido de Palocci no ano passado que a retomada da trajetória de queda da Selic aconteceria a partir de março. Hoje, isso é sonho de verão.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o reajuste nos preços
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