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13/02/2005 - 09h04

CUT e academia criam caravana antiortodoxa

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MARCELO BILLI
Da Folha de S.Paulo

A CUT (Central Única dos Trabalhadores), juntamente com o Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e outros centros de economia do país, começa ainda neste semestre uma espécie de "caravana" contra a política econômica adotada pelo governo.

A idéia é reunir acadêmicos, empresários e lideranças sociais para discutir alternativas para a política econômica e tentar apresentá-las em forma de propostas ao governo. O primeiro seminário discutirá o tema que mais desconcerta os sindicalistas: a política salarial. Ainda em março, planejam sindicalistas e acadêmicos, um primeiro encontro deverá discutir a política de salário mínimo.

Salários

Mesmo na CUT, central mais próxima do atual governo, o descontentamento com a política adotada pela equipe econômica é grande. Incomodam o aumento concedido ao salário mínimo, menor do que o que seria possível, na avaliação dos sindicalistas, e o "conservadorismo excessivo" da equipe econômica. Não à toa o tema do primeiro seminário será justamente a discussão de políticas para o salário mínimo.

Ainda neste semestre um novo seminário discutiria o "controle da política econômica", em que se debateriam formas de participação social nas decisões tomadas pela equipe econômica, principalmente no caso da política monetária. Nesse caso, incomoda o que chamam de excessivo zelo do Banco Central, que, na opinião de acadêmicos, sindicalistas e alguns empresários, parece estar disposto a sacrificar o crescimento econômico para atingir uma meta de inflação ainda muito baixa, dada a conjuntura econômica atual.

Pelo Brasil

No segundo semestre, o projeto prevê encontros regionais e, dependendo da arrecadação de fundos, uma divulgação grande das discussões e consensos atingidos nos seminários. A depender do que ocorra até lá, os planos incluem até divulgação por meio de rádio e TV. A idéia é levar a discussão da política econômica a todas as regiões e envolver não apenas economistas e tecnocratas mas também trabalhadores, empresários e representantes dos movimentos sociais.

No campo da política macroeconômica, a última tentativa de mudança articulada de trabalhadores e empresários foi a proposta, no segundo semestre do ano passado, de formação de um pacto social, em que trabalhadores, empresários e governo cederiam em alguns pontos para conseguir conter a inflação e evitar mais elevações das taxas de juros.

À época, a proposta foi bombardeada pelo ministro Antonio Palocci (Fazenda) e posteriormente abandonada pela CUT (que a havia feito) e pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que a encampara.

Juros e câmbio

São duas as principais preocupações de empresários, trabalhadores e acadêmicos que avaliam que a política do governo precisa sofrer mudanças: as políticas monetária e cambial.

Por um lado, o receio é que o governo, mais precisamente o Banco Central, está sendo pouco flexível na hora de decidir o nível da taxa de juros. Para cumprir a meta de inflação, o país está pagando com menos crescimento e aumento na dívida pública, preço que poderia ser evitado se o BC agisse com um pouco mais de flexibilidade, avaliam os que querem mudanças. Nesse caso, ser flexível significaria admitir que, na atual conjuntura, não há condições de cumprir a meta de inflação sem comprometer o crescimento e o emprego e que, portanto, conviria adotar nova meta.

A alta do real em relação ao dólar é a outra preocupação. Empresários e analistas receiam que ela possa acabar comprometendo as exportações e, pior, fazer ruir parte do esforço que, desde 1999, com a desvalorização do real, ajudou a economia brasileira a ajustar suas contas externas.

O ministro Palocci argumenta que a melhor resposta às críticas são os números da economia em 2004, quando o crescimento girou em torno de 5%. Os críticos não escondem os bons resultados do ano. Mas dizem se preocupar com dois problemas que continuam sem solução: a incerteza e a vulnerabilidade que ainda rondam a economia brasileira.

Por um lado, câmbio em alta pode prejudicar as exportações, aumentando a vulnerabilidade externa. Juros em alta reduzem o crescimento e fazem crescer a dívida e, por conta disso, também aumentam a vulnerabilidade. O conjunto da política econômica, dizem, torna incerto o futuro da economia brasileira e, conseqüentemente, inibe investimentos dos quais o país necessita.

O Brasil, dizem os opositores que agora se articulam para discutir alternativas à política econômica, continua muito vulnerável a crises externas, e as medidas adotadas pelo governo têm feito pouco para mudar o quadro.

O receio dos opositores é que a economia do país não resista a uma piora do cenário internacional, algo, dizem, que ocorrerá cedo ou tarde e que pode abortar a rota de crescimento atual. É para esse cenário, afirmam, que o governo não está preparado.

Especial
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