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18/02/2005 - 09h20

Agora é Berzoini que ataca política econômica

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LEONARDO SOUZA
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A política de juros altos e câmbio sobrevalorizado pode prejudicar o projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na avaliação do ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini.

"O desempenho do governo na área econômica, estou falando também de mercado de trabalho, é decisivo para o resultado eleitoral de 2006.

[...] Se houver o prosseguimento de juros altos e real apreciado por um longo prazo, evidentemente vamos ter uma mudança nas expectativas econômicas", disse ele.

Em sua opinião, a política de contínua elevação da taxa básica (Selic), reafirmada nesta semana com nova alta de 0,5 ponto percentual, pode reacender as dúvidas do mercado financeiro quanto à capacidade do governo de honrar a dívida pública, o que aumentaria a vulnerabilidade externa do Brasil.

Para Berzoini, a cada mês fica mais difícil para o governo ter o apoio da bancada do PT no Congresso para aprovar a autonomia operacional do Banco Central, defendia pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. "Nós temos de questionar se uma política monetária tão rígida não pode acabar causando o efeito contrário daquilo que se pretende", afirmou Berzoini.

O ministro do Trabalho é mais um integrante do alto escalão do governo a criticar abertamente a atuação do Banco Central. A lista inclui o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo no Senado.

Leia a seguir entrevista que Berzoini concedeu ontem à Folha, em seu gabinete.




Folha - A derrota do candidato governista à Presidência da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), ameaça a reeleição do presidente Lula em 2006, como tem dito a oposição?
Ricardo Berzoini
- A oposição está no direito dela, de fazer a avaliação de um resultado. Os agentes políticos adaptam suas avaliações às suas estratégias políticas. Eles querem transformar o que aconteceu na Câmara, que é um fato político importante, num fato de relevância para a sociedade, como uma crise de governo. Não é a avaliação que nós estamos fazendo.

Folha - O que vai definir a eleição em 2006?
Berzoini
- O desempenho do governo na área econômica, e estou falando também de mercado de trabalho, é decisivo para o resultado eleitoral de 2006. A situação do Brasil se modifica fundamentalmente pelo mercado de trabalho. Os anos do governo [do ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso foram de elevação do nível de desemprego no país. Nós conseguimos inverter essa tendência, geramos 1,5 milhão de empregos com carteira assinada no ano passado, um recorde histórico. A partir de 2004, nós temos uma situação do mercado de trabalho muito mais favorável para os trabalhadores. Prosseguir com essa dinâmica é essencial para chegar a 2006 com um clima muito favorável à reeleição do presidente Lula.

Folha - O forte crescimento em 2004 foi obtido a partir de base fraca de comparação (estagnação em 2003). Além disso, os juros estão em alta há seis meses, e o dólar não pára de cair diante do real. O cenário de 2006 não pode ficar comprometido?
Berzoini
- Pode, claro. Se houver o prosseguimento de juros altos e real apreciado por um longo prazo, evidentemente vamos ter uma mudança das expectativas econômicas. O ambiente econômico e o humor da população em 2006 será formado, de certo modo, muito a partir do que acontecer em 2005. Como o câmbio não produz resultados imediatos, se a dose estiver mal mensurada, esse efeito vai se dar no médio prazo. Como estamos em 2005, seria em 2006.

Folha - Foi um erro ter definido meta de inflação tão apertada para este ano, de 4,5%, depois revista pelo BC para 5,1%?
Berzoini
- O erro ou é esse ou é levar em consideração uma inflação que inclui preços administrados. Talvez fosse o caso de fazer a meta de inflação baseada num conjunto de variáveis que não incluísse preços administrados [como tarifas de telefonia e energia elétrica].

Folha - Sua carreira política foi feita no sindicalismo bancário. É difícil ser ministro do Trabalho do PT e ter de conviver com uma política monetária tão contracionista?
Berzoini
- Nunca fui de estabelecer premissas ou propostas a partir de voluntarismos. Mas acredito que hoje, para qualquer pessoa que analise o impacto dos juros sobre o estoque da dívida pública, nós temos de questionar se uma política monetária tão rígida não pode acabar causando o efeito contrário daquilo que se pretende. Pode causar maior preocupação com a sustentabilidade da dívida, aumentando, portanto, as avaliações de risco e, simultaneamente, causando no mercado financeiro expectativas negativas em relação à dívida brasileira.

Se nós queremos migrar para uma economia saudável, precisamos necessariamente focar o nosso futuro na redução da relação dívida/PIB [Produto Interno Bruto], mesmo que isso signifique meta de inflação um pouco menos apertada.

Folha - Qual a reação de seus colegas petistas no Congresso a essa política monetária de juros cada vez mais altos?
Berzoini
- Há maturidade entre a maioria da militância para compreender o papel do BC. No entanto, quando o BC adota uma política monetária muito rígida, evidentemente isso acaba fortalecendo aqueles que fazem avaliação contrária, de que o BC teria de ser mais um instrumento de política de governo.

Folha - Ou seja, do jeito que caminha a política monetária, fica mais difícil o apoio do partido ao projeto de autonomia operacional do BC?
Berzoini
- Dificulta, com certeza, uma revisão da relação institucional do Banco Central com o Poder Executivo.

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